terça-feira, 12 de janeiro de 2016

#Partiu. Mas por que mesmo?, OESP Cortella


 - Atualizado: 09 Janeiro 2016 | 16h 00

O que estamos fazendo das nossas viagens? Um caminho de reconhecimento? Uma trilha para o novo? Ou um trajeto em que seguimos uma rota virtual para chegar o quanto antes ao destino, seja ele qual for? O filósofo Mario Sergio Cortella, professor da PUC-SP e ex-monge carmelita descalço, diz que estamos perdendo o GPS de nós mesmos ao nos preocuparmos mais com o objetivo do que com a jornada. Quando desprezamos a paisagem, deixamos de ampliar nosso repertório de imagens e a capacidade de criar. Enfim, de viver. “Nossa realidade circunstante virou uma maquete virtual.”

Houve um tempo em que o caminho importava: “Caminhante, são suas pegadas / O caminho e nada mais”, nos versos célebres do poeta sevilhano Antonio Machado, em Campos de Castilla, de 1912. “Caminhante, não há caminho / Se faz o caminho ao andar.
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Hoje, quem liga? Queremos chegar. Rápido. Sem olhar para os lados. A vista vai da estrada ao celular, segue o percurso do Waze (roxo) ou do Google Maps (verde). Tanto faz os matizes de dia e noite, de floresta ou deserto. O GPS sabe aonde vai. Em meio a paisagens cada vez mais desconhecidas, melhor mesmo prosseguir pela rota destacada. Como disse essa semana o criador do Waze, Uri Levine, com involuntária profundidade, “as pessoas não pensam mais por onde estão indo”.
Vivemos um momento de obscurecimento da paisagem, destaca o filósofo Mario Sergio Cortella, professor da PUC-SP e autor de livros de filosofia e educação, entre eles Não se Desespere! Provocações Filosóficas (Vozes). “Ao ignorar os percursos, perdemos a possibilidade de ampliar nosso universo de visões e imagens.” Vale para passeios e para o dia a dia. “É um reflexo da instrumentalização do nosso tempo. Estamos sempre ocupados com metas e objetivos e não temos espaço para distração, para aproveitar as jornadas que, no fim das contas, são a nossa vida”, disse Cortella, discípulo de Paulo Freire, que o descrevia como “um dos poucos filósofos brasileiros que pensam o novo”.
Ex-secretário de Cultura de São Paulo (gestão Erundina) e ex-monge carmelita descalço (uma ordem viajante), o filósofo analisou nossas jornadas em tempos de Waze. “Toda viagem para fora é também uma viagem para dentro. Em nossos caminhos não podemos ficarmos submissos à tecnologia. Viajar, como viver, é emoção. E, se deixamos de prestar atenção no que mexe conosco, o que resta é mera rotina.” Dica a ser anotada, em estranhos dias de caminhantes que não sabem dizer por onde andaram. Ou pior: que não têm mais a curiosidade de saber.
O criador do Waze disse que as pessoas “não pensam mais por onde vão”. O caminho perdeu a importância?
Estamos vivendo um momento de obscurecimento da paisagem. Durante muito tempo, olhar para fora, pela janela do carro, era decisivo nas viagens que fazíamos. Seja qual fosse. Num carro, trem. Até num navio, ter escotilha sempre foi um grande atrativo. E agora a gente vive um instante de não precisar ver para poder chegar, nem conseguir reconhecer a paisagem para se localizar. Isso é novidade. Nas viagens que fiz quando criança, minha mãe, sabiamente, dizia que só a viagem já era um passeio. Essa expressão tinha um sentido forte: o traslado já era uma diversão. O conceito de distração, portanto, mudou. Antes a paisagem distraía, descansava, repousava. Acalmava o trajeto. Houve uma ressignificação da ideia de distração.
Nos distraímos menos em nossas viagens hoje?
A distração serenava o tempo, o desconforto eventual, a ansiedade da chegada. Hoje o efeito é contrário. A tecnologia é distrativa no sentido de tirar a atenção, fazer com que eu mantenha o meu olhar no virtual. Perdemos a possibilidade da fruição, de ampliar nosso universo de paisagens, visões, imagens. Há uma perda de nossa capacidade de imaginação, de observação. Ao olhar para o mar ao longe, para as nuvens, para a velocidade do trem ou do carro, isso tudo compõe um universo circunstante que foi explodido e substituído por outro, indiferente. É a quase transformação da nossa realidade circunstante numa maquete virtual. E o que ganhamos? Ao ficarmos fixados no Waze ou no Google Maps, ganhamos algo extremamente arriscado, que é a monotonia. Como eles exigem um olhar contínuo, dada a capilaridade das estradas, a monotonia se torna enfadonha. A viagem fica mais prática, mas muito mais cansativa.
Então a imaginação sai prejudicada?
Exatamente. Porque deixamos de ampliar nosso repertório de imagens. O percurso acaba ficando desnaturalizado. Há uma desimportância do externo, o caminho já não importa, e isso leva a um encapsulamento. Quando falo em importar é no sentido de “portar para dentro”: aquilo que trazemos para dentro de nós. E, nesse caso, estamos deixando de importar a paisagem. Ela deixou de ser importante e agora tem de ser ignorada, porque atrapalha. Nos distrai do GPS. Se eu olhar para fora, corro o risco de me perder. Quando deveria ser o contrário: observar a paisagem, olhar para fora, deveria ajudar a me encontrar. João e Maria jamais se perderiam na floresta com o Waze. Mas também nunca iriam notá-la. E a história de Teseu só é bonita porque ele prestou atenção no labirinto, e não somente no fio. Há uma descoberta. Ali é que ele vira o Teseu. Vale para as viagens e também para nosso dia a dia. Lembro-me da ideia clássica de Ortega y Gasset, filósofo espanhol: eu sou eu e mais a minha circunstância. Eu não sou eu puro. Sou eu e mais o que está à minha volta. Portanto, uma visão que se alarga para o exterior. E nós somos um ser para fora. Por isso é que nós temos existência. Existir: “ser para fora”. Olhar para dentro é importante, sempre. Mas o tipo de olhar para dentro a que algumas tecnologias nos induzem é redução mental.
Isso começou com esses aplicativos?
