quinta-feira, 19 de abril de 2018

Knobel faz balanço do primeiro ano de gestão, Unicamp



Reitor fala sobre o esforço para a retomada do equilíbrio financeiro



Foto: Scarpa
Rep
O reitor Marcelo Knobel  completa hoje (19) um ano à frente da Unicamp. Na entrevista a seguir, o físico faz um balanço do primeiro ano de sua gestão, marcada, segundo ele, pela reestruturação de diversas áreas da Universidade, entre as quais a financeira e a administrativa. “Gostaria que esse período fosse lembrado como o primeiro ano de recuperação do equilíbrio financeiro da Universidade”, afirma Knobel, cuja maior surpresa no início do mandato foi constatar o excesso de poder concentrado na figura de um reitor.
Knobel relaciona e historia as medidas adotadas para enfrentar a crise, revela suas primeiras impressões ao assumir o cargo – da agenda carregada ao déficit subdimensionado –, enfatiza o esforço para difundir o alcance e a importância da Unicamp na sociedade, e fala sobre as ações nos campos étnico-raciais, da diversidade e dos direitos humanos. 

Portal da Unicamp – As fake news marcaram a consulta à comunidade. Como o sr. lidou com os boatos no início e ao longo deste primeiro ano de gestão?
Marcelo Knobel – As fake news são um fenômeno relacionado com o nosso mundo atual, com as mídias sociais, e que tem a ver com a facilidade de transmitir informações que nem sempre podem ser verificadas.
Convivemos com isso na Unicamp de uma maneira muito forte durante a campanha, na qual diziam que, assim que assumíssemos, iríamos privatizar a Universidade, acabar com a creche, demitir dois mil funcionários, além de uma série de outros boatos que, naturalmente, não se confirmaram e nem se confirmarão.

Portal – Os boatos perduram?
Marcelo Knobel – Infelizmente, temos de lidar com isso. A única maneira de enfrentá-los, de maneira efetiva, é fazendo uma comunicação transparente e franca. Estamos aprimorando nossos esforços nessa área, trabalhando com a perspectiva de uma comunicação muito mais aberta e ampla. Considero importante discutir todas as questões, dúvidas e problemas no momento em que aparecem. Muitas pessoas não estão familiarizadas com essa prática – acham que estamos mentindo, escondendo dados. Muitas vezes, não mostramos dados porque, de fato, não sabemos, e não porque não queremos divulgá-los. Temos de modificar uma cultura arraigada na Universidade, aprimorando, inclusive, nossos próprios sistemas. Essa busca não é só uma escolha minha; vejo-a como resultado dos tempos atuais. A sociedade precisa e deve participar dessas decisões.

Portal – Quais foram suas primeiras impressões assim que assumiu?
Marcelo Knobel – O começo foi um choque, em vários sentidos. A questão da agenda, por exemplo, já causa impacto. No caso de um reitor, ela é sempre difícil e complicada, já que compreende aspectos internos, representações e contatos internacionais, mais a articulação com governos e diversas universidades e institutos de pesquisa.
Mas, para além disso, pelo nosso próprio sistema de consulta [para escolha do reitor] e governança, não faria o mínimo sentido eu mudar minha maneira de ser depois de passar seis meses conversando com as pessoas [durante a campanha]. Pelo contrário, eu assumi e faço questão de ouvir e atender qualquer pessoa que me procure. Essa demanda é muito forte.
Houve também – e há – uma movimentação natural de início de mandato, relacionada à criação e reestruturação de diversos órgãos e à mobilização de funcionários, o que não é simples por envolver a vida de pessoas.
E, por último, algo que realmente me chocou – talvez por ignorância – foi a constatação do excesso de poder que detém um reitor.

Portal – O sr. poderia exemplificar?
Marcelo Knobel – Às vezes, em razão do cargo que ocupo, tenho de exercer o papel de juiz – seja em casos que envolvem resultados de sindicância até em outras situações que acontecem na Universidade. Estamos tentando, aos poucos, mudar esse quadro. Trata-se de uma responsabilidade grande que foi – e ainda é – difícil de assimilar.

