QUINTA, 17 FEVEREIRO 2011 . AGÊNCIA USP - INOVAÇÃO TECNOLÓGICA | |
Cientistas da USP demonstraram que é possível usar a borra de café - o que resta do café em pó depois que ele é coado - para a produção de biodiesel. O processo consiste em extrair um óleo essencial da borra de café. Este óleo mostrou ser uma matéria-prima viável para a produção do biodiesel. A produção do biocombustível a partir do resíduo foi testada pela química Denise Moreira dos Santos, em escala laboratorial. O estudo concluiu que a técnica é adequada para a produção do biodiesel em pequenas comunidades, para o abastecimento de tratores e máquinas agrícolas, por exemplo. "No Brasil, há um grande consumo de café, calculado em 2 a 3 xícaras diárias por habitante, por isso a produção de resíduo é intensa em bares, restaurantes, casas comerciais e residências Óleo essencial "O óleo essencial, responsável pelo aroma do café, já é utilizado em química fina, mas sua extração diretamente de grãos de alta qualidade é muito cara", conta a professora. A borra do café também contém óleos essenciais, que podem contaminar o solo quando o resíduo é descartado no meio ambiente. O processo de obtenção do biodiesel é o mesmo adotado com outras matérias-primas. "O óleo essencial é extraído da borra de café por meio da utilização de etanol como solvente," conta Denise. "Após a extração, o óleo é posto em contato com um catalisador alcalino, que realiza uma reação de tranesterificação com a qual se obtém o biodiesel." As características dos ácidos graxos do óleo essencial do café são semelhantes aos da soja, embora estejam presentes em menor quantidade. A partir de um quilo de borra de café é possível extrair até 100 mililitros de óleo, o que geraria cerca de 12 mililitros de biodiesel. "No Brasil são consumidas aproximadamente 18 milhões de sacas de 60 quilos de café, num total de 1,08 milhões de toneladas, o que irá gerar uma quantidade considerável de resíduos," aponta a professora. Pesquisa e educação "Todo o experimento para obtenção de biodiesel foi realizado em escala laboratorial", explica Denise, que é professora do curso técnico de Química do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETPS), em São Paulo. "O objetivo da pesquisa é mostrar aos alunos que é possível aproveitar um resíduo que é descartado no ambiente para a produção de energia". Segundo a professora, a implantação do processo de produção do biocombustível em escala industrial dependeria de um trabalho de conscientização da população para não jogar fora a borra de café, que seria recolhida para extração do óleo. "Sua utilização é indicada para pequenas comunidades agrícolas, que produziriam seu próprio biodiesel para movimentar máquinas", sugere. Denise lembra que em algumas fazendas de café, a borra é armazenada no refrigerador para ser usada como fertilizante. "Entretanto, seu uso frequente pode fazer com que os óleos essenciais contaminem o solo", alerta. "O aproveitamento desse resíduo para gerar energia pode não ser uma solução mundial, mas está ao alcance de pequenas localidades". |
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Cientistas da USP produzem biodiesel da borra de café
Comida ou biocombustível
QUINTA, 17 FEVEREIRO 2011 . CELSO MING - O ESTADO DE S.PAULO | |
A escalada dos preços da comida está aumentando a fervura política. O Banco Mundial já avisou que a escassez de alimentos empurrou 44 milhões de pessoas para abaixo da linha de pobreza. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na condição de presidente rotativo do Grupo dos 20 (G-20) países mais ricos do mundo, quer intervenção para garantir a segurança alimentar. Por enquanto, Sarkozy e os críticos ainda vêm pondo força no diagnóstico errado, o de que a disparada dos preços está sendo provocada preponderantemente pela ação dos especuladores financeiros. Mas à medida que esse argumento vai sendo rebatido - até mesmo pelo governo brasileiro - duas consequências parecem inevitáveis. A primeira delas é a maior flexibilização para desenvolvimento e produção de culturas geneticamente modificadas (transgênicas), que ainda hoje encontram fortes resistências na Europa e também aqui no Brasil. A outra é o crescimento das pressões para proibir o desvio de grãos e de outros alimentos para a produção de biocombustíveis. Os Estados Unidos, por exemplo, canalizam mais de 100 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol, o suficiente para alimentar 240 milhões de pessoas, nos cálculos do professor Kenneth Cassmann, da Universidade de Nebraska, citado em outra matéria do New York Times. A própria União Europeia usa óleos vegetais (especialmente de canola e girassol) para a produção de biodiesel. E o Brasil também tem lá seus fortes programas de etanol e biodiesel. No ano passado cerca de 335 milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram usadas para a produção de etanol e mais não foram porque os próprios usineiros puxaram mais matéria-prima para suas fábricas de açúcar, cujos preços saltaram 72% no mercado internacional. Também por aqui 1,9 milhão de toneladas de óleo de soja deixaram de ser utilizadas na alimentação e foram empregadas na produção de 2,5 bilhões de litros de biodiesel. Por enquanto, o Brasil vem defendendo a produção de biocombustíveis a partir de matéria-prima alimentar com o argumento de que há espaço para os dois segmentos. Mas à medida que crescer a escassez de alimentos, maiores serão as pressões e mais vulnerável ficará o governo brasileiro. O crescimento da procura de proteína tanto vegetal como animal parece inexorável à medida que cresce a população dos países emergentes que ascendem à condição de consumidores. Desapareceram as montanhas de trigo e de manteiga nos países ricos que caracterizaram os anos de pós-guerra. Esta é uma extraordinária oportunidade para o Brasil. No entanto, um após o outro, os governos brasileiros renunciaram a ter uma política agrícola. A produção vai crescendo, sim, mas na base da inércia, estimulada apenas pelo que Deus manda, enfrentando custos predatórios e uma infraestrutura precária e desestimuladora. |
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Brasil mínimo
Por Roberto Malvezzi (Gogó)* |
No Brasil, para a maioria da população, tudo é mínimo: o salário, a renda, o Bolsa Família, até o Estado há pouco tempo atrás era para ser mínimo. A saúde e a educação talvez nem cheguem ao mínimo, mas o mínimo é a meta a ser conquistada.
