sábado, 4 de junho de 2016

Muita tinta e dois anos depois. FSP


O começo de junho de 2014 foi tenso para a equipe da Companhia de Engenharia de Tráfego encarregada de cumprir uma nova missão: apagar vagas de estacionamento para pintar a primeira ciclovia da região central, na avenida Cásper Líbero. "Usamos tinta de baixíssima durabilidade e sinalização simples, usada em obras, para testar", disse Suzana Nogueira, em uma pedalada pelo centro com participantes de um festival dedicado às bicicletas, quase dois anos depois.
Ciclista e com nove bikes em casa, Nogueira coordena o Departamento de Planejamento Cicloviário da CET. "Mesmo dentro da companhia, falavam que era impossível fazer ciclovias", afirmou, sem saber, àquela altura, da presença da reportagem no passeio.
Passada a fase de incredulidade, elas se espalharam e, hoje, são 414,5 km de vias destinadas às bicicletas —seis vezes mais ciclovias do que há dois anos. "A gente achava que ia ser massacrado, mas depois passou. A rebeldia [dos moradores] dura no máximo 20 dias", disse, ao pedalar pelo largo do Paissandu.
As críticas podem ter amainado, mas ainda existem. Para Sérgio Ejzenberg, engenheiro civil e especialista em transporte com mestrado na USP, a administração da mobilidade urbana na gestão Haddad falha ao se concentrar nas bicicletas como marca: "Onde está o juízo de quem esquece os corredores de ônibus? Não se trata de ser contra a bicicleta. O que é necessário é ter lógica na administração da mobilidade, coisa que não houve. Houve uma bandeira política feita sem técnica, colocando a bicicleta na frente do ônibus. Esse plano nasceu errado".
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É fato, porém, que a rede cresceu e, junto com ela, o uso da bicicleta. "Independentemente da metodologia, há aumento do número de ciclistas", diz Nogueira, desta vez em entrevista à sãopaulo. Ela se baseia em contagens realizadas em vias principais, feitas pela administração municipal para a análise de tendências —os números não foram divulgados pela prefeitura.
"A ciclovia causa algum estranhamento no primeiro momento, em função da novidade, mas o que se verifica em seguida é um aumento do número de ciclistas", afirma o prefeito Fernando Haddad. "Eu me baseio em uma pesquisa do Ibope para afirmar que deve ter crescido em torno de 70% no primeiro ano."
A última pesquisa Datafolha sobre o tema foi feita em fevereiro de 2015, com 1.051 paulistanos. À época, 51% dos entrevistados afirmavam terem usado ciclovias. No levantamento anterior, em setembro de 2014, o índice era de 47%. Ainda na pesquisa de 2015, 66% eram a favor das faixas e 27% contra.
O aumento do interesse dos paulistanos pelas magrelas pode ainda ser verificado a partir de outros indicadores.
O Bike Sampa, o sistema de empréstimos de bicicletas patrocinado pelo banco Itaú, registrou quase o dobro do número de viagens nos últimos dois anos. De abril de 2014 a março de 2015, foram feitos 470 mil empréstimos. No mesmo intervalo de 2015 para este ano, o número saltou para 884 mil.
O saldo de usuários das laranjinhas aumentou em 360 mil, atingindo 627 mil pessoas. "Hoje, o uso é praticamente igual em todos os dias da semana, especialmente entre 16h e 18h", diz Israel Leite, diretor da Serttel, empresa que opera o serviço.
A expansão da bike também é vista nos trilhos. Nas linhas da CPTM, há 7.695 embarques de ciclistas por mês, 41% a mais do que há dois anos. No metrô, a cada domingo, 1.220 bicicletas são levadas a bordo, em média 22% a mais do que em 2014.
O uso dos 29 bicicletários da CPTM cresceu 26% desde 2014. Só em abril deste ano, os espaços receberam 72,2 mil veículos. "Vem muito mais gente do que podemos atender. Nossos bicicletários estão abarrotados", diz Silas Daniel Lima, gerente de Estações e Serviços da companhia.
É óbvio que, como em todas as metrópoles do planeta, ciclistas são minoria em relação aos usuários de outros meios de transporte. Basta dizer que em São Paulo, a frota de carros é de quase 6 milhões, aproximadamente metade da população. Já os ônibus transportam 7,7 milhões por dia —enquanto mais de 3 milhões de passageiros usam o metrô e 2,8 milhões, os trens da CPTM. Em 2012, antes das ciclovias, as bicicletas correspondiam a 0,59% das viagens dentro da cidade, segundo a Pesquisa de Mobilidade Urbana, do Metrô. Novos números serão conhecidos no ano que vem, com a divulgação da Pesquisa Origem e Destino, também do Metrô.
PLANEJAMENTO
