quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Hospitais criam rede por práticas 'verdes'


CLARISSA THOMÉ / RIO - O Estado de S.Paulo
Uma rede de hospitais "saudáveis e verdes" está sendo construída no Brasil. Iniciativa da organização internacional First Care Without Harm (Saúde sem Dano), a ideia é reunir as instituições que se comprometem a tratar resíduos, reduzir consumo de água e energia, substituir substâncias químicas perigosas e construir prédios sustentáveis, entre outras ações.
Hospital São Vicente de Paulo, no Rio: projeto sustentável inclui 'telhado verde' - Tasso Marcelo/AE
Tasso Marcelo/AE
Hospital São Vicente de Paulo, no Rio: projeto sustentável inclui 'telhado verde'
Vinte e cinco hospitais, entre eles o Sírio-Libanês, e redes de assistência, como Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), Amil, Santa Casa de São Paulo e Pró Saúde aderiram à rede, fundada no mês passado.
Essas instituições se comprometem a cumprir metas sustentáveis. A expectativa é alcançar 700 dos 7 mil hospitais brasileiros em dois anos.
"Nós não certificamos o hospital, o que exige um rigoroso sistema de auditoria. Para entrar na rede, as instituições têm de cumprir ao menos dois dos dez objetivos e assumir o compromisso de forma séria de ampliar a atuação para se tornar um hospital sustentável", afirma o coordenador do conselho consultivo do Projeto Hospitais Saudáveis, Vital Ribeiro.
A proposta da rede é que as instituições - públicas e particulares - troquem experiências e encontrem soluções locais para problemas comuns.
O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) será o primeiro hospital federal a ingressar na rede. Entre as metas cumpridas está o banimento de mercúrio. Termômetros e instrumentos para medir pressão que utilizavam o metal pesado foram substituídos por aparelhos digitais.
Outros objetivos foram alcançados: mais de 20 toneladas de lixo foram recicladas em 6 meses, o resíduo biológico, que chegava a 30% do lixo, foi reduzido para 11%, o consumo de energia e água baixou. "Há um esforço mundial para termos hospitais saudáveis e verdes. Para ingressar na rede, precisávamos cumprir dois objetivos; alcançamos quatro", diz o gerente de resíduos de saúde, Robson Monteiro.
Tendência. Cresce no setor de saúde iniciativas de hospitais sustentáveis. Reaproveitamento de água e iluminação natural já são corriqueiros nas novas obras. Mesmo os mais antigos se adaptam. No Hospital São Vicente de Paulo, na zona norte do Rio, erguido no fim dos anos 1970, a solução foi criar tetos verdes, que reduzem a temperatura interna entre 6°C e 8°C. Nas reformas, árvores nativas foram mantidas e incorporadas ao projeto arquitetônico.
Em dezembro, será inaugurado no Rio o primeiro hospital certificado pelo Green Building Council, organização que atesta se prédios são sustentáveis, desde a construção à operação. O Hospital Unimed-Rio, na zona oeste, custou R$ 100 milhões - entre 15% a 20% empregados em materiais e equipamentos com suficiência energética.
"Há uma questão de consciência pela sustentabilidade, mas também uma redução nos custos de operação", afirma Flávio Kelner, sócio diretor da RAF Arquitetura, que desenvolveu projetos de prédios verdes no Rio e em São Paulo.

