quarta-feira, 30 de junho de 2010

Vereadores aprovam aumento progressivo do IPTU para imóveis desocupados

DIVULGAÇÃO
Vereador José Police Neto: projeto defende uso do solo com função social
Proprietários de imóveis fechados ou subutilizados na zona central de São Paulo correm o risco de ver a alíquota do IPTU subir progressivamente até atingir o teto de 15% - hoje, o limite é de 1,8%. O projeto de lei que pretende desestimular a especulação imobiliária foi aprovado ontem na Câmara Municipal e também contempla a região das ZEIS 2 e 3, áreas destinadas a programas de habitação popular.
Dados do IBGE apontam a existência de 400 mil imóveis vazios no centro expandido. Para o autor da matéria, vereador José Police Neto (PSDB), a manutenção de terrenos inativos impede o uso locais para moradia e se assenta, principalmente, na busca pela valorização imobiliária. "Foi um debate aprofundado para que o solo tenha função social, ou seja, para que o imóvel ocioso beneficie a população excluída", afirma o líder do governo na Câmara.
O projeto prevê a notificação dos donos de terrenos sem construção ou com menos de 20% de área utilizada. Imóveis não ocupados também entram na lista. Uma vez avisados, os proprietários terão um ano para se adequarem. Do contrário, a prefeitura irá dobrar anualmente a alíquota do IPTU até o percentual de 15%. Os terrenos que permanecerem desocupados por um prazo de cinco anos poderão ser enfim desapropriados.

As medidas propostas já estavam previstas no Estatuto da Cidade, regulamentado em 2001. Para entrarem em vigor, seguem para sanção do prefeito Gilberto Kassab. "São Paulo será o primeiro município do país a regulamentar este instrumento previsto na Constituição Federal. Será uma forma de ter uma cidade mais justa e sustentável", conclui Police Neto.

| Comentários

SP tem 6º trajeto mais difícil até trabalho, diz estudo

AE - Agência Estado
São Paulo tem o sexto trajeto mais difícil entre a casa e o trabalho, quando comparada a outras 19 cidades dos cinco continentes. A constatação faz parte da pesquisa global IBM Commuter Pain, feita em maio, que ouviu 8.192 motoristas de 18 a 65 anos. Os dados foram compilados em um índice que avalia o custo econômico e emocional dos trajetos.
O estudo reúne informações de grandes metrópoles como Pequim, onde o trajeto apresentou menos obstáculos, e de cidades menores, como Estocolmo, que teve o percurso mais bem avaliado. Na capital paulista, dos 466 motoristas ouvidos, 35% disseram que o trânsito piorou nos últimos três anos, e 26% acham que piorou muito. "Com a economia indo bem, as pessoas querem viajar mais, se mover mais. É preciso tomar medidas urgentes para melhorar o trânsito", diz o diretor de cidades inteligentes da IBM, Pedro Almeida. "Transporte e mobilidade urbana tem de ser prioridade no País, principalmente com a proximidade da Copa 2014."
Sobre os efeitos do trânsito, 73% dos motoristas de São Paulo disseram que ele afeta negativamente a saúde. Desse total, 55% disseram que o estresse aumenta, 37% ficam com raiva, 17% têm problemas respiratórios, 7% sofreram acidentes e 20% tiveram o sono reduzido. O número de dias em que essas pessoas trabalham em casa também foi levantado: 60% trabalham pelo menos um dia por semana em casa.
Os dados sobre foram enviados à Secretaria de Transportes. Em nota, a pasta diz que para comentar a pesquisa "precisaria de mais detalhes, bem como informações sobre a metodologia." Segundo a nota, a política da Prefeitura "é a de investir cada vez mais no transporte público da capital", e a SMT "está trabalhando constantemente para oferecer melhores condições de fluidez e segurança para o tráfego". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 


