sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Prefeitura de SP planeja bosque na avenida 23 de Maio com 400 árvores, FSP

 Isabella Menon

São Paulo

A movimentada avenida 23 de Maio terá um bosque de quase 5.000 m² até o fim de janeiro. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a região deve contar com 357 mudas de árvores —até agora, segundo a Secretaria de Subprefeituras, foram plantadas 40.

O fragmento florestal é chamado de Bosque do Canário e está localizado após ao viaduto Doutor Manuel José Chaves, próximo ao Arcos do Bixiga, na região central. Por ali, serão plantadas árvores de 44 espécies da mata atlântica e do cerrado.

Movimentação de trânsito na avenida 23 de maio, em meados de dezembro. Região vai ganhar um bosque de quase 5 mil m² e 400 árvores
Movimentação de trânsito na avenida 23 de maio, em meados de dezembro. Região vai ganhar um bosque de quase 5 mil m² e 400 árvores - Rafaela Araújo - 12.dez.24/Folhapress

A região foi cercada em outubro de 2024. A prefeitura explicou, na época, que o local seria usado para a construção de um minibosque, com a previsão de entrega então até dezembro. A cerca ali seria provisória para a construção da área arborizada.

Um mês antes, a Folha tinha mostrado a formação de uma cracolândia naquele trecho.

Após a instalação das cerca, mesmo confinados, usuários insistiam em permanecer no ponto e estavam camuflados em meio aos pedaços de madeira fincados no chão. Eles tinham apenas um pequeno trecho aberto.

A prefeitura afirmou que as imagens da região mostravam "ocupações momentâneas ou periódicas, sobretudo por pessoas em situação de rua" no local. Também disse que 180 GCMs e 60 viaturas atuam dia e noite na região da cracolândia.

Em relação à construção do bosque, a reportagem voltou a questionar a gestão Ricardo Nunes (MDB) nesta sexta (3) se a obra tem como objetivo cessar o uso de drogas ao ar livre na região. Porém, até a publicação desta reportagem, a prefeitura não respondeu sobre esta questão.

Segundo a gestão municipal, um dos objetivos ao plantar espécies deste biomas é que os pássaros utilizem o bosque como um dispersor de sementes. O espaço não será aberto para visitação a fim de favorecer o desenvolvimento das mudas e não espantar a chegada dos animais.

A prefeitura espera que o bosque sirva como um fragmento florestal e um refúgio da biodiversidade na via. Também está em processo de implementação um jardim de chuva de 80 m², que visa captar as águas da chuva que vem das regiões mais altas.

Ainda segundo a gestão, há uma expectativa de que os restos de galhos, árvores e animais que caem no solo possam formar a Serrapilheira, uma camada de matéria orgânica deteriorada que conserva a fertilidade do solo.

O local foi escolhido devido à proximidade com o Bosque das Maritacas, que fica a pouco mais de um quilômetro do novo espaço. Assim, a prefeitura diz que busca formar um corredor de biodiversidade.

A expectativa é que o local diminua a temperatura da área, conhecida por receber um tráfego intenso de veículos durante boa parte do dia.

A cidade conta com outros oito Bosques de Conservação, localizados na Asa-Branca, Beija-Flor, Cambacica, Corruíra, Tuim, Periquito, Garça e Curicaca.

Drummond, o burocrata irreverente do Castelo, Álvaro Costa e Silva, FSP

 

Todo mundo sabe – principalmente os ladrões de óculos – que a estátua de Carlos Drummond de Andrade fica na avenida Atlântica. Obra do artista Leo Santana inspirada em foto de Rogério Reis, foi inaugurada em 2002, no centenário do poeta. Uma escolha de lugar perfeita, o que nem sempre ocorre com homenageados. Drummond está sentado num banco, de pernas cruzadas e de costas para a praia. Morando havia muitos anos entre Copacabana e Ipanema, já não se espantava com o mar.

Se a estátua ficasse na esplanada do Castelo não seria tão visitada. No entanto, o Castelo foi o canto de Drummond no Rio. Ele era ali uma figura popular, que podia ser vista quase todos os dias não apenas ao vivo, de terno e gravata, pasta na mão e andando com os braços colados ao corpo como no retrato exposto na vitrine da loja de um fotógrafo profissional. "Como se fosse um top-model ou um garoto-propaganda", brincava o amigo Otto Lara Resende.

A estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro - Rahel Patrasso - 16.jun.21/Xinhua

Em 1944, Carlos, o funcionário público, entrou pela primeira vez no Palácio Capanema, a sede do Ministério da Educação no Castelo. Trabalhou no prédio durante quase 30 anos. Escreveu no seu diário: "Lá embaixo, no jardim suspenso do Ministério, a estátua de mulher nua de Celso Antônio, reclinada, conserva entre o ventre e as coxas um pouco da água da última chuva, que os passarinhos vêm beber, e é uma graça a conversão do sexo de granito em fonte natural".

No documentário "O Fazendeiro do Ar", de Fernando Sabino e David Neves, o burocrata irreverente aparece e desaparece num esconde-esconde entre as pilastras do Capanema. No recém-lançado "A Intensa Palavra" —seleção de crônicas inéditas em livro publicadas no Correio da Manhã entre 1954 e 1969—, Drummond flagra no Castelo um menino de 10 anos vendedor de limão soluçando com a cabeça entre as mãos: "O rapa levou meus limões e arrebentou o caixote".

O Palácio Capanema —que escapou por pouco da arquitetura de destruição promovida no governo Bolsonaro— será reaberto após 10 anos. Não há estátua de Drummond, mas quem olha o vão de pilotis e a fachada com azulejos de Portinari percebe uma sombra feliz.

Bélgica proíbe cigarro eletrônico descartável e constrange Europa, FSP

 José Henrique Mariante

Berlim

O ano de 2025 começou na Bélgica com uma nova proibição: cigarros eletrônicos descartáveis agora são ilegais no país. Segundo Frank Vandenbroucke, ministro da Saúde belga, o banimento se deve "ao fato de que ele foi desenhado para atrair novos consumidores". No caso, jovens consumidores. "Cigarros eletrônicos contêm nicotina na maioria das vezes. Nicotina vicia. Nicotina faz mal à saúde. É isso", completou em entrevista a agências de notícias.

Não está em discussão um banimento total do produto, como ocorre no Brasil, mas a sua versão mais barata, que não pode ser reutilizada, está ameaçada na Europa. O Reino Unido já tem data para a proibição do dispositivo, na metade deste ano, enquanto Alemanha, França e outros países discutem como coibir seu uso.

Os cigarros descartáveis também são um problema ambiental, já que cada dispositivo que vai para o lixo leva consigo uma bateria e materiais não recicláveis para os aterros.

Pods descartáveis
OMS e diversas autoridades sanitárias, incluindo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), afirmam que os cigarros eletrônicos viciam como os cigarros convencionais - Raíssa Basílio/Folhapress

Vários países já proíbem a venda para menores, e as estatísticas mostram que esse é justamente o segmento mais vulnerável à adição. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), adolescentes na faixa de 13 a 15 anos consomem cigarros eletrônicos em média superior à de adultos. No Canadá, o uso na faixa de 16 a 19 anos dobrou entre 2017 e 2022; no Reino Unido, triplicou nos últimos três anos. Os dados da OMS são de 2023, mas nada indica que a tendência tenha se alterado.

Especialistas se dividem sobre o efeito do banimento, que poderia estimular o mercado ilegal, mas há consenso de que o vape é um problema de saúde pública desafiador para governantes e legisladores. A OMS sugere rigor absoluto na regulação ou na proibição, algo que o Brasil, por exemplo, não consegue cumprir.

Vandenbroucke afirmou esperar uma uniformização da legislação europeia antitabaco. "Nosso pedido para a Comissão Europeia é que acelere o debate. Precisamos modernizar as leis."

Ao contrário de outras áreas, em que o continente normalmente é visto como precursor de novas regulações e tendências globais, a União Europeia patina no caso dos cigarros eletrônicos. Críticos, incluindo o ministro belga, afirmam que as autoridades do bloco protelam as decisões por força do lobby da indústria tabagista.

A ombudsman da União Europeia, a irlandesa Emily O’Reilly, chegou a trocar farpas com a Comissão por uma alegada proximidade de alguns de seus integrantes com lobistas do setor. Entre as decisões travadas desde a metade do ano passado está a lista atualizada de locais onde o fumo, em qualquer formato, deveria ser permitido.

A nova legislação belga, por exemplo, amplia o número de espaços públicos onde não é permitido fumar qualquer coisa. As áreas habituais agora incluem instalações esportivas, zoológicos, parques e as proximidades de escolas e hospitais.

A cidade de Milão, na Itália, também começou 2025 com proibição semelhante. No entanto, o veto não vale para cigarros eletrônicos, isenção que mostra como os legisladores ainda veem cigarros convencionais e sua versão eletrônica como coisas distintas.

