terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Crise tucana obrigará Doria a cortejar deputados por apoio na Assembleia de São Paulo, FSP

Bancada do PSDB perdeu 11 cadeiras e terá realidade diferente na Casa

Artur RodriguesGuilherme Seto
SÃO PAULO
O governador eleito de São Paulo João Doria (PSDB), que tomará posse nesta terça-feira (1º), enfrentará realidade diferente dos predecessores tucanos na Assembleia Legislativa, onde o PSDB costumava reinar com tranquilidade.
O partido sempre teve facilidade para garantir ampla maioria para aprovar projetos e barrar CPIs inconvenientes. Agora, a bancada do partido perdeu 11 cadeiras na Casa --passou de 19 para 8. A posse dos deputados é em 15 de março.
"A gente tem uma fragmentação muito grande, são 24 partidos agora, 12 com um ou dois deputados. Isso dificulta construir uma base dialogando com partido, tem que lidar com indivíduos", diz o deputado eleito Paulo Fiorilo (PT), que fará oposição a Doria. 
Ele lembra que o fato de o PSL, partido de Jair Bolsonaro, querer disputar a presidência da Casa contra o tucano Cauê Macris pode gerar uma situação conflituosa com o partido, hoje o maior da Assembleia, com 15 cadeiras. 
Eleita com 2 milhões de votos, a advogada Janaína Paschoal, deputada estadual mais votada da história, afirma que disputará a presidência.
 
Ela sinaliza independência até de Bolsonaro e pode acabar gerando obstáculos para Doria na Assembleia.
Das 94 cadeiras da Assembleia, 52 serão ocupadas por novos deputados. Apenas 42 dos 77 deputados que tentavam a reeleição conseguiram a vitória. É a maior renovação desde 1994.
A tradição governista da Assembleia durante as gestões do PSDB que administraram o estado nos últimos 24 anos facilitou a realização de projetos de governo, como privatizações, e propiciou a contenção de inquéritos possivelmente desfavoráveis.
A gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, conseguiu se blindar de assuntos negativos dentro da Casa. Um exemplo foi a instauração da CPI da merenda, para investigar irregularidades no fornecimento de alimento para escolas estaduais --nesse caso, oito de nove deputados da CPI eram governistas.​
Além das possíveis dificuldades políticas, Doria enfrentará desafios nas áreas de segurança e de privatizações.
A principal plataforma de campanha do tucano foi a segurança pública. Ele prometeu que a polícia atiraria para matar e, ao assumir, sinalizou que pretende colocar em prática o discurso duro das eleições, transformando em vitrine o enfrentamento ao PCC.
Na Prefeitura de São Paulo, seu grande programa de desestatização, que prometia passar à iniciativa privada equipamentos públicos como o Anhembi, o estádio do Pacaembu e o parque Ibirapuera, não gerou nenhuma realização concreta até o momento
Doria deixou a prefeitura em abril, faltando 1.000 dias para o fim de seu mandato, para disputar as eleições.
No estado, o governador eleito anunciou a cifra de R$ 23 bilhões em desestatizações. A estrela do pacote é o sistema prisional, responsável por um orçamento de R$ 4,5 bilhões ao ano. SP tem 227 mil presos em 170 unidades, em ambiente dominado pela facção PCC.

João Doria toma posse e faz série de críticas aos 23 anos de PSDB no comando de SP, FSP