A ilusão da igualdade, na revista Fapesp


CARLOS HAAG | Edição 194 - Abril de 2012
© PASCAL DELOCHE / GODONG / OPÇÃO BRASIL IMAGENS
Parabólicas se misturam à miséria na favela do Morro Dona Marta, Rio de Janeiro
Diversas pesquisas têm mostrado que a desigualdade econômica de renda corrente (proveniente de salários, pensões, juros) tem se reduzido sistematicamente no Brasil desde o início da décaca passada. Pesquisadores estimam que, se mantivermos o ritmo observado recentemente, em 2030 atingiremos o nível de desigualdade econômica semelhante ao de alguns países desenvolvidos, como o Canadá, onde há pouca diferença de renda entre os cidadãos e um altíssimo padrão de bem-estar social.
Não é fácil, porém, visualizar esse “Canadá de médio prazo” da janela do carro. “Apesar dessa queda, ainda estamos entre os 12 países mais desiguais do mundo, onde 1% dos brasileiros se apropriam da mesma renda que os 50% mais pobres e os 10% mais ricos têm 40% da renda”, explica o economista Claudio Dedecca, professor titular do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os indicadores obtidos pela pesquisa A desigualdade socioeconômica no Brasil, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento Superior (Capes), e coordenada pelo economista, cujo desenvolvimento metodológico tem sido incorporado em outros projetos realizados em equipe com os professores Walter Belik e Rosana Baeninger, da Unicamp, apontam para a necessidade de uma abordagem multidimensional das desigualdades na sociedade brasileira que não leve apenas a renda em consideração. “Não se pode negar o declínio da desigualdade da distribuição da renda na última década e de como essa recomposição resultou num recuo da pobreza de natureza monetária”, diz o economista.
“Mas é preciso falar de desigualdades em lugar de desigualdade. A baixa renda é apenas um dos riscos sociais a que se encontra exposta a população pobre. Temos que analisar ainda o acesso dessa população aos bens e serviços públicos como educação, saúde, terra, trabalho, alimentação, transporte, saneamento, água e habitação. A pobreza é uma situação de fragilidade socioeconômica de natureza multidimensional”, observa Dedecca. “Não basta combater a pobreza monetária: temos que reduzir os riscos socioeconômicos da população em miséria extrema. Os dados da pesquisa indicam que esse grupo ainda sofre com uma elevada vulnerabilidade no acesso ao mercado de trabalho e aos bens e serviços públicos e sociais. A redução desses riscos sociais, que é o objetivo real do crescimento, foi pequena, e os elementos de desigualdade de 2003 continuam presentes hoje”, explica.
“Se a população pobre aumentou seu poder de compra, continua alijada do acesso aos bens sociais. De que adianta ter renda canadense sem ter saúde, educação, habitação e saneamento de qualidade mínima? Os resultados obtidos pela nossa pesquisa mostram a manutenção de uma elevada desigualdade para a maioria dos indicadores”, fala o pesquisador. “A experiência dos países desenvolvidos mostra que fortalecer a renda reduz a pobreza, mas não a desigualdade”, concorda a economista Celia Kerstenetzky, da Universidade Federal Fluminense (UFF), coordenadora da pesquisa O Estado do bem-estar social no Brasil em perspectiva comparada. “Os Estados com melhor padrão de bem-estar social optaram por um nível de consumo digno, mas com políticas sociais amplas, universais e de qualidade elevada.”
© PASCAL DELOCHE / GODONG / OPÇÃO BRASIL IMAGENS
A tecnologia adentra os lares mais simples da favela carioca
Saneamento
“Algumas modalidades de bens e serviços podem ser acessadas via renda monetária ao menos para uma parcela da população, com maior poder aquisitivo. Mesmo assim, alguns destes bens ou serviços não são passíveis de individualização no seu fornecimento, como saneamento e transporte público. Para os segmentos mais pobres da população, eles necessitam ser fornecidos gratuitamente ou de modo subsidiado”, pondera Dedecca. Ou seja, desigualdade não é sinônimo apenas de falta de renda, mas de acesso à cidadania e serviços públicos que, no caso dos mais pobres, dependem da ação do Estado. “Assim, mesmo que os programas de transferência de renda tenham tirado 1,3 milhão de pessoas da miséria, os indicadores multidimensionais revelam a permanência de uma elevada vulnerabilidade de inserção no mercado e de acesso aos serviços públicos básicos”, diz. Em 2009, 3,2 milhões de famílias estavam nessa situação, boa parte não enquadrada nos critérios dos programas do Estado.