Lodo de esgoto substitui adubo mineral na cana-de-açúcar

4/6/2010 12:09:30


Por Redação, com Agência USP - de São Paulo


Os solos brasileiros são pobres em matéria orgânica
A utilização de lodo de esgoto na adubação de cana-de-açúcar pode substituir em 100% o uso do adubo mineral nitrogenado necessário para a cultura da planta. Além dos benefícios ambientais e ecológicos, a técnica pode aumentar a produtividade e diminuir custos. Essas são as conclusões da pesquisa coordenada pelo professor Cassio Hamilton Abreu Junior, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba.
Pela vantagem de eliminar ou minimizar o uso de adubos minerais, a utilização do lodo de esgoto no solo brasileiro para fins agrícolas é estudada há quase 30 anos.
– Apesar desse tempo todo de estudo, o assunto é relativamente recente no Brasil quando comparado com EUA, Europa e Ásia, onde a prática é mais antiga , informa Abreu Junior.
Porém, a preocupação do pesquisador do Cena em estudar o assunto ultrapassou o processo de produção agrícola: abordou a contaminação do solo, dos lençóis freáticos e dos próprios alimentos.
Segundo o professor, a atividade humana nas cidades gera dois importantes resíduos: lixo urbano e lodo de esgoto (oriundo do tratamento dos esgotos domésticos).
– Lembrando que os solos brasileiros são pobres em matéria orgânica, a utilização de composto do lixo para fins agrícolas vem sendo difundida por estudos acadêmicos porque, além de rica fonte de matéria orgânica, elimina ou minimiza o uso de adubos minerais –, destaca.
No caso do uso agrícola do lodo de esgoto doméstico, sua aplicação é controlada por autorização da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
– Apesar de o lodo possuir matéria orgânica e nutrientes importantes para o crescimento das plantas como nitrogênio e fósforo, também pode conter patógenos, metais pesados e compostos orgânicos –, explica.
Outra importante vantagem ambiental é o prolongamento da vida útil dos aterros sanitários, destino dos resíduos domésticos.
– Se o lixo e o lodo possuem matéria orgânica e nutrientes benéficos para o solo, além de atenderem as normas para uso agrícola, por que jogar no aterro algo que é nobre? –, questiona Abreu Junior ao se referir sobre os altos custos de implantação de aterros controlados.
– Isso sem contar o impacto ambiental causado por estes locais, que são males necessários. Ninguém quer um aterro perto de casa –, completa.
Os estudos do Cena são conduzidos em plantações de eucalipto em parceria com a empresa Suzano Papel e Celulose. Na cultura de cana-de-açúcar, os testes são em áreas cultivadas do Grupo Cosan. Dados já confirmados nessas culturas dão como certa a capacidade de o lodo substituir o adubo mineral que contém nitrogênio e fósforo.
Os experimentos com cana estão mais adiantados em comparação ao ciclo do eucalipto, que dura sete anos.
– Na cana, há o aumento de 12% da produtividade nos locais que receberam o lodo aplicado como substituto do nitrogênio e complementado com adubo contendo potássio (o lodo é pobre nesse nutriente), conforme a norma do Conselho Nacional do Meio Ambiente[Conama], órgão do Ministério do Meio Ambiente –, esclarece o professor.
– Com relação à cana, podemos afirmar que 100% do adubo mineral nitrogenado que deveria ser aplicado pode ser substituído pelo lodo de esgoto –, afirma o pesquisador, ressaltando que as doses de fósforo são supridas em até 30%.
As pesquisas também indicam outros números promissores quando verificados os efeitos da adubação com a utilização de lodo de esgoto no plantio das árvores. Em eucalipto, esse tipo de adubação substitui totalmente o uso de nitrogênio e supre 66% do fósforo necessário. O pesquisador alerta que os resultados devem ser interpretados com cautela.
– Apesar do volume crescente de estações de tratamento de esgoto, que significa farta abundância deste produto, o lodo deve ser aplicado seguindo os critérios exigidos pela norma do Conama.
Outro subproduto gerado pelas estações de tratamento de esgoto e que pode ser muito utilizado na agricultura é a água residuária, rica fonte de fertirrigação por conter nutrientes.
– O lodo e a água provenientes de estações de tratamento, quando gerados de forma correta, têm uso agrícola interessante. Basta tratá-los de forma adequada. O mais importante é que o esgoto seja urbano e não industrial –, alerta Abreu Junior.
Mais uma vantagem ambiental destas pesquisas são as alternativas para a substituição do fósforo na adubação, material que está se tornando escasso.
– Como as reservas naturais de fósforo tendem a acabar, o estudo visa buscar alternativas ambientais e ecológicas para retornar o nutriente em solos pobres –, conclui.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Governo paulista tenta ressuscitar Emae

