quinta-feira, 31 de julho de 2025

Após 4 anos, Brasil deixa mapa mundial da fome, The News

 

O Brasil deixou novamente o Mapa da Fome. Depois de retornar ao mapa em 2021, o país saiu da zona de insegurança alimentar grave em 2025, com base nos dados de 2022 a 2024.

  • A ONU considera ‘’desnutrida’’ a pessoa que consome menos calorias do que ela necessita. Para estar fora da lista, cada país precisa ter menos de 2,5% da população em risco de subnutrição.

A melhora foi puxada pelo programa Brasil Sem Fome, lançado em 2023, que já retirou 24 milhões de pessoas da insegurança alimentar grave. A meta era sair do mapa até 2026.

Mas o problema ainda está longe de ser resolvido

Segundo o relatório, 35 milhões de brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar — quando famílias não sabem se terão comida suficiente ou de qualidade nos próximos dias.

(Imagem: g1)

Regiões como Norte e Nordeste convivem com índices mais altos — em algumas delas, a insegurança grave chega a 7,7% dos lares, contra apenas 2% no Sul.

Mesmo estando entre as 5 nações que mais produzem alimentos no mundo, o Brasil ainda enfrenta dificuldades para alimentar toda a sua população.

  • Um dos motivos está no bolso, já que uma parte dos cidadãos não tem condições financeiras para se alimentar.

  • Outro argumento utilizado por alguns especialistas é que a produção agropecuária é voltada mais para a exportação do que para o abastecimento interno.

Na contramão desses números, a taxa de brasileiros obesos, em 10 anos, subiu de 19,1% para 28,1%, atingindo +45 milhões de pessoas.

Zoom out: Ao redor do mundo, a estimativa é que entre 638 milhões e 720 milhões de pessoas passem fome, sendo quase sua totalidade na Ásia e África.

Manga, uvas e açaí não escapam de tarifaço e setor diz que busca novo acordo, FSP

 Gabriela Cecchin

São Paulo

As frutas não estão na lista de quase 700 exceções da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada nesta quarta-feira (30) pelo presidente dos Estados UnidosDonald Trump. Manga, uva e frutas processadas —como o açaí— compõem 90% do total de frutas exportadas ao país norte-americano, segundo a Abrafrutas (Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados).

A entidade afirma que seguirá acompanhado as negociações entre os governos dos dois países com a expectativa de um acordo que mantenha o mercado americano atrativo para as frutas brasileiras. "A associação também continua apoiando os seus associados na interlocução com os importadores americanos e com o governo brasileiro na busca de medidas que possam mitigar prejuízos", diz.

Os Estados Unidos absorveram cerca de 77 mil toneladas, ou US$ 148,3 milhões, de frutas brasileiras no ano passado. A quantidade equivale a 7% do total exportado pelo setor em volume e 12% do faturamento.

A imagem mostra duas frutas, uma manga e um tomate, dispostas sobre uma superfície de grãos de soja e aveia. A manga é de cor laranja-avermelhada e o tomate é de um tom laranja mais uniforme. O fundo é composto por grãos de soja e flocos de aveia, criando um contraste com as frutas.
Manga não está na lista de exceções das tarifas de Trump - Avani Stein - 24.nov.10/Folhapress

O primeiro semestre foi um bom período para as exportações de frutas brasileiras, com faturamento total de US$ 583 milhões. De acordo com a Abrafrutas, o país exportou mais de 546 mil toneladas de frutas frescas e processadas, o que representou um aumento de 27,17% em volume e 12,58% em valor em relação ao mesmo período de 2024.

Entre os destaques do semestre, estão:

  1. Melão: mais de 118 mil toneladas
  2. Limão: cerca de 107 mil toneladas
  3. Manga: quase 88 mil toneladas
  4. Melancia: aproximadamente 74 mil toneladas
  5. Banana: aproximadamente 44 mil toneladas
  6. Mamão: 27,4 mil toneladas
  7. Abacate: 19,5 mil toneladas
  8. Maçã: 13,1 mil toneladas
  9. Uva: 10,3 mil toneladas

MANGA TEM POUCAS OPÇÕES DE VENDA PARA O EXTERIOR, E PREÇO JÁ ESTÁ EM BAIXA

A manga teve 20% de suas exportações voltadas ao país norte-americano nos últimos cinco anos, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). O setor acredita que não há muitas opções de mercado fora do Brasil a curto prazo.