A política social brasileira vem conhecendo uma ampliação de escopo e cobertura, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Durante o período de instabilidade e crise econômica do país, a política social avançou em termos de cobertura, porém impondo uma baixa qualidade dos serviços prestados. A partir de 2003 a política social ganhou maior centralidade nas estratégias dos governos, que ampliaram os investimentos para elevar a qualidade das ações e dos programas. “A retomada do crescimento com geração de empregos formais e com uma política de valorização do salário mínimo fortaleceu os mecanismos de distribuição de renda, favorecendo as políticas sociais”, diz Dedecca. De início, a queda da desigualdade se deu com o empobrecimento dos mais ricos ao mesmo tempo que os mais pobres foram protegidos pela revalorização do salário mínimo. “Não se quer queda da desigualdade à custa dos ricos, mas aproximar os pobres aos padrões mais altos de renda.”
A partir de 2008 as novas condições do crescimento econômico, caracterizadas pela redução da desigualdade de renda corrente e da pobreza de natureza monetária, fizeram-se graças à valorização das políticas sociais e de trabalho e renda, que implicou uma relação menos desequilibrada dessas com a política econômica, modificando, mesmo que ainda de modo incipiente, os parâmetros adotados por técnicos e especialistas em orçamentos públicos. “Para isso, aumentamos muito os gastos federais com transferências de renda, que hoje representam 9% do PIB. Mas não se viu uma eficácia distributiva em função disso. A melhoria na distribuição de renda pouco teve a ver com o Bolsa Família, por mais que o programa alivie a vida das pessoas em pobreza extrema”, observa o economista Claudio Salm, da UFRJ, autor do livro Políticas sociais em tempo de crise (Editora Brasília, 1990). “O mais importante nesse processo foi o aumento das oportunidades de trabalho, com mais e melhores empregos criados a partir do crescimento econômico”, argumenta.
“Será preciso manter as taxas de crescimento elevadas por muito tempo para se aumentar os gastos com os programas de renda do governo. É a ‘teoria do bolo’: os avanços sociais são subordinados ao crescimento econômico”, avalia Salm. Dedecca concorda que, ao atingir a cobertura da população-alvo, os novos avanços da política de combate à pobreza passaram a depender de aumentos dos benefícios e do escopo dos programas. Fatores que, com certeza, exigem um gasto maior que o PIB e em muito superior ao orçamento do governo. “Mas não podemos ficar presos ao crescimento e ao fator renda, mas encontrar instrumentos que reduzam a desigualdade com inserção produtiva e acesso a bens públicos com qualidade”, pondera o pesquisador.
Inserção
Há quem discorde. “O acesso a bens públicos contribui para o bem-estar das pessoas, mas é inegável que a variável para atacar a desigualdade é a renda”, acredita o economista Sergei Dillon Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), autor da pesquisa Erradicar a pobreza extrema (Texto para Discussão Ipea, 2011). “Depois de ‘dar os pobres aos mercados’ como consumidores está na hora de dar ‘os mercados aos pobres’ como trabalhadores. Isto é, tratá-los como protagonistas de sua história e menos como receptores de dinheiro público”, analisa Marcelo Neri. “Precisamos de um ‘choque de capitalismo’ para os pobres. A pergunta da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) é simples: “Quanto dinheiro você tem no bolso?”. É a soma da renda do trabalho, do que o aposentado da família ganha de pensão, do valor recebido dos programas sociais. Para o cidadão comum, é isso o que importa: o conforto que ele leva para a casa da família. E você nota que o bolso do pobre cresceu mais, proporcionalmente, que o do rico”, afirma.
Os indicadores da pesquisa feita pela equipe de Dedecca pedem mais cautela e menos pressa. “Programas de renda sempre existirão no país. Levará um tempo razoável para que essa população consiga retornar sozinha ao mercado de trabalho.” O fosso existente de renda das famílias pobres em relação à média do total de famílias é significativo. As primeiras auferem um rendimento médio per capitacorrespondente a menos de 4% do valor médio. Em relação aos rendimentos das políticas públicas, as famílias pobres recebem um valor correspondente a 1,4% daquele observado para a média do total das famílias Assim, a inserção produtiva, vista como “porta de saída” dos programas de transferência de renda, é complexa e limitada.
“Além disso, os indicadores mostram que a inserção não é a solução para a fragilidade social e é de difícil consecução: um de cada quatro membros das famílias pobres está desempregado, e os que trabalham vivem na informalidade”, adverte Dedecca. Sem vínculo formal, caem as chances de rendimentos adequados, de acesso a crédito, serviços bancários ou proteção social mínima. As diferenças regionais não atenuam as dificuldades. Segundo a pesquisa, a densidade da pobreza não tem relação direta com o grau de desenvolvimento econômico: os estados da Bahia e São Paulo, que possuem um notável contraste industrial, são responsáveis por um quarto das famílias na miséria.