É mais antigo, essa quase anulação do que nos rodeia se iniciou na área de armamento militar, quando começamos a ter, na Guerra do Golfo, a utilização de ataques de bombas em que só se enxergava o “x” no alvo e depois o sinal da explosão. Não se via o prédio cair, a paisagem não existia. É como um game. A pessoa se conduz numa câmara escura, como se tivesse os olhos lateralmente tapados. Serve para o trânsito, o trem, o avião. Um dos prazeres de voar era olhar a paisagem, as nuvens, era o que distraía. Hoje, ao contrário. O estímulo é para que a pessoa olhe um mapinha na frente dela. É uma desnaturalização da própria paisagem. Nós retiramos o que o Max Weber chamaria de encantamento. É o desencantamento do real e, portanto, o caminho se tornou só o meio para o objetivo final. O repertório cultural também muda. É curioso imaginar, por exemplo, expressões como “terra à vista”, dita nas navegações. Fosse hoje, os navegadores não olhariam para o horizonte. É o que fazemos atualmente: olhamos o tempo todo para o virtual, sem notar o horizonte real. Ao contrário, ele é indiferente.
Como essa visão afeta nosso dia a dia?
Existe uma instrumentalização do nosso tempo para impedir que sejamos capazes do ócio. O que é um passeio, de fato? Aquilo que o francês chama de promenade. Vou dar uma volta. É você não ter rumo, não precisar saber aonde vai. Ócio não é vagabundagem. É não ser obrigado a uma ocupação. Preso não tem ócio. Desocupado não tem ócio. Ócio é quando você tem liberdade para o uso do seu tempo naquilo que deseje. Antigamente, a expressão de quem saía por aí de maneira livre era vagamundo – que em grego antigo, aliás, se diz planetes e origina a palavra planeta, astro que fica dando voltas. Mas depois a palavra virou vagabundo e ganhou conotação negativa. Na sociedade capitalista, no mundo dos últimos 500 anos, dentro da ética protestante, a ideia de quem saía por aí sem eira nem beira se tornou absolutamente reprovável. Só o trabalho salva. Só o trabalho dignifica. Aliás, como escreveram os nazistas nos campos de concentração, só o trabalho liberta. Certo? Há uma objetivação extremada do tempo livre hoje. A tal ponto que ficar desocupado é quase uma insuportabilidade. O resultado são crises de criatividade. Porque o tédio é absolutamente criativo. Você inventa coisas porque não tem o que fazer. E a ausência hoje de tédio, porque você fica o tempo todo ocupado com algo, resulta numa vida que precisa ter meta e objetivo o tempo todo. Como se fosse uma carreira. Despreza-se que a arte seria impossível com a ocupação contínua. Só existe arte, filosofia, por conta da desocupação.
O que buscamos ao fazer uma viagem?
Michelangelo dizia: todo pintor pinta a si mesmo. É evidente que quando eu viajo quero me conhecer naquilo que estou conhecendo. Por isso toda viagem é um reconhecimento. Eu sou uma subjetividade, você é uma subjetividade. Para eu me saber como sou, preciso me colocar para fora de mim. Isto é, eu preciso objetivar minha subjetividade. Essa objetivação de minha subjetividade é muito favorecida por uma viagem. E, numa viagem, eu sou o que eu sou e sei o que sou quando procuro um lugar para ir. Quando aprecio ou recuso uma determinada forma de paisagem, quando vou em busca de um alimento; por isso, toda viagem para fora é uma viagem para dentro. Essa viagem para dentro não pode me recluir, me prender dentro, que é o que algumas pessoas estão conseguindo. Os antigos usavam a expressão viagem de reconhecimento. De território, de terreno, e em princípio essa ideia de reconhecimento pareceria estranha à medida que nunca se foi lá. Deveria ser viagem de conhecimento. Mas não é o reconhecimento do lugar, é de quem está indo. Um novo conhecimento de quem está indo.
Quais vantagens vê nessas tecnologias?
Não sou avesso a elas, absolutamente. Mas também não sou submisso. A grande vantagem delas é ajudar a chegar logo. Apesar de não dirigir, claro que sei da ajuda do GPS em viagens a lugares desconhecidos. Para isso servem bem. Mas será que a finalidade é apenas chegar? Escrevi um texto anos atrás, meio brincando, sobre aIlíada, em que dizia que a grande razão da Guerra de Troia não foi recapturar Helena, mas, isso sim, o desejo de viajar. Não tenho dúvida de que o que Ulisses queria fazer era viajar. Porque a finalidade de nossos deslocamentos é exatamente encontrar o novo. Se estou de fato movido pelo que é o curioso, vou atrás daquilo que me traga a primeira impressão. Aquela que me emociona. Viagem é emoção. A expressão emovere, em latim, significa aquilo que mexe comigo. O que me emociona? O que mexe comigo? Minha capacidade de vivenciar o que não vivenciei. Claro que isso tem perigo. Experimentar é vivenciar risco. Mas essa é a graça. Do contrário é mera rotina monótona. É o que resta, se deixamos de prestar atenção no que mexe conosco.
Essas tecnologias permitem saber mais das experiências dos outros. Há algum efeito em nossa curiosidade?
Essa antecipação que o mundo virtual permite é a experimentação falseada, vivenciada por empréstimo. Ela sem dúvida reduz nosso nível da boa expectativa. Quando você vai a um hotel, já entra nas opiniões sobre ele, encontra elogios e críticas. Encontra, por exemplo, que o café da manhã é “limitado”. Obviamente, essa ideia é muito subjetiva. Depende do que você está habituado no dia a dia. Mas só a leitura dessa frase já dá um desânimo. O mundo digital diminui um pouco a ilusão. E a ilusão tem um componente delicioso, que é preparar o espírito para viver as coisas melhor. Não que a ilusão contínua tenha importância positiva, ao contrário. Mas a ilusão em relação ao momento, ao dia de amanhã, ao cotidiano, e também às viagens, às férias, ela dá um gosto imenso. O mundo da tecnologia abortou parte da nossa ilusão positiva, que é aquela do desejo gostoso, aquilo que você imagina que virá e que vai ser esplendoroso. Uma coisa é o aperitivo, que prepara a degustação. Outra é a leitura da receita, que pode estragar a surpresa.