Autor(es): Josette Goulart, de São Paulo
Valor Econômico - 29/06/2010
Depois de anos de tentativas frustradas de fazer a Sabesp incorporar os ativos da Emae, o governo de São Paulo tenta agora ressuscitar a empresa de geração por meio de parcerias com sócios público ou privados em novos investimentos. Na semana passada, foi sancionada a lei estadual número 14.150 que permite que a Emae se associe ou crie subsidiárias em sociedade para explorar fontes alternativas ou renováveis de energia. Com isso, a empresa tenta se reerguer depois de anos de prejuízos e receita decrescente.
"A lei marca um novo começo para a Emae", diz o presidente da empresa, Antonio Bolognesi. Algumas parcerias já estão sendo estudadas para dois projetos que juntos vão requerer R$ 1 bilhão de investimentos. O primeiro é a despoluição do rio Pinheiros, que vai permitir que a usina hidrelétrica Henry Borden, que pertence à Emae, possa gerar na média por ano 300 MW a mais do que consegue atualmente. O segundo projeto é para a geração de energia a partir do lixo produzido pelos grandes centros paulistas e que será a alternativa para aterros sanitários, hoje com capacidade esgotada.
A secretária de Energia do Estado de São Paulo, Dilma Pena, diz que deve entregar nas próximas semanas um estudo ao governo federal para que a produção de energia a partir do lixo seja desonerada de PIS, Cofins e IPI. Isso porque esse tipo de energia é ainda muito cara e não encontra compradores. A secretária Dilma foi quem trabalhou para aprovar a lei que permite as parcerias a serem feitas pela Emae. Ela diz que isso não impede que a Sabesp ainda compre a empresa, mas segundo apurou o Valor é pouco provável que as negociações avancem.
Mesmo sem parceria ainda firmada, a Emae quer colocar seu primeiro investimento na rua ainda em 2010, depois de anos de paralisia. A empresa está fechando financiamento com o BNDES para investir R$ 100 milhões na pequena central hidrelétrica de Pirapora com capacidade de 25 MW. A PCH está inscrita no leilão de energias alternativas do governo federal que acontece ainda este ano. "Mas se o preço não estiver bom podemos vender essa energia no mercado livre", diz Bolognesi. Além de Pirapora, a Emae também vai investir R$ 20 milhões na motorização da usina de Edgar de Souza.
O último investimento feito pela empresa foi em 2005, e mesmo assim não muito significativo, segundo conta Bolognesi. Antes disso, investimentos de vulto só foram feitos na década de 60. AEmae surgiu em 1998, a partir da cisão da Eletropaulo nos processos de privatização. A empresa possui quatro usinas hidrelétricas com capacidade de gerar mais de 1.000 MW e uma termelétrica, de Piratininga, com capacidade de gerar cerca de 430 MW e que foi arrendada em 2008 para a Petrobras.
A térmica foi uma das soluções encontradas para resolver parte dos problemas financeiros daEmae. O grande desafio agora é recuperar a capacidade de geração de caixa por meio da usina Henry Borden. A usina consegue gerar apenas 120 MW médios de energia, apesar de ter capacidade de cerca de 800 MW. Isso acontece, segundo explica o presidente da empresa, porque o reservatório Billings está impedido de bombear água suficiente para a usina em função de uma proibição prevista na Constituição estadual. Ela impôs a condição de que a empresa despolua o rio para ter acesso a água que fica no reservatórios. A empresa avalia fazer a flotação do rio, o que vai requerer R$ 600 milhões, mas ainda está em fase de elaboração do estudo de impacto ambiental. A meta é de concluir toda a obra em 2013.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A vida nunca foi tão boa

