sábado, 23 de novembro de 2013

A favor do tédio - CONTARDO CALLIGARIS


FOLHA DE SP - 21/11

O que é mais 'educativo' para as crianças? A diversão? Ou a chance (forçada) de se entediar?


Alguns livros recentes tratam dos malefícios de nossa constante vontade de encontrar diversões. Como sugere o título de um deles, "The Distraction Addiction", de Alex Pang (Little, Brown and Company), a vontade de se distrair seria um vício, uma forma de dependência.

Também, desde o começo do ano, leio artigos de revista sobre "os surpreendentes benefícios do fato de sentir tédio".

Os livros não me pareceram imperdíveis. E os artigos nas revistas de grande circulação citam "pesquisas" por ouvir dizer. Mas tanto faz. O conjunto manifesta um novo clima, segundo o qual a necessidade de sermos entretidos e estimulados continuamente não tornaria nossa vida mais rica e variada --ao contrário, é possível que essa dispersão empobreça nossa experiência.

Já foi dito por evolucionistas que a sorte de nossa espécie foi sua fraqueza: enquanto passávamos horas a fio escondidos e calados nos arbustos, esperando as feras passarem, a imobilidade e o tédio forçados produziram o surgimento da consciência, do pensamento e da fantasia. Que tal aplicar essa hipótese no campo da educação?

O que é mais "educativo" para as crianças? A diversão? Ou a chance de se entediar?

Umberto Eco atribui ao filósofo Benedetto Croce uma frase que ele cita com frequência: "O primeiro dever dos jovens é o de se tornar velhos". Esse slogan não tem como ser muito popular numa época em que o primeiro dever dos velhos é o de eles parecerem jovens. De fato, nesta nossa época, os adultos não ajudam os jovens a envelhecer; eles preferem mantê-los na mesma criancice que eles desejam para si.

Há pais agentes de viagem e relações-públicas, que, a cada dia, organizam programas "divertidíssimos" para seus rebentos. Esses pais procuram amigos para brincadeiras coletivas e oferecem, a jato contínuo, coquetéis de televisão, cinema, compras, videogames e até livros: qualquer coisa para evitar que a criança conheça a solidão e o enfado. Sabe-se lá quais pensamentos surgiriam numa mente entediada, não é?

Certo, é preciso estimular as crianças para que elas se desenvolvam na interação com o mundo. Mas o problema é que, sem tédio maçante, ninguém, criança ou adulto, consegue inventar para si uma vida interior. E para que serve uma vida interior? Se forem pensamentos aos quais recorremos quando não temos nada para fazer, não é mais simples a gente se manter ocupado e não precisar da tal vida interior?

O problema é que há uma boa parte da vida exterior que, sem vida interior, é totalmente insossa. Tomemos o exemplo do erotismo.

Está aberta até dia 12 de janeiro, no Metropolitan de Nova York, a exposição "Balthus: Cats and Girls" (Balthus: gatos e meninas). O catálogo, com o mesmo título, contém uma excelente introdução da curadora, Sabine Rewald.

Balthus (1908-2001) pintava com frequência gatos e meninas, juntos ou separados. Os gatos são ótimos administradores de seu tédio. Eles sabem se divertir quando a ocasião se apresenta, mas também sabem não fazer nada. Nisso, eles batem os cachorros, que sempre parecem aliviados quando finalmente têm algo para fazer.

Agora, esse dom da gestão do tédio, os gatos têm em comum com as meninas que Balthus pinta, que são todas, antes de mais nada, entediadas.

As longas sessões nas quais posavam para o pintor talvez servissem deliberadamente para produzir o tédio que Balthus queria pintar. Há as meninas quase vencidas pelo sono no meio da leitura, há as que jogam paciência no silêncio palpável da tarde numa casa de província francesa --todas parecem entregues a devaneios inquietantes.

A gente pode se indignar com a diferença de idade entre Balthus e suas modelos adolescentes, mas o fato é que os retratos das meninas são uma extraordinária ilustração de que o tédio e a indolência são as portas que levam aos pensamentos impuros.

Ou seja, é bem provável que a criança entediada tenha uma vida erótica adulta mais interessante do que a criança que cresceu de joguinho em joguinho, de amiguinho em amiguinho, de diversão em diversão.

O que me leva, aliás, a uma suspeita. Os pais que combatem o tédio dos filhos talvez estejam combatendo possíveis "pensamentos impuros" --videogames, filmes, amigos, tablets e futebol, tudo contra o espantalho da masturbação, que espreita a criança entediada e solitária.

Agora, sem pensamentos impuros na criança, o que será o erotismo do adulto no qual essa criança se tornará? Um erotismo sem vida interior, talvez.

FHC: crise e novas ideias - MARIO SERGIO CONTI


O GLOBO - 21/11

Para FHC, o Brasil vive uma profunda crise urbana, e o povo quer mudanças urgentes


“Se tivesse 15 anos a menos, eu seria candidato à Presidência”, disse Fernando Henrique Cardoso durante o almoço. “Viajaria o país inteiro, falaria a pobres e ricos, estudantes e professores, para ouvir, dialogar e agitar ideias, que é o que mais falta hoje no Brasil.” Para o ex-presidente, só com uma discussão séria de novas ideias, ou então com uma crise mais profunda do que a ocorrida em junho, a nação poderá avançar.

