quarta-feira, 18 de abril de 2018

Preços do botijão e do etanol não cedem, FSP

Nicola Pamplona
RIO DE JANEIRO
Os preços do etanol e do gás de cozinha têm registrado queda nas usinas e refinarias, mas o consumidor ainda não foi beneficiado, segundo levantamento semanal feito pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
A queda do etanol completa quatro semanas seguidas e soma 20%, de acordo com o Cepea (Centro de Pesquisa Econômica Aplicada) ligado à USP (Universidade de São Paulo). Na semana passada, saiu das usinas paulistas, em média, a R$ 1,521 por litro, contra R$ 1,902 da semana encerrada em 16 de março.
Nas bombas, porém, o preço do etanol hidratado ficou praticamente estável, caindo apenas 0,4% --de R$ 3,032 para R$ 3,019 por litro.
Em São Paulo, a variação foi um pouco maior (queda de 1,4%), mas longe do percentual verificado nas usinas.
A queda no preço do reflete o início da colheita de cana-de-açúcar da safra 2017-2018. O anidro, que é misturado à gasolina, também ficou mais barato, mas em menor ritmo: a queda em quatro semanas é de 12,3%.
Os dados da ANP mostram que tanto distribuidoras quanto postos seguram o repasse. O preço praticado pelo segmento de distribuição caiu apenas 3,2% no período. As margens de lucro dos postos subiram 23,5%. "A cadeia de comercialização não está transmitindo a queda", diz o presidente da Datagro, Plinio Nastari, especialista no setor.
Para o diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues, os preços na bomba devem cair nos próximos dias. Segundo ele, parte do varejo tem estoques adquiridos a valores mais altos e segura os preços para evitar eventuais prejuízos.
"Esse é um momento cruel para as distribuidoras", disse, referindo-se ao fato de que os preços do etanol despencam no início da colheita

BOTIJÃO

No caso do gás de cozinha, as distribuidoras são as principais responsáveis pela falta de repasses, indica levantamento da ANP. Com dois cortes promovidos pela Petrobras, o preço do produto nas refinarias acumula queda de 9,2% no ano. Nesse período, porém, o preço médio do botijão de 13 quilos ficou praticamente estável, com queda de apenas 0,3%. Na semana passada, o botijão no país custava R$ 66,87.
Os dados da ANP mostram que o segmento de distribuição aumentou os preços em 1,5% no período. Já a revenda apertou margens de lucro.
Em janeiro, os reajustes no preço do botijão passaram a ser trimestrais. A decisão foi tomada pela Petrobras após da forte alta em 2017, quando a empresa passou a fazer reajustes mensais - entre o fim de maio e a última semana de dezembro, o preço ao consumidor subiu 18,2%.
Quatro empresas --Ultragaz, Liquigás, SHV e Nacional Gás Butano-- concentram 85% das vendas de GLP (o gás de cozinha) no país. A concentração levou o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a barrar, em fevereiro, negócio de R$ 2,8 bilhões envolvendo Petrobras e grupo Ultra, que controlam as duas maiores empresas do setor.

Como o MST se tornou o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, BBC


Menino observa colheita de arroz orgânico pelo MST em Nova Santa Rita (RS)Direito de imagemMAURICIO SUSIN
Image captionMenino observa colheita de arroz orgânico pelo MST no RS; produtores do movimento exportam produto para a Europa
O agricultor Isaías Vedovatto tinha 22 anos quando cortou a cerca da Fazenda Annoni, em Sarandi (RS), na madrugada de 29 de outubro de 1985. Ele foi o primeiro dos 7,5 mil camponeses, de mais de 30 cidades gaúchas, a pisar na invasão de terra, marcante na história do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Agora, aos 54 anos, Vedovatto testemunha o MST se tornar o maior produtor de arroz orgânico (sem agrotóxicos) da América Latina - em uma nova etapa do movimento, que é alvo de defesas e críticas igualmente apaixonadas.
O agricultor era um dos 2 mil sem-terra presentes na 14ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Agroecológico no Rio Grande do Sul, em 17 de março, a 25 km de Porto Alegre. Nesta primeira semana de maio, o movimento organizou, em São Paulo, a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, com exposição da produção de acampamentos e assentamentos.
Para a safra do arroz orgânico de 2016-17, o MST estima a colheita de mais de 27 mil toneladas, produzidas em 22 assentamentos diferentes, envolvendo 616 famílias gaúchas. Também serão produzidas 22.260 sacas de sementes, que não são transgênicas.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do governo federal, não diferencia a produção orgânica da convencional (com agrotóxicos e outros aditivos químicos) na sua estimativa atual de safra. Mas o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), do governo gaúcho, confirma que o MST é, no momento, o maior produtor orgânico do grão na América Latina.
Isaías Vedovatto, de 54 anos, na Fazenda AnnoniDireito de imagemMAURICIO SUSIN
Image captionIsaías Vedovatto, de 54 anos, cortou a cerca da Fazenda Annoni em 1985, ocupação que é símbolo do MST