A vida nunca foi tão boa

Apesar da poluição e da fome persistente, não há como negar que chegamos longe

05 de maio de 2010 | 0h 00
    Michael Shermer - O Estado de S.Paulo
LOS ANGELES TIMES
Virou moda entre ambientalistas de hoje pintar um quadro sombrio de nosso futuro. Embora existam muitas questões ambientais por resolver, muitas espécies ameaçadas, mais poluição do que a maioria de nós gostaria e gente demais passando fome todos os dias, não vamos esquecer de como chegamos longe, tendo começado 10 mil anos atrás.
Naquele tempo, todas as pessoas viviam como caçadoras-coletoras em relativa pobreza comparada com hoje. O quanto elas eram pobres? Se alguém entrar hoje numa aldeia ianomâmi no Brasil - uma boa analogia de como viviam nossos ancestrais - e contar as ferramentas de pedra, cestos, pontas de flecha, arcos, redes de dormir, vasos de cerâmica, outras ferramentas diversas, vários produtos medicinais, bichos de estimação, produtos alimentícios, artigos de vestuário, etc., não contaria mais de 300 artigos. Há 10 mil anos, essa era a riqueza material aproximada de cada aldeia do planeta.
Em contraste, se entrar na aldeia de Manhattan hoje e contar todos os produtos diferentes disponíveis em lojas de varejo e restaurantes, lojas de fábrica e superlojas, terminaria com um número estimado de cerca de 10 bilhões (com base na conta pelo sistema de código de barra UPC). Antropólogos econômicos estimam que a renda anual média de caçadores-coletores tenha sido de cerca de US$ 100 por pessoa e a renda anual média por pessoa em grandes cidades esteja em torno de US$ 40 mil.
Se já houve um grande salto à frente, essa é uma evidência. Eric Beinhocker em seu livro, The Origin of Wealth (A origem da riqueza) estimou que a renda anual de US$ 100 por pessoa só cresceu a cerca de US$ 150 por pessoa até 1000 a. C. e não excedeu a US$ 200 por pessoa até depois de 1750 e o começo da Revolução Industrial . Hoje, a média é US$ 6.600 por pessoa por ano para o mundo inteiro. Claro, a magnitude da riqueza é muito maior para as pessoas mais ricas nos países mais ricos.
Como mostra Gregg Easterbrook em The Progress Paradox (O paradoxo do progresso), nos últimos 50 anos, os padrões de vida aumentaram dramaticamente. O Produto Interno Bruto per capita em 1950, computado em dólares de 1996, era de apenas US$ 11.087, ante US$ 34.365 em 2000.
E mais pessoas estão subindo na hierarquia econômica. Em 2000, um quarto dos americanos ganhava pelo menos US$ 75 mil por ano, o que os situava na classe média alta, em comparação com 1890, quando somente 1% ganhava o equivalente a esse valor. Desde 1980, a porcentagem de pessoas que ganham US$ 100 mil ou mais por ano, em dólares de hoje, dobrou. O que podemos comprar com esse dinheiro também aumentou significativamente. Um cheeseburger do McDonald"s custava 30 minutos de trabalho nos anos 50, três minutos de trabalho hoje.
Também temos mais bens materiais - de veículos a roupas de grife e engenhocas de todo tipo. Isso não é tudo. O crime diminuiu. A maioria das taxas de criminalidade em toda parte despencou ao longo dos anos 90. Os americanos de hoje também têm uma semana de trabalho mais curta, com uma queda acentuada do total de horas trabalhadas nas últimas 15 décadas. Por causa disso, seria perfeitamente são rejeitar uma viagem na máquina do tempo a qualquer ponto do passado. Sem menosprezar problemas que ainda precisam ser resolvidos, é tempo de reconhecer que esta é uma vida melhor para mais pessoas em mais lugares. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É PUBLISHER DA REVISTA "SKEPTIC" E COLUNISTA DA "SCIENTIFIC AMERICAN"V 