Suzana Nogueira lembra que a estrutura para bikes é fruto de ideias acumuladas há décadas. "Há ciclovias que a pessoa pergunta de onde tiraram, de qual cartola. Não há cartola, existem estudos desde 1982."
As vias do centro foram pinçadas pela CET para receber os primeiros quilômetros. E a área foi a única em que não houve a participação de coletivos de cicloativistas. Nas demais zonas, todos os traçados contaram com a aprovação de ciclistas, que fazem reuniões mensais com a gestão municipal.
Hoje, o mapa das ciclovias na região central lembra uma teia. Conforme se avança para bairros mais distantes, entretanto, o cenário muda. Há trechos curtos ou que começam e terminam em vias sem outra ciclovia por perto, terminal de ônibus, tampouco estação de trem ou metrô.
"Muitas estruturas da periferia não têm a malha viária adequada", afirma Nogueira. "São regiões que foram esquecidas. Tivemos um plano de loteamento histórico que colocava as pessoas na periferia sem prever o mínimo de infraestrutura. Então, ficou deficiente para todos os modais, não é só para a bicicleta", diz a coordenadora da CET.
De acordo com Nogueira, ciclovias foram instaladas mesmo em áreas onde falta luz na rua e calçadas. "A iluminação é um desejo, mas não ficamos esperando", diz ela. A saída foi instalar tachões e mastros reflexivos, que brilham com o farol dos carros e permitem ver onde termina uma pista e começa outra.
Rafael Balago/Folhapress
Ciclovia do Minhocão, no centro da cidade
Ciclovia do Minhocão, no centro da cidade
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As coisas mais curiosas que vimos nas ciclovias
  • Capivaras
  • Duas feiras livres
  • Oferendas religiosas
  • Caminhão-pipa estacionado
  • Contêneires de lixo
  • Moradores de rua dormindo
  • Carroceiros
  • Cinzas de um incêndio
  • Kombi vendendo churrasco
  • Pais com carrinho de bebê
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Enquanto as ciclovias avançavam, surgiram críticas. Paulistanos se queixavam ao acordarem e se deparem com as faixas vermelhas na porta de casa. "Você não vota em alguém e dá para ele um cheque em branco para que ele possa fazer o que quiser", afirma Renata D'Angelo, 43, moradora da Chácara Santo Antônio, na zona sul.
ciclovia instalada naquela região ficou conhecida por desviar de imóveis ligados a parentes do secretário municipal dos Transportes, Jilmar Tatto. Após protesto dos moradores, a CET diz já ter elaborado um projeto para o realinhamento da via. Mas não há prazo para sair do papel.
Nesses dois anos, a CET teve de voltar atrás em mais dois episódios. Um trecho vermelho, na praça Vilaboim, em Higienopólis, acabou alterado no fim de 2014, depois de reclamações de comerciantes. O segundo caso ocorreu neste ano, quando uma decisão judicial determinou a remoção de um trecho de 50 metros da frente de um colégio na Vila Mariana.
Suzana Nogueira rebate as críticas dos moradores de que não tenham sido avisados. "Existe uma expectativa, às vezes, que a gente chegue à porta [da pessoa] e entregue um panfleto." A CET, garante ela, divulga as ações no seu site. Porém, até a última quinta (12), não havia um mapa detalhado na página que permitisse ao morador ver se a sua rua poderá ou não ganhar uma ciclovia.
Heterogênea, a estrutura da rede colecionou críticas. Em visita recente a ciclovias em diferentes partes da capital, a sãopaulo encontrou buracos, árvores e postes em meio ao trajeto e pontos com tinta apagada.
A qualidade do piso espelha a situação do asfalto na cidade: tanto no centro expandido quanto nas bordas da metrópole, há trechos impecáveis e outros repletos de rachaduras.
A descontinuidade gera riscos. Na avenida Edu Chaves, na zona norte, a ciclovia termina abruptamente e leva o ciclista a circular na contramão em uma faixa estreita, por onde passam ônibus. Questionada sobre esse caso, a CET promete reavaliar a estrutura local.
Elvis Pereira/Folhapress
São Paulo, SP, Brasil, 29-05-2016: Ciclovia da Marginal Pinheiros. (Elvis Pereira/Folhapress)
Ciclovia do rio Pinheiros, que liga o Grajaú à zona oeste da cidade
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Custos
  • R$ 48,5 mi: a prefeitura diz ter gasto entre 2014 e 2015 para a instalação de ciclovias. Em média, cada quilômetro custa de R$ 180 mil a R$ 225 mil
  • R$ 80 mi: o custo total estimado para chegar aos 400 km prometidos pela prefeitura, até dezembro, diz o governo
  • R$ 4,4 mi: custaram o trecho de 4,1 km entre a rua Amaral Gurgel e as avenidas São João, General Olímpio da Silveira e Auro Soares de Moura Andrade