Na manhã do almoço, na semana passada, Fernando Henrique Cardoso recebeu exames mostrando que curara a diverticulite que o atacara numa viagem ao Peru. A inflamação intestinal, provocada por alimentos condimentados, derivados de leite e vinho branco, havia sido contraída uma semana antes em Bordeaux, na França, onde comera sempre em restaurantes. O presidente estava mais esguio e com ótima aparência, mas a dieta o levara a marcar a conversa no seu apartamento, em Higienópolis, e a brincar: “hoje não comeremos bem” — o que não foi verdade, felizmente. “Como me sinto disposto, não percebo que tenho 82 anos e preciso diminuir o ritmo das viagens”, disse.

O gume da sua análise continua incisivo. Ele pensa que o sistema político, que trava a modernização republicana, só será reformado devido a pressões vindas de fora. “Os integrantes da política institucional passaram a ter como objetivo único ganhar eleições”, disse. “Há uma exaustão de ideias que precisa ser encarada, e fazer uma campanha presidencial com esse objetivo seria uma contribuição; pena que não tenha mais idade para a empreitada.”

Ele não teme outra crise social. Embora não a deseje, acha que ela será benéfica caso seja radical e tenha consequências. Nos eventos de junho, ficou claro para ele que o Brasil vive uma crise urbana profunda: “Nunca foi tão difícil viver nas metrópoles. Tanto o pobre que anda de ônibus como o rico que fica com o carro retido em engarrafamentos vivem o problema todos os dias. E eles não se sentem representados nem veem como essas dificuldades serão vencidas”.

O seu candidato nas eleições do próximo ano é o do PSDB, Aécio Neves, em quem ele vê um político que sabe mandar e administrar. Fernando Henrique tem bom diálogo com Dilma Rousseff, que o trata com afabilidade. “De vez em quando ela fica de mal comigo pelo que escrevo em jornais, o que é bobagem porque nunca faço ataques pessoais”, disse. “Há pouco ela insistiu que eu fosse à exumação do presidente João Goulart, e infelizmente estou meio de molho e não pude ir.” Quanto a Eduardo Campos, não tem opinião formada.

“As pesquisas atuais mostram que os três candidatos postos galvanizam menos que Lula, Serra e Marina”, afirmou. A questão para todos os candidatos é o que dirão a um povo que quer mudanças urgentes. Seria necessário, no seu entender, que os candidatos elaborassem propostas factíveis para melhorar com rapidez o transporte urbano, o atendimento da saúde e as escolas.

Ele não enxerga no horizonte imediato um tumulto internacional que bata com força no Brasil. “O fim do euro não veio, a economia americana se recupera e a China segue crescendo”, observou. “Ainda assim, ao contrário do que imaginou o governo, a decadência americana não será rápida, e a China levará tempo para adquirir um papel preponderante.”

O presidente pretende se afastar paulatinamente das lides partidárias. Fará isso com o fito de aumentar a sua participação enquanto intelectual público. E está disposto a dizer coisas que, bem sabe, poderão desagradar não só o Planalto como o Congresso, governadores e parlamentares de todos os níveis da federação. “Há fadiga de materiais e interesses encastelados em todos os cantos do Estado”, afirmou. “Para defender mudanças em situações assentadas, é melhor falar de fora, sem se beneficiar com o que aconteça ou deixe de acontecer”, disse.

O debate intelectual de propostas para o Brasil o levará, em médio prazo, a reduzir a interlocução internacional. Ele precisa de mais tempo para pensar e escrever. Só na manhã do almoço, havia recebido telefonemas de Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, da rainha Sílvia, da Suécia, e do filho do empresário mais rico do México, Carlos Slim, os dois últimos de passagem por São Paulo. Fernando Henrique convidou-os a irem à sua casa: “São relações pessoais, fico sem jeito de nem chamá-los para um café”.

FHC fez um pequeno tour de la propriété antes das despedidas. O apartamento tem janelas amplas, que dão para as encostas do Pacaembu e o alto das Perdizes. O mobiliário é de sobriedade modernista e os quadros, de bons pintores nacionais. O escritório é o de um intelectual em ação: computador ligado, livros por todos os cantos e revistas especializadas abertas sobre a escrivaninha.

O Trem Ta Feio - Pena Branca e Xavantinho

http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/pena-branca-e-xavantinho/o-trem-ta-feio/1203303
Disse que aqui mais nada
E de graca, na e de coracao
Vamos num tal de toma-de-la-da-ca
Minha nega eu pago pra ver
Ver por debaixo o osso do angu
Disse que aqui mais nada tem troco
Tudo que vai nao vem
Perdem bodoque,facao-corneta
Quebra a defesa nega fulo
O trem ta feio
E e bem por aqui

Meu facao guarani
Quebrou na ponta,quebrou no meio
Eu falei pra morena que o trem ta feio

E a cana caiana
Eu disse a raiva,a carne de sol
Palha,forro e fumo de rolo
Tudo e motivo pro meu facao
Arma de pobre e fome,e facao
Abre semente,aperta inimigo
Espeta ate gaviao
Corta sabugo e lanca um desafio
E nao conta nem ate tres
O trem ta feio e e bem por aqui.

Meu facao guarani
Quebrou na ponta,quebrou no meio
Eu falei pra morena que o trem ta feio BIS.