terça-feira, 8 de junho de 2010

Cuidar do lixo vale dinheiro



Os aterros sanitários da capital paulista já rendem créditos de carbono.
DC- Kátia Azevedo - 6/6/2010 - 21h34
Agliberto Lima/DC
Com o processo, metano vira dióxido de carbono, menos nocivo, e é gerada energia elétrica.
Vilão de toda grande metrópole, o lixo começa a virar o jogo  em São Paulo, a ponto de se tornar fonte de renda importante para os cofres públicos. Isso graças à comercialização de créditos de carbono.
A operação, que de tão recente ainda causa estranhamento, foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma forma inteligente de combater o aquecimento global. Funciona da seguinte forma: projetos que comprovadamente reduzem a emissão de gases causadores do efeito estufa são recompensados em dinheiro – os tais créditos de carbono, pagos na mesma proporção do poluente que deixou de ser lançado na atmosfera.
Economia aquecida com prejuízo ao meio ambiente? Só pagando.
Para o comprador seria o mesmo que "pagar por vento" não fosse a dura legislação atrelada ao Protocolo no Kyoto, no qual os países signatários se comprometem a reduzir as emissões. Pelas regras, quem descumpre as metas é obrigado a pagar multas pesadas A única forma de evitar a punição  é compensar os danos ao meio ambiente, por meio do financiamento a projetos que impeçam ou, pelo menos, reduzam  a contaminação do ar pelos tais gases, mesmo que isso ocorra em outras partes do planeta.
Nações emergentes como o Brasil têm levado vantagem nesse processo. É que o protocolo ainda não estipulou metas para países em desenvolvimento, por considerar que as grandes potências são as maiores poluidoras do mundo, vorazes no consumo de energia para abastecer a frota de automóveis, usinas e fábricas. Ou seja, quem ainda não encontrou forma de manter a economia aquecida sem prejudicar a natureza tem que pagar por isso.
O bom da história é que o dinheiro é bem empregado, usado para financiar projetos de tecnologia limpa. É nesse ponto que voltamos a São Paulo e ao lixo acumulados nos aterros sanitários São João, em São Mateus, e Bandeirantes, localizado em Perus.
Ao se decompor, as toneladas de lixo acumuladas produzem um dos maiores vilões do aquecimento global, o gás metano que, graças a um projeto da Biogás, passou a ter um destino mais nobre e rentável. A empresa faz a captação por meio de sucção e, em seguida, o gás é queimado. Ao fim do processo, transforma-se em dióxido de carbono (CO2),  bem menos nocivo. De quebra, a combustão ainda produz energia elétrica. São 370 MW/h (megawatts/hora) por ano. Energia que é suficiente para abastecer uma cidade com 700 mil habitantes.
De acordo com a Secretaria do Verde e Meio ambiente, a instalação dessa usina fez com que a cidade reduzisse em cerca de 20% as emissões de gases do efeito estufa. E essa redução rendeu R$ 75 milhões para o município. A quantia foi arrecadada por meio de dois leilões (realizados em 2008 e 2009) de créditos de carbono, o equivalente a quase 808 mil toneladas de dióxido de carbono emitidas no lugar do metano. Esse dinheiro abastece o Fundo Especial de Meio Ambiente (Fema) e é destinado a projetos socioambientais nas regiões do entorno dos aterros, uma forma de compensar a população, por meio da criação de praças, ciclovias e parques.
O valor dos créditos oscila ao ritmo da economia. Com a Europa e os Estados Unidos assolados pela crise em 2009, a produção nas maiores potência caiu e com ela o interesse pelos créditos, já que indústrias menos ativas não poluem tanto. É a lei da oferta e da procura. Por conta disso, as cotações dos créditos que – em 2008 chegaram a ser negociadas por cerca de 19 euros por tonelada – caíram para menos de 10 euros, o que fez a Prefeitura desistir do leilão.
Neste ano, com a recuperação da economia global, o município já planeja uma nova investida. "O próximo leilão deve ser realizado na primavera", diz o secretário Municipal de Finanças, Walter Aluisio Morais Rodrigues. O plano é ofertar cerca de 370 mil toneladas de carbono, que podem render mais 5 milhões de euros aos cofres públicos.
O volume menor de carbono ofertado reflete a redução da queima de metano nos aterros. "A capacidade de produzir metano é limitada. Acredito que no caso do Bandeirantes, já desativado, o lixo decomposto só emita o gás por mais cinco anos", afirma.
Em geral, quem arremata os lotes são bancos estrangeiros, que renegociam os créditos no mercado quando o valor sobe. O comprador final normalmente está localizado em países da Europa. Outro grande interessado é o Japão. Já os EUA, que não se comprometeram em assumir metas, ficam fora do jogo, situação que pode mudar em 2012, quando ocorre nova conferência mundial sobre o tema. 
O diretor da Brazilian Carbon Bureau Julio Tocalino Neto diz que a previsão é de que o novo encontro defina regras ainda mais rígidas contra o aquecimento global, com de redução da poluição também para o Brasil e outros emergentes, como China, México e Índia.
"Esse mercado nunca vai parar. A tendência é que a indústrias se tornem menos poluidoras, e que no decorrer desse processo precisem comprar novos créditos para manter a produção", diz. E acrescenta. "Até 2012, serão injetados U$ 5 bilhões na economia global em função dessas transações. E quem sai na frente leva vantagem, por isso damos consultorias às empresas interessadas em participar."
A medida se justifica uma vez que o processo não é simples. O primeiro passo é apresentar o projeto de redução de emissões para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Uma vez aprovada, a ideia segue para a ONU. Caso também receba o aval internacional, a empresa responsável precisa contratar um escritório especializado, para certificar a redução de emissões. Só após constatada a veracidade do chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), é que o Banco Mundial chancela os créditos, que então podem ir a leilão.
"É um processo muito trabalhoso e burocrático", se queixa o secretário de Finanças. "É por isso que a Prefeitura se uniu à Biogás para seguir adiante com o projeto dos leilões de carbono, referentes aos aterros sanitários", diz. "Como empresa privada, eles têm muito mais agilidade,  e facilidade para fazer contratações."
A Biogás, responsável pelas usinas instaladas nos aterros, coordena todas as etapas e custos da certificação e, em troca, fica com metade dos créditos de carbono resultantes da queima do gás metano. "Temos contrato com um banco estrangeiro, o KfW, que compra nossos créditos e os coloca no mercado à disposição de países mais poluentes", diz o engenheiro da empresa,  Douglas Ramponi. "Recebemos em torno de 10 euros pela tonelada. Aplicamos o dinheiro no aprimoramento de tecnologias limpas. Há ganhos para a empresa e para a comunidade", conclui.
O diretor da  Brazilian Carbon Bureau ressalva que nem todas as empresas têm condições de participar desse novo e rentável mercado. "A ONU só tem interesse em projetos que impeçam a emissão de, pelo menos, 10 mil toneladas de gases do efeito estufa por ano. É coisa pra gente grande."
O detalhe é que o interesse em evitar danos ao meio ambiente cresce, mesmo entre os que não têm o sinal verde daquela organização. É o chamado mercado voluntário.
"Você tem uma indústria, faz um inventário de emissões de gases do efeito estufa e se dispõe a compensar as toneladas de gás nocivo despejadas no ar por meio do plantio de árvores", diz Tocalino Neto. "São as  empresas carbon free, condição que as coloca em vantagem no mercado de ações. Também aí, empresa e meio ambiente saem ganhando."
No Brasil, mais de 700 empresas já apresentaram projetos ao MCT para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Entre elas há gigantes, como Sadia e Perdigão.  "É um esquema engenhoso, na medida em que países comprometidos com metas financiam projetos limpos em outras nações, como o Brasil. Ainda levamos vantagem por usarmos a água para produzir eletricidade, enquanto vários países europeus recorrem a termelétricas, que geram energia por meio de fontes muito mais poluentes como o carvão", diz. "Espero que esse mecanismo tenha vida longa".