Exportação

O movimento exporta 30% de sua produção, segundo Emerson Giacomelli, coordenador do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico do MST.
Um dos responsáveis pela exportação é o zootécnico Anderson Bortoli, de 41 anos, da empresa Solstbio, na cidade de Santa Maria.
A empresa - sem relação institucional com o MST - compra o arroz orgânico de três assentamentos gaúchos e exporta-o para Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Nova Zelândia, Noruega, Chile e México.
Bortoli coleta amostras do arroz nos silos e envia para a Bélgica para análises que garantem que não contenha nenhum agrotóxico e, assim, obtém as certificações de produto orgânico.
Apenas no município gaúcho de Nova Santa Rita, a produção do MST faz circular R$ 7 milhões por ano, movimentando a economia local, diz a prefeita Margarete Simon Ferretti (PT).
Os 4 mil alunos das 16 escolas municipais consomem alimentos orgânicos adquiridos pela prefeitura diretamente dos agricultores.
E os produtores de arroz orgânico trabalham no sistema de cooperativa e recebem, de acordo com Giacomelli, 15% a mais do que agricultores convencionais.
"Essa valorização é possível porque colocamos um produto de qualidade no mercado, com preço maior. Isso ajuda a manter os trabalhadores no campo", explica o gestor.
João Pedro Stédile (à esq), coordenador nacional do MST, na abertura da colheita do arroz orgânicoDireito de imagemMAURICIO SUSIN
Image captionStédile (à esq) fala na abertura da colheita do arroz orgânico; líder do MST diz que movimento incorporou a agroecologia

Agroecologia x agronegócio

"No início do MST, durante a crise da década de 1980, a meta principal do movimento era terra para trabalhar e criar as famílias. Naquele âmbito a visão era até um pouco ingênua: terra para quem nela trabalha. É um princípio justo, porém insuficiente para resolver os problemas da produção de alimentos. Na medida em que o MST foi evoluindo, fomos adequando nosso programa, fomos incorporando a agroecologia", diz João Pedro Stédile, coordenador nacional do Movimento Sem Terra, em entrevista à BBC Brasil.
Estudos acadêmicos mostram que o discurso da agroecologia foi incorporado pelo MST a partir dos anos 2000.
"A agroecologia passa a ser o principal discurso (do MST) para a viabilidade da reforma agrária e para dialogar com a sociedade civil - urbana ou rural", opina Caetano De'Carli Viana Costa, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) que estudou essa mudança do MST.
O modelo agroecológico, segundo Stédile, é antagônico ao do agronegócio porque este último "visa o lucro a qualquer custo, usando agrotóxicos, transgênicos e maquinário, o que afasta os trabalhadores rurais do campo".
De um lado, essa nova fase do movimento gera críticas de quem acha que ele deixou de lado sua pauta original para sucumbir às demandas do mercado consumidor.
"O MST abandonou sua pauta de luta para absorver um modelo de produção liberal - e por que não dizer capitalista - para lograr sucesso", critica Adriano Paranaiba, mestre em Agronegócios pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e diretor de ensino e pesquisa do Instituto Liberdade e Justiça (ILJ).
De outro, há quem critique as táticas tradicionais de invasão de terras, mas veja com bons olhos o avanço na produção de orgânicos.
"É um movimento invasor, próximo de uma atividade guerrilheira e que, por várias vezes, traz conflitos que ameaçam a vida das pessoas", opina Paulo Ricardo de Souza Dias, presidente da Comissão de Assuntos Fundiários da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).
"No momento em que eles são produtores, eles são nossos colegas. A nossa visão crítica é quando estão nesse movimento de guerrilha."
Procuradas pela BBC Brasil para comentar a posição do MST, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que representam o agronegócio, não quiseram se manifestar.
Nilce de Oliveira, de 40 anos, com os filhos Ingrid, 7, e Michael, 13Direito de imagemMAURICIO SUSIN
Image captionNilce de Oliveira, de 40 anos, com os filhos Ingrid e Michael; família está acampada e espera conseguir um pedaço de terra

