segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

o presente infindável


O presente infindável

Frei Betto *

Adital - No século XX, a arte cinematográfica introduziu um novo conceito de tempo. Não mais o conceito linear, histórico, que perpassa a Bíblia e, também, as obras de Aleijadinho ou Sagarana, de Guimarães Rosa. No filme, predomina a simultaneidade. Suprimem-se as barreiras entre tempo e espaço. O tempo adquire caráter espacial, e o espaço, temporal. No cinema, o olhar da câmara e do espectador passa, com toda a liberdade, do presente para o passado e, deste, para o futuro. Não há continuidade ininterrupta.
A TV, cujo advento ocorreu no fim da década de 1930, leva isso ao seu paroxismo. Frente à simultaneidade de tempos distintos, a única âncora é o aqui-e-agora do (tele)espectador. Não há durabilidade nem direção irreversível. A linha de fundo da historicidade - na qual se apóiam o relato bíblico e os paradigmas da modernidade, incluindo um de seus frutos diletos, a psicanálise - dilui-se no coquetel de eventos onde todos os tempos se fundem. Dercy Gonçalves está morta e, sobre sua tumba, os clipes a exibem viva, interpretando sua personagem irreverente e desbocada.


Aos poucos o horizonte histórico se apaga como as luzes de um palco após o espetáculo. A utopia sai de cena, o que permite aos filósofos da desgraça vaticinarem: "A história acabou". Ao contrário do que adverte Coélet, no Eclesiastes, não há mais tempo para construir e tempo para destruir; tempo para amar e tempo para odiar; tempo para fazer a guerra e tempo para estabelecer a paz. O tempo é agora. E nele se sobrepõem construção e destruição, amor e ódio, guerra e paz.A felicidade, que em si resulta de um projeto temporal, reduz-se então ao mero prazer instantâneo, epidérmico, derivado, de preferência, da dilatação do ego (poder, riqueza, fama etc.) e dos "toques" sensitivos (ótico, epidérmico, gustativo etc). A utopia é privatizada. Resume-se ao êxito pessoal. A vida já não se move por ideais nem se justifica pela nobreza das causas abraçadas. Basta ter acesso ao consumo que propicia valor e conforto: uma boa posição social, a casa na praia ou na montanha, o carro de luxo, o kit eletrônico de comunicações (telefone celular, computador etc.), as viagens de lazer. Uma ilha de prosperidade e paz imune às tribulações circundantes de um mundo movido à violência. O Céu na Terra - prometem a publicidade, o turismo, o novo equipamento eletrônico, o banco, o cartão de crédito etc.
Nem a fé escapa à subtração da temporalidade. O Reino de Deus deixa de situar-se "lá na frente" para ser esperado "lá em cima". Mero consolo subjetivo, a fé reduz-se à esperança de salvação individual.
Graças às novas tecnologias de comunicação, agora o tempo está confinado ao caráter subjetivo. Experimentá-lo é ter uma consciência tópica do presente. Se na Idade Média o sobrenatural banhava a atmosfera que se respirava e, no Iluminismo, a esperança de futuro justificava a fé no progresso, agora importa o presente imediato. Busca-se, avidamente, a sua perenização. Somos todos eternamente jovens, cultuamos o corpo como quem sorve o elixir da juventude. Morreremos todos saudáveis e esbeltos...
Pulverizam-se os projetos nesse tempo cíclico, onde no mesmo rio corre sempre a mesma água. Outrora, havia namoro, noivado e casamento. Agora, fica-se. Após anos de casado, pode-se voltar ao tempo de namoro e, de novo, ao de casado.
A destemporalização da existência alia-se à desculpabilização da consciência. Uma mesma pessoa vive diferentes experiências sem se perguntar por princípios éticos, políticos ou ideológicos. Não há pastores e bispos corruptos e utopias que resultaram em opressão? A TV não mostra o honesto de ontem pilhado na vigarice de hoje? O bandido não faz gestos humanitários? Onde a fronteira entre o bem e o mal, o certo e o errado, o passado e o futuro?
"Tudo que é sólido se desmancha no ar" irrespirável dessa pós-modernidade, cuja temporalidade fragmenta-se em cortes e dissolvências, close-ups e flash-backs, muitas nostalgias (vide a bossa nova) e poucas utopias.
Se há algo de positivo nessa simultaneidade, nesse aqui-e-agora, é a busca da interioridade. Do tempo místico como tempo absoluto. Tempo síntese/supressão de todos os tempos. Eis que irrompe a eternidade - eterna idade. Pura fruição. Onde a vida é terna.
Nas artes, música e poesia se aproximam, de modo exemplar, dessa simultaneidade que volatiliza o tempo, imprimindo-lhe caráter atemporal. Na música, nossos ouvidos captam apenas a articulação de umas poucas notas. No entanto, perdura na emoção a lembrança de todas as notas que já soaram antes. Em si, a melodia é inatingível, assim como o poema, uma sucessão rítmica de sílabas e palavras sutis. O que existe é a ressonância da nota e da palavra em nossa subjetividade. Então, a seqüência se instaura em nós. Não é o tempo fatiado em passado, presente e futuro. É o presente infindável. O tempo infinito. Como no amor, em que o cotidiano é apenas a marcação ordinária de uma inspiração extraordinária.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Lixo, o que fazer com ele?