Portal – E na esfera financeira? O que revelavam os primeiros diagnósticos?
Marcelo Knobel ­– Foram realmente muito difíceis, delicados. Tínhamos a perspectiva de que acabaríamos o mandato sem conseguir retomar o equilíbrio financeiro da Universidade, o que era um dos objetivos principais do nosso programa. A despeito disso, adotamos medidas fortes, importantes – algumas impopulares –, mas que eram necessárias.
Remetendo à questão anterior, muitas vezes, neste cargo, temos de fazer o que é preciso, não o que gostaríamos de fazer. É óbvio que seria melhor dar aumento, recuperar o poder de compra de todos, não efetuar cortes, não aumentar o valor das refeições do “Bandejão” etc. Mas, na situação em que nos encontramos, é inadiável buscar a retomada do equilíbrio.
O ponto positivo é que estamos tendo a oportunidade de fazer mudanças estruturais importantes para a Universidade, que vão se manter por um bom período. Espero que a gente deixe esse legado.

Portal – O sr. acredita que esse déficit nas finanças foi subdimensionado?
Marcelo Knobel – Não havia muita clareza sobre o tamanho do déficit. O tema, inclusive, foi parte das discussões da campanha. Não se sabia, por exemplo, o que havia na chamada “parte comprometida” da reserva estratégica da Universidade. Não existia uma planilha, nada.
Num primeiro momento, decidimos fazer um levantamento das obras e reformas que haviam sido prometidas a unidades e órgãos da Unicamp, mas ainda não executadas. Constatamos que os projetos somavam mais de R$ 550 milhões.  
Tivemos, então, de adotar a primeira medida – difícil e impopular –, que foi praticamente adiar a maior parte dessas obras prometidas. Algumas unidades precisavam – e precisam – de melhorias, mas, na atual situação, a realidade se impõe.
Depois, fomos ver as questões relacionadas às gratificações, que representam um valor considerável na Universidade. Neste momento de crise, em que é preciso conter gastos, optamos por fazer um corte linear e dar um tempo para que as unidades e órgãos se organizassem internamente com o objetivo de enxugar suas respectivas certificações, diminuindo assim o número de gratificações. Tudo isso foi feito para, num segundo momento, podermos reestruturar e repensar essa questão.
Dentre as diversas medidas adotadas, tivemos também a revisão de contratos e outras ações que se faziam necessárias.

Portal – Essas medidas já tiveram algum resultado? O sr. destacaria outras não contempladas acima?
Marcelo Knobel – Agora, aparentemente, as coisas estão começando a entrar nos eixos. Digo aparentemente porque, com a situação política do país, é impossível saber o que vai acontecer. Não existe estabilidade, não existe perspectiva de calmaria política no horizonte. Como esses fatores influenciam na conjuntura econômica, não podemos nos arriscar.
Quanto às medidas, acho importante ressaltar que a primeira delas foi acabar com a dupla matrícula em toda a administração superior. Mais do que nada, nosso objetivo foi mostrar que a administração superior também precisa fazer o seu esforço, a parte que lhe cabe.
Fizemos, também, um congelamento de todas as novas contratações. Tratou-se de um freio de arrumação; aos poucos, fomos nos organizando. Tanto que, quando assumimos, o orçamento aprovado no ano anterior previa um déficit da ordem de R$ 120 milhões [para 2017]. Refizemos as contas e chegamos a um déficit de RS 290 milhões. No final do ano passado, com as medidas adotadas e com a pequena melhora da conjuntura econômica, o déficit acabou fechando em R$ 209 milhões. Não é pouco, é muito dinheiro. Precisamos, de fato, adotar outras medidas austeras para evitar que esse déficit aumente.