Menos desapropriações

Na teoria, os sem-terra invadem áreas improdutivas e desocupadas, o governo então indeniza os proprietários das terras, pagando o valor da área, e, por fim, dá a posse aos camponeses. Esse processo, vale lembrar, nem sempre é pacífico.
Segundo o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o Brasil tem 9.355 assentamentos. Nas contas do MST, o país possui 1,1 milhão de famílias assentadas e 130 mil famílias acampadas (sem a posse legal da terra).
"Durante os governos Lula e Dilma (2003-2016) a gente tinha uma briga porque tinha gente que dizia que os dois modelos, agronegócio e agroecologia, são compatíveis. E foi essa a política de Lula e Dilma, porque eles apoiavam o agronegócio e apoiavam a agricultura familiar", critica Stédile.
Stédile é ainda mais crítico ao governo de Michel Temer (PMDB), por causa da extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
"Deram a prova concreta de que não querem saber dos pobres do campo", diz o líder sem-terra.
À BBC Brasil o Incra afirmou que a extinção da pasta não prejudica as políticas voltadas para os assentamentos porque foi criada a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário.
Ao mesmo tempo, os decretos presidenciais que determinam a desapropriação de terra para destiná-las a assentamentos caíram 86,7% na comparação entre 2010 e 2016. Em 2010, Lula assinou 158 decretos desapropriatórios, contra 21 decretos assinados em 2016 (Dilma Rousseff foi afastada em maio, quando assumiu Temer).
No mesmo período, a quantidade de área desapropriada caiu 89%, de 321.525 hectares em 2010 para 35.089 hectares em 2016.
Por consequência, o valor pago pelo governo aos proprietários das terras desapropriadas também caiu, mas não na mesma proporção: 64,62% foi a redução entre 2010 para 2016, de R$ 326,4 milhões para R$ 115,4 milhões.

Assentamentos x acampamentos

O decreto presidencial é uma das últimas etapas da criação de um assentamento. Antes de serem assentados, os sem-terra passam pelos acampamentos.
É nessa fase que ocorre o maior número de desistências, conta Cedenir de Oliveira, de 38 anos, da coordenação estadual do MST. Sem água encanada, eletricidade e morando em barracas, algumas famílias não aguentam esperar pela desapropriação.
Nilce de Oliveira, de 40 anos, é uma das que aguardam: saiu de Guarujá (SP) com o marido e dois filhos. Eles são acampados na cidade de Charqueadas, a 40 km de Porto Alegre.
"Estamos debaixo da lona preta. O mais difícil é o inverno, porque é muito frio, a chuva molha tudo, o jeito é fazer fogo para se aquecer", conta Oliveira.
"A gente fica abraçado e enrolado nas cobertas", conta a filha Ingrid, de 7 anos, apontando para o irmão Michael, de 13 anos.
Além dessa precariedade, outra questão constantemente envolvendo os assentamentos é a violência no campo. Lideranças sem-terra dizem conviver com ameaças de morte e execuções de integrantes.
Em 19 de abril deste ano, nove homens sem-terra foram assassinados em um assentamento na área de Colniza, no Mato Grosso. As vítimas foram amarradas e torturadas antes de serem mortas. A suspeita é que capangas de fazendeiros da região tenham cometido os crimes.
Em 25 de abril, um dirigente do MST foi assassinado em casa, no Assentamento Liberdade, em Minas Gerais.
Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, aponta que 59 pessoas foram mortas em 2016 por defender a reforma agrária e também áreas indígenas. O número é maior do que o registrado em 2003, ano com 71 mortes no campo.
Enquanto a violência no campo persiste, o MST espera que a produção de orgânicos seja adota em outras regiões do país. Emerson Giacomelli, de 43 anos, começou a desenvolver a técnica de manejo do arroz orgânico do MST há 15 anos.
Hoje, Giacomelli enxerga benefícios que vão além dos assentamentos: "É saúde para quem produz e para quem consome. Ajuda na permanência dos camponeses na terra, mas também ajuda quem compra a não ter que se preocupar com os malefícios dos agrotóxicos".