De cada 100 imóveis vendidos, 41 foram devolvidos às construtoras em 2015, OESP


 - Atualizado: 11 Janeiro 2016 | 09h 33

Levantamento da Fitch foi feito com nove companhias do setor entre janeiro e setembro de 2015; aumento dos ‘distratos’ significa que cerca de R$ 5 bilhões voltaram às prateleiras

Se o setor imobiliário tivesse de escolher uma palavra para se lembrar de 2015, ela certamente seria “distrato” – jargão usado pelas empresas, e agora também conhecido dos consumidores, para devolução de imóveis comprados na planta. Esse foi o pesadelo de incorporadoras e proprietários de imóveis novos no ano passado, quando o setor registrou recordes históricos no volume de devoluções. O levantamento recente da agência de classificação de riscos Fitch, com nove companhias, mostra que, de cada 100 imóveis vendidos, 41 foram devolvidos de janeiro a setembro de 2015. Isso significa quase R$ 5 bilhões de volta às prateleiras das grandes empresas.
“Historicamente, o porcentual de distratos girava em torno de 10%, um patamar saudável para a indústria”, diz Meyer Nigri, fundador da Tecnisa e vice-presidente da Abrainc, associação que reúne as 18 maiores companhias do setor. Os distratos sempre existiram, mas eram exceção, pois o comprador que decidia se desfazer de uma unidade até a entrega das chaves em geral conseguia negociá-lo com outro interessado por um valor maior do que tinha desembolsado até ali.
 