Bem-vindo à casa do futuro

Dentro de algumas semanas, jovens estudantes de seis universidades públicas brasileiras começarão a colocar de pé aquela que promete ser a casa do futuro. Ela aliará em 42 metros quadrados de área útil desenvolvimento tecnológico, preocupação ambiental e beleza arquitetônica. Imaginada desde agosto de 2008, a Casa Solar Flex nasce com o objetivo de se tornar uma alternativa sustentável para tempos de aquecimento global. Sua autossuficiência em energia, obtida dos raios solares, poderá ser usada para alimentar a rede elétrica das nossas cidades e ajudará a reduzir a necessidade de fontes energéticas caras e poluidoras. 

A residência é resultado do trabalho de uma equipe multidisciplinar formada por alunos de graduação e pós-graduação de arquitetura, engenharia, design e marketing da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Eles se uniram há dois anos depois de participar de um concurso no qual o desafio era pensar uma moradia ecologicamente correta, inovadora e capaz de ser instalada em diferentes tipos de climas e regiões. As melhores propostas foram reunidas num projeto único que originou a Casa Solar Flex. 
Concebida sob a supervisão de professores e especialistas, ela está dividida em três partes: uma área técnica, onde se concentram os elementos elétricos, hidráulicos e de ar-condicionado; uma segunda parte, em que ficam o quarto, a cozinha e o banheiro; e uma terceira, que compreende a sala de estar. Seu espaço interno pode ser moldado de acordo com as necessidades do morador e as paredes e móveis são feitos de madeira de reflorestamento. Na fachada, há painéis fotovoltaicos que captam os raios do Sol e produzem energia. Eles podem ser movimentados automaticamente de acordo com a incidência da radiação solar. No telhado, elaborado por uma das empresas patrocinadoras do projeto, encontram-se fixados mais painéis. No total, 64 placas são utilizadas, 48 somente na cobertura. Além de suportar o peso das placas, o telhado possui um sistema de passarelas que permite ao morador limpá-las com segurança – o acúmulo de poeira pode diminuir a eficiência de produção de energia dos equipamentos. 

