A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) conseguiu sua primeira carta patente. O produto patenteado é o “Biodigestor modular para a produção de biogás, biofertilizante e bio-ração”, que foi licenciado para uma empresa de Recife, a Pernambuco Biosolos, que já trabalha com lixo. O pedido da carta patente foi feito em 2004.
A partir de apenas um projeto, o Pró-Natureza Limpa, coordenado pelo professor Camilo Mendoza Morejon, a instituição tem mais oito pedidos em tramitação. Destes, cinco já têm seus produtos em negociação para transferência de tecnologia nos moldes da Lei de Inovação.
O biodigestor transforma resíduos orgânicos em produtos de valor agregado nas formas gasosa, líquida e sólida, todos com mercado garantido, o que viabiliza o empreendimento comercial.
Segundo o professor Mendoza Morejon, diferente de outros biodigestores, este não consome muita água, já que não a usa para transportar o lixo, e não precisa ser instalado em terreno com declive – portanto não polui rios vizinhos, o que acontece com frequência. Como é modular, se ajusta ao tamanho dos municípios e aproveita 100% do lixo que recebe, sem deixar resíduos.
“Trabalhamos com um modelo de gestão que considera o lixo como investimento e não custo, como hoje é encarado pelas prefeituras”, explica o professor Morejon. Sua equipe fez pesquisa no município de Toledo, no Oeste do Paraná, e obteve números que podem ser aplicados a outras cidades: do total de resíduos sólidos (71,3 toneladas) gerados pela população de 120 mil habitantes, 69% correspondem a resíduos orgânicos, 23% são recicláveis e 8% são compostos por rejeitos.
Atualmente, pelo menos 70 toneladas (98%) são destinadas ao aterro sanitário. Com o biodigestor modular e o uso do lixo reciclável, restariam apenas os 8% de rejeitos. E nem isso é problema para a equipe da Unioeste. Em parceria com a empresa Inomaq, de Toledo, a equipe está desenvolvendo tecnologia para tratamento da parcela de rejeito doméstico, lixo hospitalar e vários tipos de resíduos industriais. Com isso, o professor calcula que apenas 5,7 toneladas acabariam no aterro sanitário.
Até para as prefeituras, que gastam com o lixo em média 61% do que arrecadam com o IPTU, sua principal fonte de renda, o problema também pode ser fator de investimento. O professor avalia que até o aterro sanitário, embora aceito e incentivado por lei, traz problemas a longo prazo. No modelo de gestão que propõe, a coleta seletiva e a implantação do biodigestor viabilizariam o empreendimento industrial. De quebra, ainda ganha o meio ambiente.
LEI DA INOVAÇÃO - Lembrando a recente declaração da presidente Dilma Rousseff, de que o Brasil vai priorizar o registro de patentes como meta de avaliação científica (o modelo atual é focado na publicação de artigos), o professor Morejon aponta um movimento grande no Estado de apoio à inovação, de incentivo a parcerias com empresas privadas para que as pesquisas e processos desenvolvidos nas universidades cheguem ao mercado.
Ele cita a aplicação prática dos outros projetos que estão em processo de transferência de tecnologia – um sistema de purificação de biogás, que separa o gás carbônico; um desumidificador de biogás, um sistema de transporte e outro para preaquecimento do produto. “O que interessa é que o nosso esforço intelectual produza benefícios para a sociedade”, comenta.
Mas como conseguir em outros municípios que a população separe, além do reciclável, também o lixo orgânico? Morejon diz não acreditar que seja possível em função da consciência ambiental, nem pela imposição de uma lei. Para ele, a solução seria um incentivo, que pode ser até em dinheiro. A empresa coletora define um preço para o lixo, o que apenas se viabilizaria com a atribuição de um valor comercial ao resíduo orgânico.
Com a tecnologia desenvolvida na Unioeste, que transforma o lixo orgânico em produto de valor agregado, empresas podem ser atraídas em função da expectativa de retorno. E ainda pagaria à prefeitura para obter a concessão do lixo. Como vantagem acessória, este tipo de empreendimento gera empregos que não exigem qualificação, exatamente o que o Brasil está precisando neste momento.
Isso permite outro cálculo ao professor Camilo Morejon, que também é chefe da Divisão de Propriedade Intelectual da Unioeste. Quanto à concretização da inovação, que é fazer com que o resultado da atividade intelectual ganhe o mercado, a Unioeste possui eficiência de 73%, isto é: “73% dos produtos tecnológicos, com pedido de patente, estão atingindo o objeto maior da Lei de Inovação, que é viabilizar a inserção dos resultados da atividade intelectual no mercado”.