Bikes nos trens
  • 7.695 bicicletas transportadas em vagões ao longo do mês de abril de 2016
  • 2.409 guardadas em bicicletários nas estações espalhadas pela malha
  • 2,8 mi de passageiros transportados por dia na rede da CPTM
Contador
  • 340.557 ciclistas passaram pela ciclovia da avenida Faria Lima, de 18 de janeiro até 29 de maio deste ano
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TINTA
Enquanto as primeiras ciclovias eram pintadas a frio e desbotavam em semanas, as atuais recebem aplicação à quente, modo usado para fixar faixas de pedestres, por exemplo.
Essa pintura dura de um a dois anos, dependendo de fatores como uso da rua, umidade e obras locais. Depois de prontas, a manutenção das ciclovias fica a cargo das subprefeituras e entra na mesma fila de reparos das ruas e calçadas.
Em um relatório publicado no ano passado, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento listou uma série de pontos a serem alterados na rede, como a pouca distância entre a faixa de bicicletas e a de carros. "Na rua da Consolação, temos uma ciclofaixa estreita", exemplifica Thiago Benicchio, gerente de Transportes Ativos do instituto e coordenador do estudo.
Uma das razões para isso é o uso da sarjeta. "Idealmente, essa área não deveria ser usada. Mas a utilização dela está ligada à dificuldade de tirar espaço do carro."
Acumulam-se, ainda, questionamentos judiciais. Há cinco inquéritos no Ministério Público em que são investigadas as implantações de ciclovias como a da Paulista e a da rua Amaral Gurgel. Outros dois já se tornaram ações na Justiça, um deles no qual Fernando Haddad e o secretário Jilmar Tatto são acusados de improbidade.
No Tribunal de Contas do Município, há seis contratos em análise. Nos da avenida Paulista e da rua Amaral Gurgel, uma auditoria constatou falhas, como a falta de projeto básico aprovado. Segundo o órgão, a prefeitura tem respondido aos questionamentos.
"Houve um pouco de partidarização em torno disso [das ciclovias]", afirma Haddad. "Poderia ter havido mais interesse em entender que é um processo de mudança de paradigma e, como tal, envolve dificuldades não triviais. Aconteceu com a faixa de ônibus e com a ciclovia também. São mudanças na maneira de entender a cidade."
Elvis Pereira/Folhapress
São Paulo, SP, Brasil, 29-05-2016: Ciclovia dna região do Grajaú Zona Sul da cidade. (Elvis Pereira/Folhapress)
Ciclovia com entulho na região do Grajaú, na zona sul da cidade
No fim do mês passado, o prefeito foi aplaudido no festival Bicicultura, que reuniu cicloativistas. Na abertura do evento, ele comparou o ciclista ao sem-terra que pedia por uma reforma agrária, nesse caso a viária, para democratizar o espaço das ruas.
Também contou ter sido alvo de boatos. "Outro dia, recebi no meu WhatsApp uma denúncia de que o meu sogro era dono de uma fábrica de tintas. Meu sogro morreu em 1999, era gerente de banco e não tenho conhecimento disso", disse o prefeito. "Agora, recebi outra, dizendo que a minha filha é a verdadeira dona de fábrica de tintas. Aí mandei de volta: minha filha tem 15 anos. Não estou sabendo desse talento todo."
Embora o uso da bicicleta seja uma bandeira de Haddad, a valorização das magrelas na cidade também foi estimulada por outras gestões de diferentes partidos.
Entre 2007 e 2010, a CPTM e o metrô, controlados pelo governo estadual na gestão José Serra (PSDB), liberaram o transporte de bicicletas em alguns horários, instalaram bicicletários nas estações e construíram duas ciclovias, uma ao lado do rio Pinheiros e outra na radial Leste.
Nos anos seguintes, foram criadas as ciclofaixas de lazer, o serviço de empréstimo de bicicletas Bike Sampa e ciclofaixas fixas em Moema, na zona sul, na gestão de Gilberto Kassab (2006-2012).
Desde 2013, projetos de construção ou reforma de edifícios paulistanos precisam incluir um bicicletário para obter o alvará. "Não basta fazer um puxadinho num canto que sobrou. Ele precisa ser de fácil acesso e ter estrutura adequada", diz Daniel Guth, diretor da entidade Ciclocidade.
O PlanMob (Plano Municipal de Mobilidade Urbana) prevê fazer 1.300 km de ciclovias na cidade até 2030. Hoje, há um comitê para discutir o uso de bicicletas, com 20 representantes das cinco regiões da cidade.
Antes, a prefeitura promete chegar aos 400 quilômetros que constam do plano de metas assumido pela atual gestão. Pontos da periferia devem ser atendidos, como um trecho na avenida Senador Teotônio Vilela. Os outros locais? A CET não informou.
Colaborou Ricardo Ampudia