No Brasil, ainda não existem painéis fotovoltaicos como os utilizados no projeto. Eles são considerados os melhores e mais caros do mercado. Lucas Sabino Dias, estudante da UFSC, diz que a casa foi concebida segundo a realidade climática europeia. Adaptada ao clima brasileiro, a residência não precisaria de placas tão eficientes, o que baratearia os custos. Estima-se que o valor de construção do metro quadrado da Casa Solar Flex seja de cerca de R$ 11 mil reais. “É importante lembrar que fizemos uma Ferrari da arquitetura”, afirma Arthur Lins, aluno da UFSC. “Utilizamos tecnologias de ponta e componentes de alto desempenho, muitos dos quais ainda não difundidos no mercado.” A Casa Solar Flex pretende, portanto, fornecer novos conceitos para a construção civil. 

Cada painel fotovoltaico utilizado no projeto produz 100 watts de energia por metro quadrado de área de placa – cada placa tem, em média, 2 metros quadrados. Essa eletricidade poderá ser injetada diretamente na rede de abastecimento das cidades. A empresa de distribuição de energia recebe a eletricidade gerada ao longo do dia pelos painéis e supre a casa nos momentos em que ela não produz nada. “Para isso funcionar no Brasil, é preciso haver uma regulamentação específica sobre a conexão de residências desse tipo com a rede”, diz Cláudia Andrade Oliveira, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e uma das coordenadoras do projeto. “Em um futuro nem tão distante, além de não pagar pelo consumo de energia, será possível até ganhar dinheiro com a casa”, afirma Lucas. Isso quer dizer que o morador poderá deixar de comprar energia elétrica e obter receita, o que já acontece na Europa.
Pioneirismo

Divulgação
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Foto dos estudantes que participam do projeto da Casa Solar Flex tirada em setembro de 2009. Em pé (da esquerda para a direita): Vinicius Libardoni, Fernanda Antônio, Fernanda Kemeid, Yuri Kokubun, Ananda Galvão, André Nobre, Romullo Baratto, Arthur Lins, Caique Schatzmann, Erik Yassuo Yuki , Fábio Lofrano, Cauê Carneiro e Hugo Narumiya. Sentados (da esquerda para a direita): professora Cláudia Andrade Oliveira, Daniel Winnik, Lucas Dias, Gregory Valente, Suzana Bozza, Juliana Albuquerque, Diego Tamanini, André Montes, Andréa Haritçalde e Bruna Maurélio
Outras inovações do projeto estão nos sistemas de iluminação, controle de temperatura, água e esgoto. A casa é iluminada por um sistema de LED (chamado também de diodo emissor de luz, porque a emite quando energizado), em que é possível mudar sua tonalidade. O conforto térmico é mantido por meio de um aerogel, colocado dentro das paredes, por um sistema de ar-condicionado e pelo uso de vidros duplos preenchidos com um gás. Esse tipo de vidro é de baixa emissividade, deixando passar a luz e barrando os raios infravermelhos. No banheiro, é utilizado o vaso seco, sistema pouquíssimo comum no Brasil. Ele faz a compostagem dos dejetos que podem ser eliminados diretamente na terra, sem causar impactos no solo. A casa precisa ser alimentada pela rede de abastecimento de água, mas possui um sistema capaz de armazenar a água da chuva e realizar um tratamento mínimo. Para esquentar a água que sai do chuveiro e das torneiras, há dois painéis fotovoltaicos. 

Mais do que uma residência que agrega tudo o que há de high tech na construção civil, a Casa Solar Flex é um trabalho pioneiro no meio acadêmico brasileiro. Pela primeira vez, seis universidades públicas formaram uma equipe de estudos que pretende transformar o modo como as casas são pensadas no país. “Esse projeto é inovador porque partiu de uma vasta pesquisa de materiais que considerou o desempenho técnico, construtivo e de segurança conforme as regras da ABNT e da Norma Europeia”, diz Rúbia Eucaristia Barreto, doutoranda responsável pela área de gestão de risco. “Algo que não acontece normalmente.” 