A principal variedade exportada para os Estados Unidos é a tommy, que começa sua safra em agosto. O mercado europeu seria uma possibilidade de vendas, mas o continente já estará abastecido de outras variedades da fruta nos meses de setembro, outubro e novembro, pico da safra.

Apesar de consumidores terem a expectativa de o produto ficar mais barato ao menos no curto prazo, devido à maior oferta no mercado nacional, associação do setor havia sinalizado, antes do decreto de Trump oficializando os 50%, que poderá deixar as frutas apodrecerem no pé com uma taxa acima de 15%, para mitigar prejuízos. Além disso, afirma que não há mercado possível em outros países —e nem no Brasil, onde os mercados já estão abastecidos.

"Poderíamos pensar, por exemplo, no mercado asiático. Mas qual que seria a logística para tirar essa fruta daqui do Brasil e mandar para esses países? Primeiro que ela chegaria lá muito cara. Segundo que talvez ela chegasse com uma qualidade menor. Então também não vejo essa abertura efetiva de outros mercados de bate-pronto, por exemplo, para daqui três ou quatro semanas, como algo viável", afirma Lucas Bezerra, pesquisador no Cepea.

Segundo ele, os preços já começam a baixar na segunda quinzena de junho. "A produção da fruta é no ano todo, mas é menor no primeiro semestre do ano. No segundo semestre, há um movimento de aumento na oferta da fruta", diz.

Thiago de Oliveira, chefe da seção de economia do Ceagesp, afirma que o preço da fruta já está em queda. "As mangas colhidas e comercializadas no mercado nacional já estão com 30% de redução de preços. Se entrar mais manga no circuito nacional, pode impactar ainda mais", diz.

"Agora, alguém vai ter que criar, por exemplo, a manga do amor, a geleia de manga, um desafio de quem consegue tirar mais rápido o caroço da manga, essas tendências para aguentar o volume da produção", brinca.

Ele lembra, porém, que os custos com a mão de obra para colheita e para o transporte, do Nordeste para o Sudeste, podem ser uma das justificativas para os produtores "deixarem a manga apodrecer no pé". A produção de manga se concentra principalmente na região do vale do São Francisco. "Se isso acontecesse, seria um caos generalizado. Haveria pragas, a safra seguinte seria impactada", afirma.

Segundo a Abrafrutas, o envio das mangas aos EUA é uma operação complexa que requer planejamento e envolve cerca de 20 mil trabalhadores.

O Cepea afirma que a decisão vai depender de cada produtor, e que especialmente os pequenos podem decidir não colher a safra. A medida drástica, porém, não é recomendada pelo instituto.

Paulo Feldmann, professor da FIA Business School, acredita que esse é um cenário pouco provável. "O governo brasileiro certamente atuaria para impedir isso. Seria o caso de criar algum incentivo, alguma redução de imposto, para que esses produtores agrícolas não façam isso", diz.

O especialista acredita que o preço da manga pode cair a curto prazo, durante a safra do segundo semestre, mas diz que a tendência não deve se manter, pois acredita que o mercado seria remanejado para outros países. "A agricultura brasileira é a mais competitiva do mundo. Os produtos agrícolas têm, em geral, o melhor preço do mundo, o mais baixo, e com qualidade muito boa", afirma.

Ele reconhece que os efeitos podem demorar. "A agricultura é um setor que tem sua própria dinâmica. Encontrar outros mercados pode levar três, quatro, seis meses", diz Feldmann. "O produtor vai perder a safra, e o semestre será difícil. Mas no ano que vem, com novos contratos, a situação pode se reequilibrar."

Tatiana Migiyama, especialista em gestão tributária e economista na Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), reforça que o efeito deverá ser temporário. "A desinflação será bem pontual, a curto prazo, porque o que deveria ter sido exportado agora vai ser trazido e ofertado aqui para o mercado nacional".

João Eloi Olenike, presidente do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação), avalia que haveria chance de barateamento só se os exportadores decidirem de fato redirecionar os produtos. "Se forem repassados efetivamente, preços mais acessíveis podem chegar ao consumidor final", diz.