 
Agora, vender “por fora” significa perder dinheiro, já que o preço do imóvel está em queda e as incorporadoras estão cheias de unidades para desovar. “Antes, o consumidor comprava um imóvel por R$ 100 mil na planta, vendia por R$ 150 mil e embolsava a diferença”, diz um executivo de uma grande construtora. “Agora, compra por R$ 100 mil, mas descobre, na entrega das chaves, que a incorporadora está vendendo por R$ 80 mil. É difícil sustentar o mercado assim.”
Essa é apenas uma das faces do problema. A outra, que também se agravou com a deterioração econômica, é a restrição ao crédito. Conseguir um financiamento no banco está cada vez mais difícil. No mercado imobiliário, esse é um momento crucial, porque a venda só se concretiza na entrega das chaves: é quando o cliente da incorporadora passa a ser cliente do banco, ao assumir um financiamento, e a empresa recebe o valor integral do imóvel. A alta da taxa de desemprego, para quase 8,5% no ano passado, atravancou esse processo. Quem perdeu o emprego ou viu sua renda cair entre a compra do imóvel e a entrega das chaves tem grande chances de ter o financiamento negado pelo banco.
Antes que isso acontecesse, muita gente se antecipou. Foi o caso do aposentado Flávio Atorre de Mello, de 63 anos. Quatro meses depois de comprar um apartamento na planta, em novembro de 2012, ele foi demitido da emissora de TV onde trabalhava como gerente de operações. De lá para cá, a Selic, taxa básica de juros da economia, passou de 7,25% para 14,25%. “Quando fechei o negócio, minha ideia era pagar o máximo possível até as chaves e depois quitar o restante com meu apartamento antigo”, conta. “Mas deu tudo errado: o valor que faltaria pagar na entrega, em julho deste ano, seria de R$ 700 mil, bem mais do que vale meu apartamento, que não se valorizou e custa hoje R$ 500 mil.”
Vizinho: Mello mora a 500m do imóvel que vai devolver
Vizinho: Mello mora a 500m do imóvel que vai devolver
Sabendo que o financiamento seria inevitável e que sua renda não passaria pelo crivo do banco, Mello decidiu, em julho passado, devolver o imóvel à incorporadora. Foi lhe apresentaram o jargão “distrato” e os transtornos que estão por trás dele. Descontadas as taxas de corretagem, comercialização e despesas administrativas, a empresa propôs devolver R$ 40 mil dos R$ 200 mil que Mello pagou nos últimos três anos. O caso foi parar na Justiça. Hoje, Mello vende peças de motos pela internet para conseguir uma renda extra, e já convenceu a mulher de que a mudança de apartamento não virá tão cedo. “Difícil é passar todos os dias na frente do prédio, que fica a 500 metros de onde moro hoje, e lembrar que nada do que sonhamos vai se concretizar.”
Disputa. Casos como esse se multiplicaram no escritório do advogado Marcelo Tapai, que se especializou no segmento imobiliário. No ano passado, das 725 ações movidas por ele, 73% eram referentes a distratos. Em 2014, o porcentual foi de 43%. O embate entre clientes e incorporadoras está sendo levado à esfera judicial porque não há uma regulamentação específica sobre a devolução de imóveis no Brasil.
De um lado, as empresas se valem do que diz a Lei de Incorporação: “O contrato de compra e venda de uma unidade é irrevogável e irretratável”. Do outro, quem defende o direito ao distrato recorre a uma regra geral do Código de Defesa do Consumidor, que trata como abusivas as cláusulas que colocam o cliente em desvantagem exagerada. “Essa é sem dúvida a hipótese em questão”, diz o Idec, em nota. “Já que o fornecedor, além de ficar com o imóvel, ainda terá em mãos todo o valor pago pelo consumidor, essa situação caracteriza-se um verdadeiro enriquecimento sem causa, proibido pela legislação.”
As decisões, em geral, favorecem o consumidor. A Justiça tem concedido o direito de restituição entre 70% a 90% do que foi pago, com correção monetária. A retenção de 10% a 30% do valor pela companhia é para compensar despesas como publicidade, corretagem e elaboração de contratos. “Ninguém compra um imóvel pensando em devolver”, diz Tapai. “Quem busca essa opção ou está desesperado ou se deu conta de que fez um péssimo negócio.”