Portal – O sr. reconhece e classifica algumas das medidas adotadas como impopulares. Como foi a interlocução com os diferentes setores da comunidade, sobretudo aqueles refratários às mudanças?      
Marcelo Knobel – Houve um pouco de tudo. Naturalmente, recebemos críticas. Elas foram importantes – precisamos ouvir todas e considerá-las. Sabemos das dificuldades decorrentes de cortes lineares e das injustiças que eventualmente pudessem ser cometidas em alguns casos. Porém, como já disse anteriormente, as medidas eram necessárias e precisavam ser adotadas.
Ademais, elas foram depois acompanhadas por um grupo de trabalho criado no Conselho Universitário (Consu) para elaborar novas ideias, trazer novas contribuições. Esse grupo de trabalho acabou sugerindo, basicamente, medidas similares àquelas que tínhamos pensado inicialmente.

Portal – A criação de grupos de trabalho setoriais para o enfrentamento da crise é também uma medida inédita?
Marcelo Knobel – Reitero aqui a necessidade de adotarmos a cultura da transparência e da boa vontade para que seja feito o melhor. Quem tiver uma boa ideia, que a apresente, por favor. Ela será sempre muito bem-vinda. Muitas vezes ouvimos que estamos fazendo o discurso da crise, o que foi até objeto de um comentário meu na última sessão do Consu [realizada em 4 de abril]. Um déficit de R$ 209 milhões não é discurso. A crise é real. O saldo da nossa conta corrente está disponível para quem quiser checar.
Estamos trabalhando num regime deficitário que não se sustenta por muito mais tempo. Esta é a realidade que devemos enfrentar. As pessoas sabem dessa realidade, mas, quando se mexe no nosso bolso, na nossa vida, há insatisfação e um ambiente propício para a propagação de boatos.
Não podemos permitir que nossa situação financeira chegue a um ponto insustentável. Basta ver como está a Unesp, que passou e passa por um momento dramático, visto e acompanhado por todos. Eles não conseguiram dar os 3% de aumento em 2016, atrasaram o 13º salário no ano passado, ou seja, seu quadro de funcionários está vivendo uma situação pela qual, tenho certeza, ninguém quer passar na Unicamp.

Portal – Ainda no campo da interlocução, como tem sido o diálogo com diferentes instâncias do governo no que diz respeito ao repasse de verbas, entre as quais a do SUS e o aumento do percentual do ICMS referente ao campus 2 de Limeira?
Marcelo Knobel – Isto é algo muito comentado. Alguns sugerem inclusive que devamos fazer, no âmbito do Cruesp [Conselho de Reitores das Universidades do Estado de São Paulo], um movimento maior com o objetivo de buscar mais recursos com o governo. Eu garanto que temos feito isso sistematicamente, num esforço significativo.
Fui falar com o governador [Geraldo Alckmin] e com o vice [Márcio França] – atual governador – diversas vezes. Conversei com praticamente todos os deputados estaduais, fui ao Congresso Nacional pedir emendas aos deputados federais, estive com diversos secretários de Estado para explicar a situação da Unicamp e mostrar o quanto ela contribui para a sociedade nas mais diversas áreas.
Estamos sensibilizando todas as forças políticas nesse sentido, sobretudo para conseguir um aporte maior para a área de saúde e para todas as questões de permanência, que também são importantes e necessárias.
Naturalmente, trata-se de uma situação delicada, porque todos estão passando por um momento difícil do ponto de vista financeiro, mas reitero que, mesmo assim, esse esforço tem sido feito de forma sistemática.

Portal – Tem havido reciprocidade? Há compreensão do alcance da missão e dos benefícios gerados pela Universidade?
Marcelo Knobel – Existe reciprocidade, mas em termos. Quanto à missão da Universidade, talvez a compreensão não seja completa, mas temos progredido. Acho importante todo e qualquer movimento para que isso aconteça. A questão mais complicada para a sociedade compreender é justamente a complexidade da Universidade e a variedade de campos em que ela atua. A Unicamp não se limita aos seus estudantes de graduação – se fossemos calcular o quanto a Unicamp custa em função do número de estudantes que admite por ano, ela de fato pareceria uma universidade cara. Porém, temos pesquisas, a questão hospitalar, toda a parte de assistência, de extensão etc.
Devemos nos desdobrar, cada vez mais, para explicar à sociedade como a Unicamp funciona. Temos feito isso, mostrando como a Universidade pode ser útil nas mais diversas frentes.
Voltando à questão da reciprocidade, temos excelentes parceiros que conhecem a nossa realidade. É o caso dos prefeitos de Campinas, Piracicaba e Limeira, entre outros, e de diversos deputados estaduais. Eles são nossos interlocutores em várias partes do Estado. Temos os canais, o que não significa que não precisemos atuar mais e termos um diálogo mais forte com diferentes setores da sociedade. Mas, certamente, é um caminho que estamos trilhando com afinco. Nesse contexto há, em certos aspectos, sinalizações bem positivas.