Até o “bônus demográfico” (ver “Brasil em transição demográfica”, na edição 192 dePesquisa FAPESP), a queda da fecundidade geral no país que possibilitaria maior oferta de emprego, não ocorrerá se a desigualdade se mantiver. “As famílias são menores, mas há problemas na sua composição: os pobres têm ‘taxas de dependência’ elevadas: a proporção de familiares em idade inativa é muito superior à média brasileira, o que diminui a chance de inserção produtiva”, conta Dedecca. Além disso, há um índice alto de chefias femininas e de negros nesses estratos. Com a discriminação, de gênero ou raça, caem ainda mais as chances de inserção. Para as mulheres, isso se reflete no tempo gasto com a organização das famílias, gerando dupla jornada e informalidade.
© LEO RAMOS
Exemplo de produção para consumo próprio: horta comunitária feita em Embu, São Paulo
Informalidade
Informalidade, aliás, que em geral se converte em desigualdade, em todos os gêneros e raças. A exclusão da formalidade do mercado implica necessariamente a exclusão da proteção social derivada dele. Fator que pode influenciar outro indicador: a elevada taxa de mortalidades perinatal nos segmentos pobres, em muito superior à média do país e em crescimento: de 2003 a 2009, os índices subiram de 25,57 mortes por mil nascidos para 36,90 mortes por mil nascidos. A falta de acesso à Previdência tem números muito altos para qualquer programa social dar conta: mais de 9,5 milhões de famílias sem nenhuma proteção.
Existem indicadores positivos, mas com ressalvas, como o aumento da escolarização de crianças entre 4 e 16 anos, próximo da média nacional, indicando a universalização da educação da nova geração. Ao mesmo tempo, cresceu o indicador de defasagem escolar, prova de que a universalização aconteceu, mas sem qualidade. Mesmo o fator mais celebrado, o aumento da renda vem com atenuantes. O poder de compra dos pobres cresceu, mas não os fez mais saudáveis. Há índices crescentes de má nutrição e de obesidade. Nesse caso, há mais dinheiro para alimentação, mas a dieta é pobre e com muito carboidrato. “Os pobres são influenciados pelas propagandas e comem mal. Esses dados apontam problemas futuros de saúde”, alerta Dedecca. A área rural, muito penalizada nos indicadores, ao menos nesse leva vantagem ao produzir para consumo próprio o que permite acesso a alimentos de maior valor nutritivo.
Essa vantagem levou o governo federal a estimular essa produção como forma de inserir o meio rural no mercado. “Não rejeito a ideia, mas segundo os índices é uma tarefa quase inviável diante da ausência de demanda e das precárias condições de mercado. Essa prática atenua a pobreza rural, mas é insuficiente para melhorar os indicadores sociais tão desfavoráveis”, diz o pesquisador. O que é ruim nas metrópoles é pior nas áreas rurais. “O Brasil se vê erroneamente como sociedade urbana. Temos mais de 30 milhões de pessoas na área rural”, diz Dedecca. “Mesmo com transferência de renda, é muito complexa a ação das políticas públicas e o acesso aos bens sociais nessas regiões”.
Em habitação, perdem rurais e metropolitanos, ainda que alguns números sejam animadores: as casas pobres, hoje, têm paredes e telhados na média nacional, assim como indicadores positivos de banheiro por habitação e moradores por dormitório. “O problema é a localização das casas, em geral em regiões sem acesso a esgoto, pavimentação ou água encanada. Eles também estão abaixo da média na coleta de lixo, no uso de combustível adequado para cozinhar, na posse de geladeiras para conservação dos alimentos.” As moradias são construídas sem orientação técnica, aumentando situações de risco, já potencializadas pela localização em áreas perigosas como encostas de morros. Um dado de habitação surpreende: a proximidade dos índices de famílias pobres e famílias da média nacional vivendo mais de quatro anos no mesmo município. “Isso indica que a migração não é um fator determinante de desigualdade”, analisa.
Todos esses fatores questionam a entusiasmada visibilidade pública dada à questão da queda da desigualdade durante a década passada. “Ainda assim, a evolução recente das desigualdades no país, mesmo que não tenha produzido os resultados positivos esperados, mostra, pela primeira vez, uma fase de crescimento com capacidade distributiva”, lembra Dedecca. “A reprodução da relação entre crescimento e distribuição com uma maior qualificação das políticas públicas poderá se traduzir em resultados socioeconômicos mais expressivos, com a possibilidade de uma transformação social que se traduza em redução das desigualdades com maior justiça social e constituição de um efetivo Estado republicano, onde a cidadania seja um bem comum a toda a sociedade.” Daí, sim, será possível ver o Canadá.