As incorporadoras estão em pânico. Principalmente porque as sucessivas perdas nos tribunais coincidem com uma das crises mais graves do setor. Segundo Meyer Nigri, a Tecnisa terminou o ano com uma média de dez devoluções por dia útil. “Chegamos ao ponto de distratar o mesmo imóvel nove vezes, o que é uma aberração.” A empresa teve de destacar uma equipe só para cuidar desses casos. Ainda assim, o número de distratos aumentou 46% no terceiro trimestre do ano passado, na comparação com 2014. As desistências fizeram as vendas líquidas caírem de R$ 306 milhões para R$ 135 milhões no período.
Na Rossi, o tema é tão sensível que o time criado para combater os distratos foi batizado de Swat, como a divisão de elite da polícia americana. Em 2015, até setembro, a incorporadora, que é uma das mais endividadas do setor, conseguiu reduzir os distratos para R$ 775 milhões, de R$ 990 milhões, em 2014.
Assim como as concorrentes, a Rossi tem se desdobrado para evitar os distratos. Entre as alternativas, as empresas estão oferecendo financiamento direto, troca por um imóvel mais barato e descontos. “Antes, o tema era tratado como exceção. Criamos uma área específica para que não vire regra”, diz Fernando de Mattos Cunha, diretor financeiro da Rossi.
Em paralelo às soluções caseiras, o setor começou a se articular para definir regras que não afetem suas finanças. “Estamos em contato com o Ministério Público e com órgãos de defesa do consumidor para encontrar uma solução”, diz Nigri. O argumento das empresas é de que, ao devolver uma unidade, o consumidor coloca em risco a conclusão do empreendimento, podendo prejudicar outros compradores. “Não é só a visão do consumidor que está em jogo, mas o contrato de um bem que não está dissociado do resto e compromete outras famílias”, defende Eduardo Fischer, diretor da MRV.
Com as empresas segurando os lançamentos, a tendência é que o número de entregas e, consequentemente, de distratos, caia nos próximos anos. Em 2016, no entanto, vai persistir. O relatório da Fitch estima que, se 35% das unidades vendidas forem canceladas, os distratos chegariam a R$ 6 bilhões entre as principais empresas do setor.
VEJA ONDE ESTÁ O METRO QUADRADO MAIS CARO DO BRASIL
FABIO MOTTA/ESTADÃO
1º Rio de Janeiro
O preço médio do metro quadrado no Rio de Janeiro ficou em R$ 10.438 em 2015. No ano, o preço caiu 1,36%
Expectativa. A dificuldade dos consumidores de pagar o imóvel novo também mudou a rotina de antigas conhecidas do mercado imobiliário: as empresas de leilão. Nos últimos dois anos, elas viram o número de unidades retomadas por bancos mais que dobrar, embora as vendas tenham permanecido no mesmo patamar. Pelo menos, por enquanto. Isso porque as instituições financeiras tomaram mais imóveis de clientes inadimplentes, mas ainda estão tentando recuperar a totalidade da dívida. A expectativa dos leiloeiros e dos investidores é que até o fim deste semestre, as instituições financeiras comecem a revisar para baixo os preços mínimos pedidos nos leilões. 
Em 2015, a Zukerman, com sede em São Paulo e atuação no País inteiro, colocou 4,4 mil imóveis em leilões extrajudiciais – denominados assim porque são tomados pelo banco depois de um período de atraso no pagamento, sem passar pela Justiça, um detalhe que também torna o negócio mais arriscado. Em 2014, eram 3,8 mil e, em 2013, 1,8 mil. Embora a oferta tenha disparado, o volume de negócios fechados manteve-se estável: entre 930 e 950 nos últimos dois anos. “Como há muita promoção de imóveis novos, o preço do leilão ainda não está atrativo. A tendência é que os bancos comecem a ceder”, diz o leiloeiro Mauro Zukerman. 
Ainda assim, os leilões têm chamado a atenção de investidores dispostos a tomar risco e conhecedores dos meandros jurídicos desse negócio. Em 2015, o advogado catarinense Jefferson Santana pagou R$ 112 mil à vista por um imóvel que valia R$ 180 mil e ainda estava ocupado. “É preciso estudar muito a oportunidade para não perder dinheiro”, diz. “Se der certo, pretendo comprar um por ano.”