Aliado a isso, está o ganho profissional dos estudantes. Os alunos, muitos deles de graduação, puderam vivenciar todas as etapas da concepção da residência, uma experiência que não teriam em suas faculdades. Para isso, deslocaram-se de seus Estados de origem até São Paulo, onde a casa será erguida, e participaram de um intercâmbio acadêmico na USP. “Aprendemos a desenvolver uma arquitetura mais eficiente do ponto de vista energético e que respeita o meio ambiente”, afirma Fernanda Antônio, estudante da UFRGS. “Uma experiência única em nossa trajetória profissional.” Agora que o trabalho chega a sua etapa final, os estudantes pretendem rodar com a Casa Solar Flex por diferentes Estados brasileiros e mostrar para a população como será morar bem e com consciência ambiental.
Faça seu comentário  |  Leia os comentários  |  Compartilhe  |  Imprimir  |  RSS  |  Celular  |  

Governo desenvolve maior projeto de água de reúso do Hemisfério Sul

fonte: Portal do Governo de S. Paulo

O governador Alberto Goldman apresentou o projeto Aquapolo, dedicado à produção de água de reúso para fins industriais, tendo como insumo o esgoto tratado. Capacitado para produzir mil litros por segundo (l/s) de água de reúso, o empreendimento, inédito no Hemisfério Sul e o 5º maior do mundo, abastecerá o Polo Petroquímico do ABC paulista.

Por meio de um contrato que se estende até 2043, e com investimentos de cerca de R$ 252 milhões, as obras foram iniciadas em abril e o fornecimento de água de reúso está previsto para começar 21 meses após a concessão de todas as licenças. Para levar a água de reúso gerada para o Polo Petroquímico, será construída uma adutora de aço com 17 km de extensão, que passará pelos municípios de São Caetano do Sul e Santo André até chegar ao Pólo em Mauá. Durante a fase de implementação, serão gerados cerca de 800 postos de trabalho.


"Nós vamos fazer muito mais do que isso, de maneira que, nos próximos anos, não tenhamos nenhuma preocupação em relação a água que nós precisamos. A água potável que nós precisamos nós vamos ter porque estamos reaproveitando bem a água que já estamos usando", disse o governador Alberto Goldman.

O projeto também contempla a construção de uma Estação de Tratamento Terciário em uma área de 15 mil m² dentro da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) ABC, da Sabesp, localizada na divisa entre os municípios de São Paulo e São Caetano do Sul. Com isso, a oferta de água tratada para a Região Metropolitana de São Paulo será ampliada. O volume de água de primeiro uso que deixará de ser consumido pelas indústrias é suficiente para abastecer continuamente uma população de 350 mil habitantes, com capacidade para chegar a 600 mil, caso seja estendido a outros clientes.

Água de reúso

Embora não seja potável para beber, a água proveniente do tratamento de esgotos pode ser utilizada para resfriamento de equipamentos, limpeza de ruas, rega de jardins, geração de energia ou em outros processos industriais. Desde a década de 80, a Sabesp recicla a água nas próprias instalações.

Cada litro de água reutilizado corresponde a um litro de água disponível para o abastecimento público, contribuindo para a preservação dos recursos hídricos, bem como redução de custos tarifários a prefeituras, comércio e indústria.

O volume disponível é armazenado e posteriormente retirado por caminhões- tanques ou distribuído por tubulações apropriadas. Atualmente, na Região Metropolitana de São Paulo, são reaproveitados 948 milhões de litros de água por ano. Os custos são reduzidos e variam de R$ 0,48 por mil litros para órgãos públicos e R$ 0,81 por mil litros para empresas privadas.

A primeira estação a oferecer água de reúso foi a de Jesus Neto, na região da Mooca, na capital. As prefeituras de São Caetano, Barueri, Carapicuíba, Diadema e São Paulo também compram a água de reúso para limpeza das ruas, após as feiras livres, rega de jardins.


Ganhos socioeconômico e ambiental

Para dar conta de sua demanda de água de 650 litros por segundo, a área em torno do Polo Petroquímico do ABC capta parte desse volume (500 l/s) do Rio Tamanduateí, tratando o recurso ETE própria. Outros 150 l/s são fornecidos pela rede de abastecimento pública, por meio das estações de tratamento de água (ETA's) Taiaçupeba e Casa Grande, da Sabesp.

Além do ganho ambiental, o Aquapolo proporcionará que o Governo do Estado, por meio da Sabesp, aumente a oferta de água tratada à população da Grande São Paulo. Além de fornecer água de melhor qualidade que o efluente tratado no Rio Tamanduateí, o Aquapolo fará com que o Polo Petroquímico deixe de captar água de suas fontes atuais, economizando mensalmente um volume de 1,684 bilhão de litros de água, o que corresponde a mais de 670 piscinas olímpicas.