terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O capital do PT


José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
Em 2012, o PT tornou-se o maior partido do Brasil em votos recebidos, eleitorado a governar e dinheiro arrecadado. O partido completa 10 anos de governo federal - o maior tempo contínuo de um mesmo grupo político no poder em períodos de democracia plena. Conquistou a maior cidade do país. A presidente está no auge da popularidade e tem quase 80% de apoio no Congresso, em média. Os dois favoritos para 2014 são do PT.
Reserva moral do PSDB - nas palavras de José Serra -, Fernando Henrique Cardoso descreve sua melancolia com a política partidária e defende a necessidade de "bradar e mostrar indignação e revolta, ainda que pouco se consiga de prático". Quando a oposição está melancólica, a situação deveria estar exultante. Só que não.
O PT não sai das manchetes, mas por causa do outro lado da força. Condenada pelos ministros que pôs no Supremo Tribunal Federal, a cúpula que levou o partido ao sucesso vê-se na incômoda perspectiva de exercer o poder desde a cadeia. É um preço caro a pagar. Provavelmente caro demais.
As contradições entre o primeiro e o terceiro parágrafos alimentam a especulação: estará o PT no cume à beira do precipício? Ou desfruta a segurança de um espaçoso planalto?
No que depender das previsões das consultorias econômicas e dos "pundits" brasilienses, a derrocada é logo ali na frente. O problema é que se tem mais chance de êxito apostando num cara ou coroa do que acreditando nas projeções de especialistas. Melhor olhar para trás e tentar entender como chegamos aqui.
A estabilização econômica propiciou a emergência de um mercado interno grande e ativo. Aumentos reais do salário mínimo diminuíram a desigualdade de renda e deram lastro para a popularização do crédito. A redução das taxas de juros rompeu o dique financeiro e deixou o dinheiro irrigar a economia. Nada disso é monopólio petista, mas foi o PT que, por oportunidade ou competência, melhor faturou eleitoralmente o processo.
Partidarizar ideias que são patrimônio nacional as enfraquece. Mercado de consumo de massa, menos desequilíbrio entre capital e trabalho, e diminuição da desigualdade de renda são conceitos sempre vulneráveis à reação de quem só se beneficia do mercado de luxo exclusivista, do "rentismo" e do "apartheid" social.
Há cada vez mais desinibidas declarações de que o aumento do salário mínimo é o problema e não a solução, de que há crédito demais para os pobres, de que bom mesmo era quando se podia ir a Paris ou Nova York sem correr o risco de ouvir português na rua.
É coincidência que essa desinibição suceda as condenações pelo STF dos malfeitos petistas? Ou que esteja entremeada a notícias de Pajeros, propinas e patifarias de parasitas do poder que tiveram sua janela de oportunidade durante o mandato do PT?
O risco embutido nos desmandos é que após a condenação das pessoas venha a condenação das ideias que mantiveram seus correligionários no poder. Mesmo que essas ideias não lhes pertençam, nem que elas, por si, tenham qualquer coisa a ver com a corrupção de quem as defendeu eleitoralmente.
Para o grosso da população, mais importante do que quem comanda do barco é que o caminho percorrido desde 1994 não seja interrompido ou, pior, feito em marcha à ré.
Dinheiro e poder. O PT lucrou com o poder. O partido movimentou R$ 1 bilhão na campanha de 2012. Foi a legenda que mais cresceu em arrecadação desde 2008: R$ 362 milhões a mais. Sua fatia cresceu no bolo financeiro dos partidos e a isso corresponderam mais prefeituras e vereadores. PSDB e PMDB arrecadaram proporcionalmente menos e viram sua influência municipal murchar. Dinheiro é voto.
Nem tanto ao precipício, nem tanto ao planalto. O PT tornou-se o maior partido em votos e eleitorado a governar, mas eles são apenas 20% do Brasil. Sua arrecadação é recorde, mas não passou de 17% do total. A presidente tem 80% de apoio no Congresso, mas perde votações com frequência, porque sua base parlamentar é movediça e infiel. Não há poder absoluto nem eterno.
Popularidade e favoritismo a dois anos da eleição valem tanto quanto ser o campeão do primeiro turno em campeonato por pontos corridos: nada - o Atlético Mineiro que o diga.