ESTAÇÃO SÉ DO METRÔ TEM EQUIPAMENTO MULTIFUNCIONAL QUE TRANSFORMA LATAS E GARRAFAS PET EM DESCONTO NA CONTA DE LUZ, EM LIVROS E NO BILHETE ÚNICO


Novidade no país, uma máquina multifuncional que automatiza a coleta seletiva de latas e garrafas pet oferece um programa de benefícios que dá descontos em bilhetes de transporte, conta de luz e livrarias.  Desde o dia 20 de setembro ela está na estação Sé do Metrô de São Paulo. A Retorna Machine foi instalada na área livre do local, em frente às bilheterias, com promotores para orientar sua utilização.
Aeroportos, estações de metrô, terminais de ônibus e shoppings centers serão os principais pontos de instalação do novo equipamento urbano na capital paulista.
Além da capacidade de armazenamento, de mais de mil recipientes aproximadamente, a máquina tem dois painéis laterais com LED´s, para veiculação de mídia, e uma tela touch-screen de 42´ na parte frontal, que interage com os usuários. Rede wi-fi, câmera, vídeo, impressora são alguns dos recursos da Retorna Machine, que também identifica códigos de barra e QR-codes, o que permite interligação com vários sistemas e desenvolvimento de programas de relacionamento e incentivos. 
A máquina tira fotos e grava vídeos que podem ser postados nas redes sociais. Também pode operar com programações diversas como pesquisa de mercado e campanhas promocionais
Criada na China, a Retorna Machine funciona em cerca de 1200 locais de Pequim. O modelo brasileiro, porém, é inédito e exclusivo, sendo o único, em todo o mundo, que opera com programa de fidelização de usuário a partir de um software desenvolvido no Brasil, em parceria com uma empresa brasileira de tecnologia com atuação global. 
Retorna Machine é multifuncional, pois coleta, identifica e qualifica produtos descartados, pontua e conversa com o usuário, além de veicular mídia. Seu funcionamento é simples e intuitivo: em três toques é criada uma conta para o programa de benefícios, com nome de usuário, e-mail e senha.

Esses pontos poderão ser revertidos em recompensas ou doações a instituições. Basta acessar sua conta através da Retorna Machine, pelo site da Triciclo (empresa brasileira responsável pela iniciativa) ou pelo Aplicativo Retorna Machine (que estará disponível a partir do dia 5 de outubro de 2.015), e efetuar a troca pretendida.
Atualmente, a Triciclo conta com a AES Eletropaulo (projeto Recicle Mais, Pague Menos) para efetuar a troca dos "pontos triciclo" em desconto na conta de luz.  Outra parceira é a PLDevice, com resgate de "pontos triciclo" em crédito no Bilhete Único. Uma terceira participante é a Saraiva, para troca de "pontos triciclo" em pontos do Saraiva Plus, permitindo desconto em livros e demais produtos. O usuário também poderá reverter seus pontos em doação para o Projeto Arrastão, parceira da Triciclo.
Hoje, 100 "pontos triciclo" valem R$ 0,35 na troca por créditos no Bilhete Único e R$ 0,27 na conta de luz. Na Saraiva, será uma troca de "pontos triciclo" por pontos Saraiva Plus.
Em outubro, serão inaugurados pontos no Shopping Butantã, Shopping Jardim Sul e Shopping Metrô Santa Cruz. Em novembro, no Terminal Rodoviário do Tietê. Está em desenvolvimento o crédito em telefonia pré-paga, wi-fi propagado pela máquina e vale- alimentação.
Até o fim de 2015, mais 18 máquinas serão instaladas em São Paulo, com capacidade de coleta estimada em 20 mil unidades diariamente, atingindo um público aproximado de dez milhões de pessoas com campanhas de comunicação. 
Máquinas no Metrô
Atualmente, o Metrô tem instalada em suas estações 88 máquina dispensadoras de produtos. Dentro os principais produtos oferecidos estão livros, revistas, refrigerantes, e alimentos. Além disso, nos últimos meses houve uma diversificação neste segmento e as vending machines passaram a comercializar cosméticos e flores para presente.
SÃO PAULO - Transformar lixo em dinheiro. É isso que faz a Retorna Machine, o primeiro projeto da empresa Triciclo, que quer criar soluções sustentáveis para problemas práticos.