Lixo, o que fazer com ele?

set/08 
29
por Luiz Fernando do Valle 

A sociedade moderna produz por dia quantidade incalculável de lixo, sem nunca ter definido o que faria com essa montanha de resíduos. Durante anos foi mais cômodo jogar o lixo para debaixo do tapete, servindo para isso qualquer lugar longe dos olhos de quem o produziu.

Poderia ser a periferia mais pobre, ou o município vizinho, ou mesmo países miseráveis com governos corruptos, que aceitam por desconhecimento ou ignorância receber essa bomba-relógio em seu território.

Vários tipos de lixo já se tornaram problemas insolúveis em vários países. Há poucos meses vimos pela televisão a cidade de Nápoles, na Itália, com lixo pelas ruas com a prefeitura sem saber o que fazer, e a população desesperada e revoltada com essa situação absurda.

Produzimos milhões de baterias e pilhas por dia que são extremamentetóxicas e não deveriam ser jogadas nos lixões ou aterros sanitários, pois poluem o meio ambiente com os seus metais pesados. Porém, muitas pessoas continuam a jogar esses objetos na lata de lixo de sua residência, por desconhecimento ou preguiça.

lixo é o resultado final da utilização de algum bem. Este pode ser dos mais variados tipos de materiais, formatos, tamanhos, utilidades, sólido, líquido ou gasoso, tóxico, inerte, orgânico, inorgânico, etc. Cada um com um grau diferente de problema gerado para o meio ambiente, mas sem dúvida todos são passivos ambientais a serem tratados. Os índices de contaminação em todos os meios, ar, água e solo, são alarmantes e extremamente preocupantes.

Acostumamos-nos a viver cercados por lixos ou sobras do que não usamos que viram lixo também, dentro e fora de nossas residências, e nem percebemos. Se percebemos não nos importamos. Compramos mais do que necessitamos, guardamos o que não terá utilidade, consumimos de forma desenfreada. E para onde vai tudo isso? Para o lixo, é claro.

A humanidade tornou-se uma geradora compulsiva de lixo. Tudo em algum momento vira lixo. Demandamos muita matéria-prima e energia do meio ambiente e devolvemos como lixo de volta para o mesmo meio ambiente. É uma troca injusta e desequilibrada. Em algum momento teremos que pagar essa conta.

Hoje muito se discute sobre as melhores formas de tratar ou eliminar o lixo, seja ele industrial, comercial, doméstico, hospitalar, nuclear, tecnológico, entre outros que surgem a todo o momento.

Todos esses tipos de lixo são resultado do estilo de vida da sociedade contemporânea. Para alterarmos esse processo será necessário mudar a postura e o comportamento das pessoas, e isso só será possível com conscientização em massa.

Os nossos hábitos estão mais sofisticados, novos equipamentos são desenvolvidos todos os dias para atender as necessidades que não tínhamos, mais e mais somos desafiados a precisar e consumir, e cada novo equipamento recém-lançado inviabiliza o seu antecessor. Estamos gerando um novo tipo de lixo, o tecnológico, próprio de sociedades ricas e altamente consumistas.

As indústrias estão sendo responsabilizadas e chamadas a ajudar a resolver esse imbróglio criado por elas mesmas. A ganância por faturar mais as tem levado a produzir e vender o desnecessário e supérfluo, que não deveria fazer parte de nossas vidas.

A solução para esse problema está longe de ser alcançada. Ela passará por decisões difíceis e contrariará interesses de grandes conglomerados, poderosos e com lobbys fortes e atuantes, mas não temos muito mais tempo.

Corremos o risco de assistir, no mundo real, a história do filme da Disney, que narra a epopéia do robozinho WALL.E, deixado na Terra juntamente com outras máquinas para limpar a lambança feita pelos homens civilizados. O que se passou com essas pessoas e a situação em que encontraram suas casas no retorno à Terra podem ser um prenúncio de nosso futuro.

Sem solucionar o problema do lixo jamais construiremos uma civilização sustentável.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

página-título, uma inspiração


Jorge Da Capadocia
Jorge Ben Jor
Composição: Jorge Ben Jor
Jorge sentou praça na cavalaria. E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia. Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge. Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem. Para que meus inimigos tenham mãos, não me toquem. Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam. E nem mesmo pensamento eles possam ter para me fazerem mal. Armas de fogo,meu corpo não alcançará. Espadas, facas e lanças se quebrem, sem o meu corpo tocar. Cordas, correntes se arrebentem, sem o meu corpo amarrar.Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge. Jorge é de Capadócia, viva Jorge!Jorge é de Capadócia, salve Jorge!Perseverança, ganhou do sórdido fingimento. E disso tudo nasceu o amor.Perseverança, ganhou do sórdido fingimento. E disso tudo nasceu o amor.Ogam toca pra Ogum.Ogam toca pra Ogum.Ogam, Ogam toca pra Ogum.Jorge é da Capadócia.Jorge é da Capadócia.Jorge é da Capadócia.Jorge é da Capadócia !