Energia a partir do lixo eleva potencial elétrico, mas não descarta hidrelétricas, do G1

 07/09/2014 08h27 - Atualizado em 08/09/2014 07h35

Para especialistas consultados pelo G1, maior benefício é o ambiental.
Aterro sanitário de Guatapará (SP) gera 4,2 megawhatt/hora de energia.

Felipe TurioniDo G1 Ribeirão e Franca
Aterro sanitário de Guatapará recebe 2,2 mil toneladas delixo por dia, de 20 cidades da região de Ribeirão Preto, SP (Foto: Felipe Turioni/G1)Aterro sanitário de Guatapará recebe 2,2 mil toneladas delixo por dia, de 20 cidades da região de Ribeirão Preto, SP (Foto: Felipe Turioni/G1)
O morador de Guatapará (SP) Augustinho Yoshinaga não sabia, mas o lixo que ele e a família produzem dentro de casa ajuda, desde maio deste ano, na geração de energia elétrica distribuída a partir do aterro sanitário da cidade. “Pra mim isso é novidade, e é excelente poder conseguir fazer energia principalmente a partir do lixo, que não tem serventia nenhuma e só polui o ambiente”, afirmou o administrador de 36 anos. Esse tipo de geração de energia pode ajudar a aumentar o potencial elétrico no Brasil, segundo especialistas em bioenergia consultados pelo G1. Entretanto, a eficácia é pequena e não deve reduzir a dependências das hidrelétricas. 
O anúncio sobre a primeira usina do interior de São Paulo a gerar energia a partir do lixo foi feito no mês passado. O aterro de Guatapará, na região de Ribeirão Preto (SP), gera força elétrica com a matéria orgânica recolhida de 20 cidades. A planta tem capacidade para gerar 4,2 megawatts de energia, suficiente para abastecer uma cidade com 18 mil habitantes. A energia gerada no aterro já passou a abastecer a subestação de Pradópolis (SP), a 15 quilômetros de Guatapará, e de lá é distribuída para o restante do Brasil.
A energia gerada pela usina de biogás do aterro sanitário de Guatapará é obtida a partir do gás metano liberado pelo lixo orgânico em decomposição. (Veja no infográfico abaixo)
A matéria-prima é distribuída por mangueiras instaladas em todo o Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR) e levada para dutos de captação do gás, onde passa por processo de limpeza, resfriamento e queima em motogeradores. Depois disso, a energia é gerada para a distribuidora.
Eficácia
De acordo com o pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) Guilherme Dantas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a geração de energia a partir do lixo não vai resolver o problema no setor elétrico brasileiro. “Aproveitar o recurso de resíduos sólidos urbanos é uma coisa bem pertinente e faz parte da solução, mas não podemos deixar de manter em mente que é uma coisa marginal”, disse.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), apenas 0,73% da energia distribuída atualmente pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) é gerada a partir de compostos orgânicos, que incluem, além do lixo, bagaço de cana-de-açúcar e resíduos de celulose. Para o especialista em otimização do sistema energético José Luz Silveira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Guaratinguetá (SP), o biogás ainda é muito pouco explorado no Brasil.