Portal – Em que sentido?
Marcelo Knobel – O atual governador, por exemplo, já sinalizou publicamente que pretende atuar de forma mais sistemática no que diz respeito à questão da permanência. Esse diálogo precisa ser mantido.
Temos possibilidade de conseguir mais aportes da Secretaria da Saúde – continuarei insistindo, a despeito da instabilidade política e de ser um ano eleitoral. Esses fatores dificultam um pouco algumas ações de mais longo prazo, principalmente num país em que ninguém sabe o que acontecerá nas próximas eleições.

Portal – O sr. poderia destacar os pontos mais importantes da reestruturação administrativa implementada neste primeiro ano de gestão?
Marcelo Knobel – Estamos trabalhando para a implantação do Portal da Transparência e reorganizando uma série de processos dentro da Universidade. Nosso objetivo é diminuir a burocracia e tornar os processos mais ágeis e informatizados. Trata-se de uma ampla reestruturação – também lenta e complexa –, mas podemos dizer que o resultado que virá será muito positivo para a Universidade.

Portal – Percebe-se que há uma aposta num modelo de universidade mais global e atenta às demandas contemporâneas. O que o sr. tem a destacar dentre as medidas e iniciativas adotadas?
Marcelo Knobel – A Universidade é muito grande e, de fato, há muitas ações pulverizadas em todos os setores, seja entre os funcionários, professores ou grupos de pesquisa. O que estamos fazendo é tentar organizar e apoiar, dentro das possibilidades, essas demandas de uma maneira geral, institucional.
Acho importante destacar a criação do IdEA [Instituto de Estudos Avançados], cujo embrião surgiu na gestão do professor Fernando Costa e depois foi reestruturado como Penses. Recuperamos a ideia de que a Universidade precisa ter um instituto de estudos avançados que aborde, de maneira interdisciplinar, as questões na fronteira do pensamento. Estamos elaborando uma série de programas, embora sua gestação, digamos assim, seja mais lenta.
Também criamos, logo nos primeiros meses de gestão, conforme previsto no programa, a Cátedra Sérgio Vieira de Mello de Refugiados. Há seis milhões e meio de refugiados no mundo, e não é possível que uma universidade que se diz contemporânea, atual, feche os olhos para essa questão tão fundamental. Parecia que o problema não nos afetaria, mas veja que a crise na Venezuela já repercute em todo o país – já há, inclusive, refugiados venezuelanos e sírios em Campinas.
Criamos, ainda, a partir de edital do governo federal, o Pacto Universitário pela Promoção do Respeito à Diversidade, da Cultura da Paz e dos Direitos Humanos. Isso resultou na formação de um grupo que tem realizado trabalhos na área de cidadania, diversidade e direitos humanos.
Esses projetos, assim como o da reestruturação do Museu de Artes Visuais, ainda estão em seus passos iniciais, mas tenho plena convicção de que logo darão frutos e serão muito importantes para termos uma universidade que pense as questões contemporâneas de forma mais ativa e efetiva, colocando-se como contraponto para esses tempos muito difíceis de fake news e intolerância.
Além dessas iniciativas, estamos participando do projeto Living Values, do Observatório da Magna Carta, cujo objetivo é repensar quais são os valores fundamentais da universidade contemporânea.
Por fim, acho muito importante destacar a mudança no nosso vestibular, com a adoção de ações afirmativas que integram esse processo de ressaltar a importância da diversidade no nosso ambiente.