Há diversas abordagens para o problema no mundo. Além da proibição ampla, que ocorre em mais de 30 países além do Brasil, na Austrália, por exemplo, o dispositivo só é comercializado em farmácias. Na Hungria, versões coloridas e com sabores, mais apelativas a adolescentes, foram proibidas.

A OMS e diversas autoridades sanitárias, incluindo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), afirmam que os cigarros eletrônicos viciam como os cigarros convencionais, com o agravante de liberar doses muito maiores de nicotina e outras substâncias. A indústria defende que o dispositivo pode ajudar quem tenta parar de fumar.

Colocando ordem na desordem, Marcia Castro. FSP

 Ao tomar posse em 2023, o presidente Lula deixou claro que o acesso adequado à saúde era uma das prioridades de seu governo.

O longo tempo de espera para acesso a exames, procedimentos e atenção especializada, além de vazios assistenciais e gestão ineficiente de recursos, são gargalos da saúde que levam ao descrédito da população no SUS.

Esses gargalos resultam de problemas estruturais que acompanham o SUS desde a sua criação, a saber, o subfinanciamento e a frágil governança regional.

A imagem mostra várias pessoas sentadas em bancos de concreto ao lado de uma entrada iluminada, que parece ser de um hospital ou unidade de saúde. Algumas pessoas estão com expressão de cansaço ou desconforto, e uma delas usa máscara facial. Outras estão em pé, formando uma fila, sugerindo espera para atendimento. O ambiente é simples, com iluminação artificial, e o local parece movimentado, típico de um pronto-socorro ou unidade médica pública.
Pessoas aguardam atendimento na Upa City Jaraguá, em São Paulo - Ronny Santos - 29.abr.2024/Folhapress

Em fevereiro de 2023, o governo deu o primeiro passo para mitigar as longas filas. Lançou o Programa Nacional de Redução das Filas (PNRF), com foco na redução das filas de cirurgias eletivas, cujo tempo de espera havia se agravado durante a pandemia de Covid-19.

Em 2023, as cirurgias eletivas previstas no programa tiveram um aumento de 20% comparado com 2022. A estimativa para 2024 é de um aumento de 40%. A grande oportunidade de colocar ordem na casa surge com o Programa Nacional de Expansão e Qualificação da Atenção Ambulatorial Especializada, também conhecido como Programa Mais Acesso a Especialistas (Pmae) .

A iniciativa busca ampliar e qualificar a atenção especializada, garantindo o acesso às consultas e aos exames, a partir de encaminhamento realizado pela atenção primária. Inicialmente, o foco será em cinco áreas de cuidado integrado: oncologia, cardiologia, otorrino, oftalmologia e ortopedia.

A meta é que consultas e exames sejam realizados em no máximo 30 dias (para atenção especializada em oncologia) ou 60 dias (para as demais especialidades).

Em vez de entrar na fila várias vezes (o que leva ao diagnóstico tardio ou a desistência da busca por atendimento, resultando em morbidade e mortalidade precoces), o paciente entra na fila apenas uma vez e recebe cuidado integrado, ágil e com retorno para atenção primária para acompanhamento.

Em áreas onde há carência de profissionais de atenção especializada, a ferramenta Telessaúde permitirá a expansão do atendimento sem que haja necessidade de deslocamento do paciente, a não ser para realização de alguns exames que demandam equipamentos especiais.

O Pmae aumentará a agilidade e resolutividade do cuidado, a confiança da população no SUS e a eficiência na gestão de recursos, além de reduzir a detecção e tratamento tardios de agravos. Estados e municípios precisam aderir ao Pmae e elaborar um Plano de Ação Regional (PAR).

Até dezembro de 2024 todos os estados e 99% dos municípios haviam aderido ao programa (42 dos 44 municípios que ainda não aderiram estão em Sergipe). Programas regionais já elaborados cobrem mais de 80% do território nacional. Planos regionais são uma inovação importante! Reconhecem diferenças geográficas.

Municípios que cumprirem a meta de tempo de atendimento recebem, como incentivo, um repasse maior para custear o serviço. Além disso, o Ministério da Saúde monitorará mensalmente a fila de espera, o que hoje não acontece já que não existe um sistema nacional que permita acompanhar o tempo de espera.

O Pmae, se bem implementado e monitorado, pode ser tão inovador e disruptivo para a atenção especializada como a Estratégia de Saúde da Família foi para a atenção básica.

Feliz 2025 para o SUS e a saúde no Brasil!