Retomando a agenda legislativa


Por Arnaldo Jardim

Passado o primeiro turno da eleição municipal, é hora da retomada da agenda legislativa.  Os embates eleitorais nas cidades com mais de 200 mil eleitores não devem postergar a votação de uma agenda “positiva” no Congresso Nacional. Por isso, reitero meu compromisso com a discussão de projetos capazes de impulsionar a economia brasileira.

Como presidente da Frente Parlamentar de Infraestrutura, considero prioritário na agenda a análise da Medida Provisória 579/2012, matéria que trata da redução da tarifa de energia elétrica a partir do próximo ano e também altera a legislação propondo a prorrogação das concessões de geração, transmissão e distribuição de eletricidade.

O pacote energético lançado pelo governo prevê aporte de R$ 3,3 bilhões para substituir recursos da RGR (Reserva Geral de Reversão) e CCC (Conta de Consumo de Combustíveis), dois dos nove encargos do setor elétrico que serão extintos para permitir a redução da tarifa de eletricidade. A redução do custo da energia é positiva e bem-vinda para melhorar a competitividade do setor industrial, mas a renovação das concessões do setor elétrico por meio de medida provisória será muito questionada.

Apesar da questão das concessões estar em discussão desde 2008 no âmbito do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), o governo lançou mão da MP supondo que o Parlamento, rapidamente, se posicione sobre um assunto dos mais complexos. Esse não é instrumento adequado, sua constitucionalidade é questionada por inúmeros juristas.

Reafirmo que a referida prorrogação deveria ser tratada por meio de projeto de lei, único caminho para dissipar as incertezas jurídicas. O tratamento desse tema por meio de projeto daria maior clareza na definição da incorporação dos ganhos de investimentos já amortizados pelos atuais concessionários.
Apresentei 62 emendas à MP 579 e sou membro da comissão mista de deputados e senadores que vai analisar o texto antes da votação nos plenários da Câmara e do Senado. Em linhas gerais, as emendas tratam da desoneração do setor ao aumento de prazo para a manifestação das concessionárias sobre o interesse em prorrogar o contrato; indenizações por gastos e do processo futuro para licitação à auditoria independente para arbitrar a amortização no final do processo.

Destaco ainda que é indispensável dissipar um clima de insegurança regulatória que se instalou a partir de sinais “intervencionistas” na medida editada.
Não menos importante é a Medida Provisória 577/2012, proposta que abriu espaço para intervenções do governo federal nas companhias elétricas que estão com situação financeira ruim. Na prática, a MP extingue a concessão atualmente controlada pelo Grupo Rede e o governo assume a prestação temporária do serviço público de energia elétrica. Concordo que o governo deve tomar iniciativas para garantir a qualidade do serviço de fornecimento de energia elétrica, mas a atual legislação não prevê a intervenção. Se a MP não for aprimorada estabelecendo garantias e objetividade, causará grande incerteza no setor elétrico.

As emendas que apresentei a essa MP caracterizam aquilo que pode ser uma incapacidade na prestação de serviço adequado pelo concessionário em dificuldades, e de que forma isso pode ser rigorosamente previsto na legislação para que a intervenção, quando for necessária, não fique a critério de avaliações subjetivas.

A agenda legislativa inclui ainda a análise da Medida Provisória 576/2012, que cria a EPL (Empresa de Planejamento e Logística S.A.), o chamado pacote de logística para melhorar as condições de infraestrutura de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos brasileiros.  É um programa dos mais ousados para destravar o nó logístico por meio de concessões e de PPPs (Parcerias Público-Privadas).

A MP 575/2012 complementa o aperfeiçoamento das PPPs com a definição de normas para licitação e contratação desse mecanismo. As PPPs se apresentam como alternativa para o país aumentar os investimentos em infraestrutura e também podem ter um papel fundamental para garantir um crescimento duradouro e sustentável. Há tempos como presidente da Frente Parlamentar Mista da Infraestrutura tenho defendido tal tese e festejo o fato de que a referida medida provisória incorpora pontos importantes do projeto de lei 2892/2011, apresentado por mim sobre o mesmo tema.

Em resumo, a missão do Legislativo é trabalhar já para o país continuar avançando no rumo do crescimento econômico e social.  
 
ARNALDO JARDIM - Deputado Federal (PPS/SP)
Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Infraestrutura Nacional