Cientista da vida eterna cria busca por ideias na internet, FSP

Cientista da vida eterna cria busca por ideias na internet

Novo aplicativo faz procura por significados, e não por palavras-chave

Ray Kurzweil, 70, toma cem pílulas por dia em sua crença na imortalidade, aliada à biotecnologia - Bret Hartman / TED
    Fernanda Ezabella
    VANCOUVER (CANADÁ)
    Um novo tipo de busca online chega ao universo do Google graças às pesquisas de linguística do futurologista Ray Kurzweil, cientista da computação e autor de livros influentes sobre inteligência artificial. Ele também é famoso pela crença no prolongamento eterno da vida, o que o leva a tomar cem pílulas por dia.
    O aplicativo TalkToBooks (g.co/talktobooks), lançado no fim de semana, faz uma "busca semântica", ou seja, procura pelo significado e ideia, e não por palavra-chave, diz Kurzweil. Para cada frase ou pergunta, o programa vasculha em meio segundo todas as sentenças escritas em mais de 120 mil livros.
    "Como eu faço para parar de pensar e conseguir dormir?", escreveu Kurzweil no TalkToBooks, num teste ao vivo para a audiência do TED, evento de palestras que aconteceu em Vancouver na semana passada.
    Os resultados aparecem em negrito em trechos de livros, com seus títulos e páginas, e Kurzweil acredita que poderiam ser usados como respostas naturais numa conversa. O cientista, que trabalha com uma equipe de 40 engenheiros, disse que usou bilhões de linhas de diálogo para ensinar o software de inteligência artificial como funciona uma conversa real.
    Apesar de os resultados para algumas perguntas mais práticas não serem muito diferentes do que uma busca tradicional (em vez de sites, leva para livros), tal tecnologia já vem sendo aplicada em produtos do Google.
    No Gmail, por exemplo, os usuários ganharam opções de respostas curtas automáticas ao final de cada e-mail.

    NÍVEIS HUMANOS

    Kurzweil acredita que máquinas com inteligência artificial (IA) chegarão a níveis humanos por volta de 2029. "Todos nós vamos virar predominantemente IA. Já somos bem misturados, nunca saímos de casa sem nossos IAs", disse, referindo-se a celulares. "E eles serão muito mais intimamente integrados com a gente daqui para frente."
    E não só: essas máquinas terão consciência. "Debatemos hoje sobre consciência dos animais. E vamos debater isto sobre IA também [...] Nós vamos querer acreditar que eles têm consciência porque serão tão espertos e vão ficar bravos se duvidarmos."
    Durante o TED, o autor de "A Singularidade Está Próxima" (2005) lançou o livro ilustrado "Danielle", mistura de ficção com não ficção, sobre uma jovem heroína que resolve desafios do mundo com tecnologias avançadas, como problema de água na África ou cura do câncer.
    "Não existe problema que não possa ser resolvido com inteligência coletiva e tecnologia que temos hoje", falou.
    Kurzweil, 70, também comentou sobre suas ideias de "extensão radical da vida". Além das iniciativas que podem ser tomadas agora, como as cem pílulas que ele ingere por dia (em 2005, eram 250), o cientista acredita na biotecnologia e reprogramação genética.
    "Uma outra fase seria a aplicação de nanotecnologia para estender seu sistema imunológico. Há cenários de acabar com todas as doenças e processos de envelhecimento", disse. "Vai acontecer no mundo desenvolvido em uma década. E acho que estarei lá. Mas, claro, você sempre pode ser atingido por um ônibus amanhã."