“Em países como a Alemanha o biogás é muito presente e temos que pensar nisso”, comentou. De acordo com Silveira, além dos resíduos de lixo orgânico, investimentos deveriam ser feitos em outras áreas, como no tratamento de esgoto. “O tratamento de esgoto na Inglaterra, por exemplo, usa estruturas gigantes utilizando o próprio biogás de resíduos humanos para gerar energia para os ingleses”.
Infográfico energia a partir do lixo (Foto: Arte/G1)
Potencial de combustão
Para gerar bioenergia a partir do lixo, as usinas utilizam o gás gerado na decomposição dos resíduos orgânicos - o metano. Entretanto, o potencial de geração é menor que o de outros gases. “Por mais que a gente tenha resíduo sólido urbano, não é suficiente, e, ao mesmo tempo, quando você compara com gás natural, a queima do lixo é pior, é um combustível de menor qualidade. O biogás é um insumo combustível que tem uma eficiência termodinâmica menor do que se estivesse queimando combustível fóssil”, explicou o pesquisador da UFRJ.

Energia mais barata
Ainda segundo Dantas, a redução da tarifa de energia a partir do biogás proveniente do lixo é ilusória. “Num momento de crise, o preço [do biogás] no mercado à vista está acima de R$ 600 o megawhatt/hora, qualquer coisa é mais barato. Não podemos nos iludir, principalmente porque vivemos em um momento de estresse. A energia eólica, por exemplo é R$ 100 o megawatt/hora”, comparou.

Meio ambiente
De acordo com os especialistas consultados pelo G1, a grande eficácia desse tipo de geração de energia está nas condições ambientais, já que reduz a poluição de metano na atmosfera e é uma solução para os resíduos sólidos. “Talvez a ótica até mais importante é resolver ou minimizar o manejo dos resíduos, você está utilizando esse resíduo para gerar energia está aumentando muito a vida útil dos aterros sanitários. O benefício sócio ambiental que é derivado de você dar uma destinação para esse resíduo sólido urbano”, explicou Dantas.

Segundo Silveira, o método utilizado, com a queima do lixo para acelerar a geração do metano também é importante para o meio ambiente. “Se o biogás for enviado à atmosfera sem passar pelos flaires é 21 vezes mais nocivo para o efeito estufa que o CO2. O aterro sanitário queima isso no flaire para não ter metano indo para a atmosfera, então quando ele queima fica menos nocivo”, disse.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Por que o consumo de água aumentou?, por Washington Novaes*