SÃO PAULO
João Doria (PSDB), 61, tomou posse como governador do estado de São Paulo na manhã desta terça-feira (1º). Em discursos na Assembleia Legislativa e depois no Palácio dos Bandeirantes, ele atacou os 23 anos de governos do PSDB no estado, apesar de pertencer ao mesmo grupo tucano, e chorou ao citar os seus pais.
Doria disse que o estado precisa deixar de "pensar pequeno" e que a partir de agora "São Paulo vai mudar, agora tem comando". O novo governador ainda pediu a reestruturação do partido, hoje sob o comando de Geraldo Alckmin, ex-governador do estado, derrotado na disputa presidencial e ausente na cerimônia. "Vamos ajudar o PSDB a estar sintonizado com o novo Brasil", disse Doria. 
Em relação a Alckmin, Doria fez apenas uma menção breve a ele durante todo seu discurso de cerca de 30 minutos na Assembleia, ao dizer que, ao promover mudanças no PSDB, não desrespeitaria a história construída pelo ex-governador e outros tucanos históricos, como os também ex-governadores Mário Covas (1995-2001) e José Serra (2007-2010) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Nos discursos, Doria prometeu ouvir as urnas e fazer um governo "com políticos" e não "de políticos". Ele afirmou que agora o Palácio dos Bandeirantes será o "palácio do trabalho" e que não morará lá, cortando assim o que seriam, na visão dele, privilégios e mordomias para seus familiares.
Em outra indireta a Alckmin, Doria prometeu o fim da "romaria de prefeitos" ao palácio. "Não vamos fazer romaria para cafezinho, chá." Alckmin é um conhecido apreciador de café, tanto em campanhas de rua como ao receber políticos para reuniões.
"Não espere aquilo que foi feito aqui no Palácio. Não quero fulanizar, mas a partir de agora vai mudar", disse o novo governador de São Paulo.
Em 2016, quando disputou a eleição à Prefeitura de São Paulo, Doria teve justamente em Alckmin seu principal cabo eleitoral. Eleito no primeiro turno, assumiu o município e passou a disputar contra o próprio então governador do estado a vaga de candidato do partido à Presidência da República. 
Doria perdeu essa disputa interna, abandonou a prefeitura após apenas 15 meses de gestão e deixou uma longa lista de projetos não realizados e uma série de metas não cumpridas no município. À época, decidiu disputar o Governo de São Paulo, eleição que conquistou no segundo turno, ao bater Márcio França (PSB), antigo vice de Alckmin. 
Além de Alckmin, outros tucanos com história no partido não compareceram aos eventos de posse de Doria, como o prefeito paulistano Bruno Covas, FHC, o senador Serra e o ex-governador Alberto Goldman.
Nos últimos 24 anos, o PSDB comandou o estado em 23 anos. Desde 1995, foram apenas duas rápidas interrupções, com Cláudio Lembro (DEM) em 2006 e França (PSB) em 2018.
Sobre a esfera federal, em suas falas nesta terça, Doria prometeu apoiar projetos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de reforma da Previdência, privatizações e manutenção da reforma trabalhista. "Se Jair Bolsonaro for um grande presidente, será bom para o Brasil e para os brasileiros." 
Também disse que os deputados tucanos trabalharão pela redução da maioridade penal e pelo fim do que chamou de "saidinhas" de presídios. 
Durante a campanha, o tucano colou sua imagem à de Bolsonaro, ao pregar o chamado Bolsodoria. Doria viaja à tarde para Brasília, onde participará da cerimônia de posse presidencial. 

DESAFIOS DE DORIA

No Governo de São Paulo, Doria enfrentará uma série de obstáculos, como uma bancada menor de seu partido na Assembleia. Além da política, ele terá desafios nas privatizações, segurança, mobilidade e educação.
O novo governador herdará contas relativamente em ordem e o menor índice de homicídios do Brasil, mas terá de contornar dificuldades que seus antecessores tucanos não enfrentaram, como uma bancada menor na Assembleia Legislativa. 
A principal plataforma de campanha de Doria foi a segurança pública. Ele prometeu que a polícia atiraria para matar e, ao assumir, sinalizou que pretende colocar em prática o discurso duro das eleições, transformando em vitrine o enfrentamento ao PCC.  
Entre as heranças negativas do tucanato, Doria terá de reverter uma série de erros na área da mobilidade. Os monotrilhos das linhas 15-Prata e 17-Ouro do metrô, vendidos como alternativas rápidas e baratas, por exemplo, estão atrasados e encareceram.
Tirar do papel parcerias e desestatizações prometidas na campanha estão entre os principais desafios de Doria. Na Prefeitura de São Paulo, seu grande programa de desestatização, que prometia passar à iniciativa privada equipamentos públicos como o Anhembi, o estádio do Pacaembu e o parque Ibirapuera, não gerou nenhuma realização concreta até o momento
No estado, o governador eleito anunciou a cifra de R$ 23 bilhões em desestatizações. A estrela do pacote é o sistema prisional, responsável por um orçamento de R$ 4,5 bilhões ao ano. SP tem 227 mil presos em 170 unidades, em ambiente dominado pela facção PCC.