Portal – A Unicamp é uma multiversidade?
Marcelo Knobel – Sem dúvida. A Unicamp traz essa complexidade e esses múltiplos aspectos que são muitas vezes difíceis de mensurar. Ela atua nas mais diversas áreas – das mais diversas formas – e influencia a vida de milhões de pessoas nas maneiras mais impensáveis. Acho que essa visão de universidade extremamente conectada à sociedade, de milhares de formas diferentes, corresponde à ideia de multiversidade descrita há um bom tempo por Clark Kerr [presidente da Universidade da Califórnia entre 1958-1967].

Portal – Nesse sentido, como o sr. vê hoje a relação da Unicamp com a sociedade?
Marcelo Knobel – A Universidade dialoga com a sociedade o tempo todo, mas, muitas vezes, sua volatilidade e complexidade são difíceis de mensurar. Esta é um pouco a nossa dificuldade – mostrar de fato a importância da Universidade para o futuro, para o desenvolvimento do país.
Às vezes, temos de nos agarrar a exemplos mais concretos. Costumamos mencionar o caso da Inova [Agência de Inovação da Unicamp], que existe há apenas 15 anos. Ela compilou um conjunto de mais de 500 empresas-filhas da Unicamp, que geram mais de 28 mil empregos diretos e têm um faturamento anual de mais de R$ 3 bilhões. Quando analisamos essas empresas, enxergamos a diversidade de pessoas que estão ligadas à Unicamp e o impacto que cada uma delas produz. Mas esse é apenas um pequeno aspecto de uma universidade viva e rica como a nossa.
O lado positivo da minha complicada agenda como reitor é que ela me permite ter uma visão mais completa de toda essa rede complexa. Vou dar um exemplo prosaico, que tem a ver com o meu último fim de semana [7 e 8 de abril]. Na manhã de sábado, participei de um evento sobre mobilidade urbana feito em parceria com a EMTU [Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos], de São Paulo, no qual 180 jovens se juntaram para tentar encontrar soluções para os problemas da área. Depois fui ao congresso da União Estadual dos Estudantes (UEE), ocorrido no Largo São Francisco [São Paulo], para participar de um debate sobre o financiamento da universidade pública.
No domingo, passei no Mercado Mundo Mix, com o qual a Unicamp colabora, na Estação Guanabara [em Campinas]. Passei também no canteiro de obras da Fazenda Argentina, onde será realizado o Campinas Decor, evento que mobiliza o mercado da construção civil da cidade.
Ou seja, num espaço de poucas horas, passei da economia criativa ao mercado de obras; da educação pública à inovação; e de futuros empreendedores a parcerias entre instituições. O tempo todo é assim, e a cada dia aprendo algo novo. Se mesmo nós, que estamos na administração, não conseguimos captar toda a complexidade da Unicamp, imagine, então, alguém de fora. O nosso desafio, na comunicação, é mostrar essas caras de uma maneira viva, sem que se torne propaganda oficial, para que as pessoas possam realmente compreender que a universidade pública é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade. 

Relembre alguns assuntos que marcaram o primeiro ano
de Marcelo Knobel à frente da Reitoria da Unicamp

 

Portal – De que forma o sr. gostaria que este primeiro ano de gestão fosse lembrado? Há algo que o sr. gostaria de destacar?
Marcelo Knobel – Creio que foi um ano de reorganização. Gostaria que esse período fosse lembrado como o primeiro ano de recuperação do equilíbrio financeiro da Universidade. Foi o nosso principal tema de pauta, com muitas dificuldades políticas internas – e com muitas dificuldades, também, na busca de mudar a cultura, de mostrar com transparência os dados, de discutir abertamente todas as questões. Quando chegamos aqui, o comprometimento do nosso orçamento com a folha de pagamento chegou a bater em cerca de 120%; agora, estamos perto de 90%. Não foi pouco o trabalho feito para que houvesse essa queda. Foi, reitero, um ano de reorganização interna com o objetivo de voltar a crescer e a fazer novos projetos.
É bom lembrar também que, para além da dificuldade financeira, havia uma situação nova. Naturalmente, quem assume um cargo precisa de um tempo para conhecer os processos, mas nós já entramos aqui com força total, discutindo a questão das cotas e diversos assuntos complexos. Espero que esse primeiro ano, de reestruturação, tenha servido para abrir caminho para novas ideias que em breve se consolidarão.