As máquinas funcionam como coletoras de garrafas PET e latinhas de alumínio e creditam pontos para cada uma delas (10 para PETs e 15 para latinhas) a uma conta que os usuários devem criar pela internet. Os pontos podem ser trocados por descontos na conta de luz, pontos no programa fidelidade da livraria Saraiva ou créditos no Bilhete Único. Mas já existem negociações oferecer descontos em outros serviços como gás, luz e até créditos no celular pré-pago. O cadastro e acompanhamento do saldo de pontos pode ser feito na própria máquina, no siteou em um aplicativo para celular. 

Pelo sistema de pontuação atual, cada garrafa PET vale 10 pontos e cada latinha vale 15. Assim, para conseguir os 3,50 reais de uma passagem, são necessárias 100 garrafas ou 67 latinhas. Já na Eletropaulo, cada 100 pontos equivalem a um desconto de 27 centavos na conta. Parece pouco, mas na verdade, cada embalagem acaba valendo mais assim do que se fosse vendida separadamente para empresas de reciclagem. De qualquer forma, ainda é possível doar a pontuação acumulada para duas ONGs. 

A ideia da empresa veio de três amigos de infância que queriam empreender em algo que tivesse ligado à sustentabilidade. “Com esse projeto, nós queremos criar uma conscientização na população para a reciclagem e dar um destino adequado ao recicláveis”, diz Felipe Cury, de 25 anos, um dos fundadores da empresa. 


Retorna Machine na Sé: maior movimento (Crédito: Triciclo / Divulgação)

Para usar a máquina, é necessário que as embalagens estejam com os códigos de barras. “Porque assim conseguimos mapear a cadeia de produção e distribuição”, explica Felipe. 

A primeira Retorna Machine foi instalada em setembro, no Metro da Sé, e hoje já há mais de 4 500 usuários cadastrados. Um deles, que usa a máquina toda semana, já resgatou 12 reais em passagens de ônibus. As outras quatro estão no Shopping Santa Cruz, no Emporium São Paulo, no Shopping Butantã e no Terminal Tietê. Mais 15 máquinas devem ser instaladas até março do ano que vem. Na China, já há mais de 1 400 máquinas do tipo, subsidiadas pelo governo.


“Nas segundas-feiras sempre temos mais recolhimento, porque as pessoas começaram a guardar embalagens no final de semana, em vez de jogar no lixo, para trocar por pontuação”, diz Felipe. Até agora, quase 44 000 embalagens já foram recolhidas. Um percentual delas é doado para a cooperativa Vira-Latas, de catadores e outra parte vai para a Recicla BR, a maior empresa de reciclagem do Brasil. Para as empresas, como a Eletropaulo, por exemplo, é interessante participar do projeto porque ele entra em seu relatório de sustentabilidade. 

Hoje, as máquinas só recebem latas e garrafas mesmo mas, em um futuro próximo, a empresa quer passar a recolher também potes de cosméticos e margarinas e embalagens de outros produtos. Há também a ideia de instalar as máquinas de recolhimento em pontos de venda do varejo. “Colocamos nos metrôs por causa do alto fluxo de pessoas, mas os preços dos aluguéis são muito altos, o que acaba inviabilizando uma expansão mais rápida”, diz. 

Hoje, Triciclo, empresa de Felipe e seus dois sócios, tem o seu faturamento baseado em mídia programática e ações com parceiros. É possível, por exemplo, trocar 500 pontos por mini panetones da Bauducco.