A Orizon Valorização de Resíduo foi a primeira empresa a vencer leilão de energia realizado pelo governo com uma usina térmica que gera energia a partir do lixo. A concorrência, realizada nesta quinta-feira (30), movimentou contratos para abastecer cinco distribuidoras do país.
Com potência de 20 MW (megawatts), o projeto custará R$ 520 milhões e será construído em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. A potência é equivalente ao consumo de 320 mil pessoas, segundo a empresa vencedora.
O custo de geração ficará em R$ 549 por MWh (megawatt-hora), deságio de 14% em relação ao teto previsto na concorrência. O valor é equivalente ao da última térmica a gás natural a entrar em operação no país, a GNA 1, no norte-fluminense, que recebe R$ 552 por MWh gerado.
Foi o primeiro leilão de energia promovido pelo governo com possibilidade de participação de projetos de geração movidos a resíduos sólidos urbanos. Segundo a Orizon, a usina vai consumir cerca de 300 mil toneladas de resíduos por ano.
"Representa uma contribuição extremamente relevante, sobretudo neste cenário de crise energética com uma matriz limpa, renovável e de alta eficiência, já que se encontra próxima aos grandes centros urbanos", disse em nota o diretor-presidente da empresa, Milton Pilão.
A geração de energia a partir do lixo tem hoje participação marginal na matriz energética brasileira, mas o setor espera grande crescimento a partir da aprovação do novo marco do saneamento básico, que prevê concessões também para a gestão do lixo nas cidades.
Segundo a Abetre (Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes), o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2019, volume com potencial para produzir energia suficiente para abastecer todo o estado de Pernambuco.
“A agenda do governo pode ampliar para até 5% a utilização desta fonte de geração, que hoje não chega a 0,5%", disse Pilão, da Orizon.
O leilão desta quinta teve a participação de apenas cinco distribuidoras, que compraram uma capacidade 860 MW de energia em contratos de 15 a 25 anos. A baixa adesão já era esperada pelo mercado, diante da queda na demanda provocada pela pandemia.
O leilão deveria ter sido realizado em 2020, mas foi adiado pela pandemia. As distribuidoras que compraram contratos foram Celpa, Cemar, CPFL Jaguari, CPFL Paulista e Light. A energia será entregue a partir de 2026.
Além da usina da Orizon, elas compraram energia de parques eólicos e solares e de usinas térmicas a biomassa, que venderam o maior volume do leilão. No total, a concorrência contratou investimentos de R$ 3 bilhões a um preço médio de R$ 238 por MWh.
"O resultado vai ao encontro do nosso objetivo de modernizar o parque brasileiro e substituir usinas mais caras por empreendimentos mais baratos”, disse o presidente da CCEE (Câmara Comercializadora de Energia Elétrica), Rui Altieri.
O governo realiza mais dois leilões de energia este ano. O primeiro, já em outubro, vai contratar térmicas para operação por um prazo de cinco anos, como medida emergencial para recuperar os reservatórios das hidrelétricas.
No segundo, contratará térmicas com entrega de energia a partir de 2026, com o objetivo de garantir uma reserva de capacidade para atendimento do sistema em momentos de maior consumo ou de pouca geração em fontes que dependem da natureza, como eólica ou solar.