O risco de mangas brasileiras 'virarem lama' com impacto de tarifas dos EUA: 'Estou dando de graça e ninguém quer', FSP

 

São Paulo | BBC News Brasil

As mangueiras estão cheias na propriedade de Hidherica Torres, em Casa Nova, no lado baiano do Vale do São Francisco.

As frutas que pesam nos galhos já tinham destino certo assim que colhidas nos próximos dias: os Estados Unidos. Tinham.

Na terça-feira (29), Hidherica foi informada pela empresa exportadora que suas mangas não teriam mais saída aos portos americanos.

Como os produtos brasileiros terão uma tarifa extra de 50% para entrar nos EUA a partir de 6 de agosto, a venda, na prática, ficou inviabilizada.

Uma árvore de manga carregada com frutos. Os mangas são de cor roxa e verde, pendendo dos galhos. O fundo apresenta mais folhagem de árvores.
Árvore carregada de manga em fazenda na Bahia - Hidherica Torres/Acervo Pessoal

"A gente está correndo tentando ver possibilidade de mandar para o Canadá ou Europa", diz Hidherica.

"Mas estou com medo de a manga ficar jogada no chão e o trator passar por cima. Enfim, virar lama", completa.

Na terça, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou em entrevista que alguns produtos não cultivados em solo americano poderiam ter a tarifa de importação zerada —entre os exemplos, ele citou a manga.

Já na quarta-feira (30), o presidente Donald Trump assinou o decreto que impõe tarifa de 50% ao Brasil, mas com várias exceções, incluindo aeronaves, suco de laranja e petróleo. As frutas, porém, não foram beneficiadas.

Mesmo antes de a tarifa entrar em vigor, o Vale do São Francisco, principal região produtora e exportadora da fruta no país, já sente os efeitos da guerra comercial —e não só entre os produtores que exportam diretamente aos EUA.

Pequenos produtores que abastecem o mercado nacional e outros países já veem suas mangas encalharem e o preço desabar —como a produção que ia aos EUA já está sendo redirecionada, o mercado de manga começa a superlotar do produto.

Com muita oferta, o preço cai —a um nível que às vezes nem paga os custos de produção, disseram produtores à BBC News Brasil.

Os compradores chegaram a oferecer menos de R$ 0,80 pelo quilo da manga do tipo tommy a José Nilton Gonçalves, pequeno produtor de Lagoa Grande, em Pernambuco. No começo do ano, chegou perto do R$ 6. "Desse jeito, não dá nem para tirar a despesa", conta.

Líder da Associação Comunitária dos Agricultores de Malhada Real, em Lagoa Grande, Cristiano Ferreira completa que todos os tipos da fruta já estão sendo afetados, mesmo os que não iriam aos EUA. "Todo mundo já vai sentir, do grande ao pequeno".

Das mangas produzidas no Vale de São Francisco, 92% vão para exportação, segundo o SPR (Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina), que representa o setor.

Em 2024, o Brasil exportou 258 mil toneladas de manga, faturando US$ 349,8 milhões (R$ 1,95 bilhão), segundo dados reunidos pelo Observatório da Manga da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Isso faz da manga a fruta brasileira mais vendida no mundo.

O principal destino é a Europa, representando cerca de 80% das vendas ao exterior durante o ano. Cerca de 15% vão para os EUA.

Mas a produção com foco na manga exportada aos EUA é mais cara e concentrada em três meses do ano, justamente a partir de agora.

Os americanos costumam comprar mangas de vários países conforme a sazonalidade da colheita. A janela brasileira é em agosto, setembro e outubro.

Para vender aos EUA, os produtores precisam plantar principalmente a manga do tipo tommy, a preferida dos americanos.

Além disso, precisam passar por uma série de inspeções e certificações exigidas, especialmente sobre a presença da mosca-da-fruta nas plantações, e serem mergulhadas num tanque a 60 graus Celsius para eliminar larvas. Na prática, é mais caro produzir para eles.

"Ou seja, fica difícil o produtor mandar essa fruta para outros mercados. Além disso, o volume nesta época para os EUA é muito grande e já está causando baixa nos preços no mercado interno e em outros países", diz Jailson Lira, presidente do SPR.

A expectativa do Vale do São Francisco em 2025 era exportar 36,8 mil toneladas de manga aos EUA, em 2,5 mil contêineres que saem dos portos de Salvador (BA) e Pecém (CE) até outubro.