Portal – Havia uma impressão inicial de que, do ponto de vista financeiro, o equilíbrio não seria alcançado nem no final da gestão. Essa visão mudou?
Marcelo Knobel – Eu vejo uma luz no fim do túnel. De maneira geral, as perspectivas são melhores, mas eu ainda não me sinto completamente seguro. O problema é a nossa completa falta de perspectiva política. Ela impede qualquer previsão. Não temos ideia do que vai acontecer neste país. Apostar numa recuperação econômica, por mais que a gente torça por ela, é muito difícil. A tensão da sociedade é tão grande, e o resultado das eleições é tão imprevisível, que o que nós devemos fazer, na minha opinião, é consolidar a base interna para não depender da conjuntura econômica.
É importante lembrar que qualquer tomada de decisão terá impactos permanentes. O passo a ser dado precisa ser muito bem pensado, muito bem assentado, com perspectivas no horizonte. Como gestor, vejo isso com muita clareza.

Portal – Que mensagem o sr. gostaria de deixar para a comunidade?
Marcelo Knobel – Acho importante destacar que quem está na administração quer ajudar a Universidade, quer realmente colaborar no sentido de tornar a Unicamp estável, um lugar bom para se trabalhar, que contribua cada vez mais com o nosso país, com o nosso mundo, com a nossa sociedade de uma maneira geral. Para isso, contamos com a parceria de toda a comunidade. Estamos todos no mesmo barco. O nosso objetivo é o objetivo de todos: fazer uma Unicamp cada vez melhor.

Nota de repúdio às declarações da senadora Ana Amélia sobre os árabes






O Instituto da Cultura Árabe repudia veementemente a declaração da senadora Ana Amélia (PP-RS) em sessão do Senado transmitida pela TV que, ao criticar um depoimento da senadora Gleisi Hoffmann sobre o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva à rede de televisão Al Jazeera, relacionou a emissora a grupos terroristas.

A Al Jazeera é um dos grupos de comunicação mais respeitados do planeta. Além de praticar um jornalismo que serve de referência, entrevista e promove reportagens com líderes, artistas, intelectuais e ativistas que se identificam com a luta em defesa dos direitos humanos, respeitando a diversidade de opiniões.

Relacionar uma emissora de TV do mundo árabe a grupos terroristas, além de demonstração de desconhecimento em relação aos países árabes, é prática explícita de preconceito racial e islamofobia.  A Constituição brasileira é clara quanto aos delitos de racismo e discriminação e quaisquer formas de sistemas religiosos e profissões de fé. Partindo de uma senadora da República, constitui-se em um constrangimento ainda maior para nossa a sociedade.

O Brasil historicamente é destino de imigrantes de diversas partes do mundo, entre eles, os árabes. Os imigrantes sempre viram no país um local acolhedor para recomeçarem suas vidas. Seu legado está presente em todas as áreas do conhecimento e na construção do próprio país.
 
Temos certeza de que a sociedade brasileira em geral não aceita e não compactua com atos dessa natureza, que incitam crimes de ódio, abrindo-se as portas à barbárie.
 
O ICArabe, organização autônoma, laica, de caráter científico e cultural, trabalha desde sua concepção para desconstruir esses estereótipos, via promoção e divulgação da rica cultura árabe. Valorizamos o caminho da harmonia entre as comunidades e entre os povos e o respeito às diferenças. Acreditamos que a integração entre as culturas e o diálogo são essenciais, assim como o respeito aos direitos humanos de todas as pessoas, brasileiras ou não. 
 
O incentivo a práticas preconceituosas, de qualquer natureza, e a difusão do discurso do ódio constituem atos hediondos e instrumentos de fragmentação e de segregação de um povo conhecido em todo mundo por sua união e amabilidade nas relações com todas as etnias de sua constituição.
  
Diretoria do Instituto da Cultura Árabe


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