Nova lâmpada feita de plástico é aposta para futuro da iluminação


Matt McGrath - Repórter de Ciência do Serviço Mundial da BBC
Segundo o inventor, a nova lâmpada 'acomoda-se ao olho humano, evitando as comuns dores de cabeça' - Wake Forest University
Wake Forest University
Segundo o inventor, a nova lâmpada 'acomoda-se ao olho humano, evitando as comuns dores de cabeça'
Feita de camadas de plástico, a nova fonte energética é considerada mais econômica, além de produzir uma luminosidade superior a de produtos disponíveis no mercado.
Os inventores acreditam que as primeiras unidades serão produzidas já no ano que vem.
Detalhes sobre o novo produto foram publicados na edição da revista científicaOrganic Electronics.
A nova fonte de luz aposta em uma tecnologia chamada em inglês de "Fipel".
A lâmpada usa três camadas de um polímero que contém um pequeno volume de nanopartículas que "se aquecem" quando a corrente elétrica passa através delas.
O inventor do dispositivo é o cientista David Carroll, professor de física da Wake Forest University, no Estado americano da Carolina do Norte.
Segundo ele, o grande diferencial dessa nova lâmpada, feita de plástico, é sua flexibilidade, além de emitir uma luminosidade superior aos bulbos fluorescentes que se tornaram populares nos últimos anos.
Carroll explica que, diferentemente das lâmpadas fluorescentes, "cujo espectro de luz não se assemelha ao do sol", sua invenção "acomoda-se ao olho humano", "evitando as comuns dores de cabeça, típicas da luz fria".
Nos últimos anos, pesquisadores concentraram esforços em desenvolver novas lâmpadas, que combinassem maior autonomia e qualidade.
Uma das invenções recentes mais bem sucedidas foram as lâmpadas LEDs, usadas em aparelhos eletrônicos e também na iluminação pública.
OLEDS. Mais avançadas, as LEDS orgânicas, chamadas de OLEDS, também surgiram em meio a promessas de maior eficiência e melhor qualidade em relação às velhas e tradicionais lâmpadas incandescentes.
A maior vantagem das OLEDS sobre as LEDS é que as primeiras podem ser moldadas em diferentes formatos, incluindo telas para TVs de alta definição.
Mas Carroll acredita que as lâmpadas OLED não passam de uma "moda passageira".
"Elas não têm um tempo de vida útil muito longo e não são tão brilhantes", disse ele. "Também há um limite para a luminosidade que elas conseguem atingir", acrescenta.
Já a lâmpada com a tecnologia Fipel, defende Carroll, não apresenta nenhum desses problemas.
"Descobrimos um jeito de criar luz sem sobreaquecer a lâmpada. Nossos dispositivos não contêm mercúrio, tampouco materiais químicos cáusticos e não quebram tão facilmente porque não são feitos de vidro", explica.
Carroll afirma que a nova lâmpada é barata de ser produzida em larga escala e que já possui um "parceiro" interessado em fabricá-la ainda em 2013.
Ele acrescentou que testes de laboratório revelaram que a vida útil de seu invento pode durar até dez anos.
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Revolução à vista na siderurgia brasileira



Coluna Econômica - 04/12/2012 por Luis Nassif

A reestruturação competitiva da siderurgia brasileira depende de energia mais barata, de integração mineradora-siderúrgica mas, acima de tudo, de uma mudança de padrão tecnológico, para a auto-redução do minério de ferro, que substituirá a tecnologia dos altos-fornos.
E essa tecnologia já está disponível.
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Faz-se o aço misturando o minério de ferro com o carbono. O processo é oneroso.
Utiliza-se carvão mineral ou vegetal como combustível, para a fusão do minério de ferro, e também como redutor, ajudando na remoção do oxigênio do ferro, para poder se ligar ao carbono.
É um processo lento, esse do gás entrando no minério, que leva em média 8 horas para se completar. Por ser lento, há a necessidade de altos fornos de 20 a 30 metros de altura; e carvão aquecendo o forno.
Ao longo da história, à medida que escasseou o minério de ferro mais puro, os altos fornos tiveram que receber upgrades tecnológicos cada vez mais onerosos. Agora, há uma corrida para substituir essa tecnologia secular por outra, baseada na auto-redução do minério.
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No caso brasileiro, essa tecnologia foi batizada de tecnored, e está sendo desenvolvida por uma associação entre Vale, BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e um grupo de ex-professores da PUC-Rio, comandados pelo engenheiro Marcos Contrucci.
Entrega-se à siderúrgica ou minério granulado (em lugar de pelotizado) ou minério líquido, mas com o carbono previamente misturado ao ferro. Em vez de 8 horas, o tempo de aquecimento cai para 15 minutos; em vez de altos-fornos de 20 a 30 metros de altura, fornos convencionais.
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Economiza-se na produção e no transporte.
Um navio com capacidade para transportar 250 mil toneladas de minério de ferro, leva 20 mil toneladas de água, 80 mil toneladas de oxigênio, mais 20 mil toneladas de escória. Com o novo método, só se transportará o essencial, resultando em economia de 45% na logística.
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Esse projeto começou a ser desenvolvido na PUC-Rio no final dos anos 50, a partir de trabalhos do IPT, do professor Carlos Dias Brosch (falecido em 2004).  Dos anos 70 para cá houve plantas piloto com a Fundição Tupi, em Joinville, e com a Vibase, do grupo Villares, ambas interrompidas por crises nas empresas e na economia.
Depois, uma experiência nos Estados Unidos, com o braço siderúrgico da Cargill, que não deu certo depois que a política monetária de Alan Greesnpan destruiu completamente a competitividade da siderurgia norte-americana.
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Agora, a planta piloto com Vale e BNDES no capital está passando pelos ajustes finais.  Completado esse piloto, haverá condições de expandir e fincar a reestruturação produtiva da siderurgia brasileira na nova tecnologia
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Não existem muitas dúvidas sobre sua viabilidade tecnológica e financeira. O desafio é mudar a cabeça dos engenheiros siderúrgicos e definir novos modelos de negócio.
No novo modelo, haverá a necessidade de uma parceria da cadeia produtiva. Provavelmente a mineradora irá oferecer novas plantas às siderúrgicas, em troca de contratos de fornecimento de longo prazo.
É uma tecnologia de corte, que provavelmente levará ainda dez anos para conquistar um setor tradicionalmente avesso a mudanças.