O faturamento desse comércio com os EUA seria no patamar do ano passado, de US$ 45,8 milhões (R$ 255 milhões), segundo previsão do SPR.

'ESTOU DANDO MANGA DE GRAÇA'

O Vale do São Francisco tem grandes empresas exportadoras de manga, onde as frutas passam pelas etapas sanitárias antes da exportação.

Muitas dessas empresas têm plantações próprias. Mas, em geral, elas acabam comprando a produção inteira de pequenos e médios produtores para suprir a demanda.

Isso faz com que o prejuízo no topo da cadeia (exportadores) venha a se refletir, sem muita demora, na ponta (agricultores).

"Se a manga não tem saída, as grandes empresas vão vender só aquilo que elas já têm, não compram do pequeno e médio", explica o produtor rural Eduardo Nakahara, da Frutecer, uma empresa exportadora mais focada no mercado europeu.

"E com o pessoal que vende para EUA mandando suas mangas para a Europa, todo mundo é afetado", completa.

Mesmo com a preferência dos europeus não sendo a manga tommy, uma vez nos supermercados, o cliente não costuma se apegar ao tipo da fruta vendido, explica Aleska Martins, produtora rural em Petrolina. A que tiver mais em conta acaba entrando no carrinho.

A pernambucana produz manga do tipo keitt, menos doce e menor, e vende para exportação à Europa, sem presença no mercado americano.

Mas os pés nos 60 hectares da família em Petrolina já estão cheios de manga sem saída.

"A gente vendeu a R$ 6 o quilo neste ano, agora estava lutando para vender a 0,80 centavos", diz.

Segundo os produtores, as empresas importadoras da Europa estão cancelando pedidos por já estarem com receio de ter "uma enxurrada de manga vinda do Brasil".

Martins está numa corrida contra o tempo porque precisa iniciar o preparo da terra para a próxima colheita. Isso é, podar as árvores, repousar a terra e preparar o terreno.

Para isso, ela tem oferecido as frutas a parceiros comerciais, de empresas de polpas a mercados, que poderiam recolher as mangas.

"Estou dando de graça para quem quiser pegar, para limpar minha planta. E mesmo assim não estou conseguindo", disse na terça . Ela explica que as empresas justificam que o custo para retirar as mangas do pé não será compensado com a venda a preços tão baixos.

Na terra de Adailton de Lima, em Lagoa Grande, o problema é o mesmo. "O mercado está cheio, aí ninguém quer nossa manga. Tá caminhando para amadurecer no pé", diz ele, produtor do tipo palmer, uma das preferidas do mercado brasileiro.

O agrônomo Gilson dos Santos, produtor e consultor do setor de mangas no Vale do São Francisco, explica que o Brasil não é capaz de absorver tanta manga que vai sobrar. E nem a Europa, já que "outros países estão tendo uma boa safra neste ano, como a Espanha, na região de Málaga", diz.

"Isso abriu uma grande especulação no mercado, produtores ficam desesperados e oferecem manga de maneira desesperada com medo de não vender as frutas", conta.

Uma árvore de mangaba com muitos frutos pendurados. Os frutos são de cor roxa e têm uma forma ovalada. A árvore é densa, com folhas verdes escuras, e o solo ao redor é coberto por vegetação rasteira.
Árvore de manga brasileira em Lagoa Grande, Pernambuco - Adailton de Lima/Acervo Pessoal

Presidente do sindicato, Jailson Lira faz críticas ao governo federal, que, segundo ele, estaria tentando "medir forças com os EUA", em vez de negociar uma saída ao setor. O presidente do sindicato também diz que não foi apresentado um plano para os produtores.

A BBC News Brasil entrou em contato com os governos de Bahia e Pernambuco, além do governo Federal, mas as gestões não se posicionaram.

O produtor Eduardo Nakahara avalia que, se mantidas, as tarifas terão grande impacto em toda a economia da região do Vale do São Francisco, uma das regiões mais prósperas do sertão nordestino, justamente devido à agricultura irrigada que produz mangas, uvas e outras frutas.

Para ele, o momento seria para o povo brasileiro abraçar a manga como uma fruta nacional.

"Imagina fazer uma campanha para incentivar as pessoas a comprarem manga, fazer tudo de manga. Em vez de pedir um suco de morango no restaurante, pede de manga", diz.