Washington Novaes*
Dizem várias fontes de informação, neste início de junho, que a economia de água em condomínios na cidade de São Paulo caiu de 82% – que chegara a registrar em abril de 2015 – para 32% em abril de 2016, com o fim dos incentivos da Sabesp. É pena que a disposição para economizar, na maior parte, advenha só das vantagens financeiras para quem economiza, com pouca ou nenhuma relação com a necessidade maior de contribuir para a economia de um bem escasso. Os números de agora são inferiores até aos do período fevereiro de 2013/janeiro de 2014. E o recuo se deveria às notícias de “fim da crise” de abastecimento e retirada de subsídios para a economia.
Estranho, porque a seca e o calor afetaram os reservatórios de São Paulo. Dos 6 mananciais abastecedores, 4 chegaram ao menor índice de chuvas desde os anos 30. No Cantareira, houve apenas 3,9 milímetros em 28 dias de abril. E, ao mesmo tempo, aumentava a demanda por água, como registrou editorial deste jornal (29/3). Por essas e outras, o Estado já busca água em Minas Gerais e tem de discutir com o Rio de Janeiro o uso dos recursos do Rio Paraíba do Sul. Já foi até encaminhado à Assembleia Legislativa do Estado o projeto para o Plano de Recursos Hídricos do Estado, que garanta os usos múltiplos.
Não são problemas só nossos. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Eco-Finanças, 23/5), o crescimento rápido da demanda, o alto consumo, a desertificação, a degradação do solo, os efeitos de mudanças do clima “estão estressando” os recursos naturais e impedindo que sejam compensados pela recuperação natural do meio ambiente: “Com a tendência atual, a humanidade terá dificuldade para alimentar-se nas próximas décadas”, porque “a escassez hídrica ameaça bilhões de pessoas, principalmente nos países mais pobres”, pois “já se observa um colapso na produção de comida”. E a América Latina é um dos lugares mais problemáticos, principalmente nas regiões que mais dependem da água que escorre dos Andes – e que está diminuindo.
Quase um quarto das mortes no mundo decorre de “riscos ambientais”, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS) – entre eles a água de má qualidade, proveniente de locais de trabalho em condições precárias, banheiros e chuveiros inadequados, tubulações perfuradas, etc. Talvez a cidade que mais se tenha adequado às necessidades seja Nova York, onde em cinco anos foram aplicados quase US$ 2,5 bilhões para melhorar as condições do sistema de abastecimento de água. Isso incluirá o fechamento para reparos do Aqueduto Delaware, por onde passam mais de 80 bilhões de litros de água por dia para a rede de água de quase 11 mil quilômetros de extensão. Na usina de tratamento, que manda água para mil estações, foram investidos mais de US$ 1,5 bilhão (The New York Times, 24/3).
Diante de números tão graves, é quase inacreditável que esteja em tramitação no Brasil a Proposta de Emenda Constitucional 65/2012, que dispensa de licenciamento ambiental (Terra, 28/5) projetos de obras públicas, inclusive no setor de água. Os estudos prévios de impacto passariam a implicar autorização para executá-los. Tudo tão absurdo que o Instituto dos Advogados do Brasil aprovou moção de repúdio ao texto, que, a seu ver, desrespeita a própria Constituição. Configuraria uma espécie de “bolsa empreiteira”. A moção foi encaminhada ao Congresso Nacional.
Na área rural, a situação seria tão grave quanto esta, principalmente no Nordeste. Em recente seminário (Comunicação do Ministério do Meio Ambiente, 28/4) discutiu-se a situação do Semiárido, onde, por exemplo, 74,2% das áreas de Sergipe já são de terra degradada; e apenas 17% da vegetação originária da Caatinga permanece – quando seriam utilizáveis com manejo adequado dos recursos naturais em 13% da área. Já se conhecem ali projetos sustentáveis, como o do barramento zero ou o do fogão ecológico. No Polo Gesseiro da região do Araripe, Nordeste brasileiro, conseguiu-se, com programas adequados, reduzir para pouco mais de 20% do que era o consumo de água.
Muitos cientistas insistem na implantação de um vasto plano de fontes solares em telhados, para avançar com os projetos de combate à fome na região. Até mesmo porque as áreas de desertificação já avançaram 11 mil quilômetros quadrados em Pernambuco (Rema Brasil, 23/11/2015); a represa de Sobradinho chegou a entrar no volume morto, quando tem potencial de acumulação de água equivalente a 14 vezes o da Baía da Guanabara; o Rio São Francisco, com vazão histórica de 3 mil metros cúbicos por segundo, baixou até a 900 metros cúbicos. Para isso contribuem até a redução de águas da Amazônia vindas pelas correntes na atmosfera e a redução de água no subsolo do Cerrado. Desde 2004 já desapareceram 1.200 pequenos afluentes do São Francisco. Estiagens prolongadas no Cerrado têm reduzido as safras de grãos (Estado, 11/5). E podem prolongar-se até 2017 (O Popular, 27/4).
O Rio São Francisco já não tem mais volume necessário para a geração de energia (www.fundaj.gov.br, 21/10/2015). Técnicos sugerem difundir experiências do Instituto Nacional do Semiárido, como as de Santana do Seridó, onde já se tratam 258 mil litros de água para uma população de 2.526 pessoas (Rema, 3/12/2015), irrigação de bancadas de forragem de palma, estoques de feijão guandu e sorgo para o gado – além de urgência com projetos de captação de águas de chuvas, reutilização de água tratada de esgotos, impedir o desperdício e apressar projetos contra desmatamento. Não basta esperar pela transposição de águas, projeto iniciado em 2007, que deveria estar concluído em 2012 e já custou uma fortuna.
É preciso ter urgência. Convém lembrar que o Deserto do Saara já teve, há 5 mil anos (EcoViagem, 31/3), o maior lago de água doce do mundo, com 360 mil quilômetros quadrados. Hoje, tem 1.350, menos de 1%.
*Washington Novaes é jornalista - e-mail: wlrnovaes@uol.com.br