Superar a fome, a sede, a miséria, sanear as cidades e implantar uma educação e saúde eficientes é possível mesmo dentro de um Estado capitalista. Portanto, por hora nem se discute a implantação de um Estado socialista, com a superação das injustiças estruturais. As próprias políticas do governo Lula, assim como o propósito de erradicação da miséria de Dilma, se dão dentro dos marcos da sociedade atual. Com o potencial de solos, água, sol, minerais e até mesmo tecnológico que temos, são metas que podem ser atingidas até dentro desse modelo.
Claro, por outro lado sobra o Brasil máximo: a renda concentrada, o patrimônio, a propriedade, além da concentração do poder, do saber e demais mecanismos que garantem a estruturação classista brasileira.
Talvez aqui resida o nó mais controverso entre as esquerdas nos últimos anos. Enquanto alguns setores desdenham essas conquistas mínimas, porque não mudam estruturalmente o Brasil, outros as defendem como se tivéssemos solucionado todos os problemas nacionais.
Vivendo na região semiárida há trinta anos, sabemos o quanto essas conquistas do Brasil mínimo foram e são importantes para nosso povo. Afinal, é melhor viver num capitalismo comendo e bebendo que morrendo à míngua de fome e sede, como literalmente acontecia até pouco tempo atrás.
Porém, contentar-se com o que está posto, é contentar-se com a sub cidadania. Chegará a hora, como acontece nas periferias francesas, que essas populações se rebelarão com o mínimo a que foram relegadas, enquanto outros desfrutam de todas as benesses da sociedade moderna.
Ainda mais, com as mudanças nos paradigmas que estamos atravessando, ficará cada vez mais difícil pleitear o consumismo como parâmetro. De alguma forma, teremos que nos contentar com o que é fundamental, com um vida digna, descartando ter como meta a sociedade do luxo e do desperdício.
*Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra.
**Publicado originalmente na edição 415 do Brasil de Fato - http://www.brasildefato.com.br/node/5648.
Superar a fome, a sede, a miséria, sanear as cidades e implantar uma educação e saúde eficientes é possível mesmo dentro de um Estado capitalista. Portanto, por hora nem se discute a implantação de um Estado socialista, com a superação das injustiças estruturais. As próprias políticas do governo Lula, assim como o propósito de erradicação da miséria de Dilma, se dão dentro dos marcos da sociedade atual. Com o potencial de solos, água, sol, minerais e até mesmo tecnológico que temos, são metas que podem ser atingidas até dentro desse modelo.
Claro, por outro lado sobra o Brasil máximo: a renda concentrada, o patrimônio, a propriedade, além da concentração do poder, do saber e demais mecanismos que garantem a estruturação classista brasileira.
Talvez aqui resida o nó mais controverso entre as esquerdas nos últimos anos. Enquanto alguns setores desdenham essas conquistas mínimas, porque não mudam estruturalmente o Brasil, outros as defendem como se tivéssemos solucionado todos os problemas nacionais.
Vivendo na região semiárida há trinta anos, sabemos o quanto essas conquistas do Brasil mínimo foram e são importantes para nosso povo. Afinal, é melhor viver num capitalismo comendo e bebendo que morrendo à míngua de fome e sede, como literalmente acontecia até pouco tempo atrás.
Porém, contentar-se com o que está posto, é contentar-se com a sub cidadania. Chegará a hora, como acontece nas periferias francesas, que essas populações se rebelarão com o mínimo a que foram relegadas, enquanto outros desfrutam de todas as benesses da sociedade moderna.
Ainda mais, com as mudanças nos paradigmas que estamos atravessando, ficará cada vez mais difícil pleitear o consumismo como parâmetro. De alguma forma, teremos que nos contentar com o que é fundamental, com um vida digna, descartando ter como meta a sociedade do luxo e do desperdício.
*Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra.
**Publicado originalmente na edição 415 do Brasil de Fato - http://www.brasildefato.com.br/node/5648.
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