quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Ricos ganham 36 vezes mais que os pobres. OESP



Estudo do IBGE mostra que metade dos 88,9 milhões de trabalhadores que recebia os piores salários tinham renda média de R$ 747






Daniela Amorim, O Estado de S.Paulo
29 Novembro 2017 | 10h55
RIO - O retrato da desigualdade de renda no Brasil em 2016, quando a recessão ainda estava a pleno vapor, mostra que a metade do total de 88,9 milhões de trabalhadores que recebia os piores salários registrou renda média de R$ 747, cifra abaixo do salário mínimo daquele ano, de R$ 880 – hoje, o mínimo está em R$ 945,80. Na outra ponta, o 1% dos trabalhadores no topo da pirâmide tinha renda média mensal de R$ 27.085, 36,3 vezes mais do que a metade mais pobre no País.

Desigualdade
Apesar da evolução ao longo das últimas décadas, o Brasil ainda apresenta um quadro de desigualdade extrema Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO
Os dados, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), foram divulgados nesta quarta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por causa de mudanças metodológicas, o IBGE não fez comparação de 2016 com outros anos, portanto, não foi possível medir o peso da recessão sobre a desigualdade, embora outros estudos apontem que a disparidade de renda subiu com a crise.
Entre os 5% de brasileiros com menores salários, a renda média era de R$ 73 mensais. Segundo o IBGE, 4,445 milhões de trabalhadores estão nessa condição. “O Brasil é um dos países onde a desigualdade é das maiores do mundo. País nenhum vai crescer com base numa plataforma tão desigual”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.



Quando considerada a renda per capita de todas as fontes, e não apenas do trabalho – nesse cálculo, a renda disponível, incluindo aposentadoria e transferências de renda, é dividida por todos os moradores da casa, como crianças e idosos –, o rendimento médio de 2016 foi de R$ 1.242, contra uma renda média de R$ 2.149 se considerados apenas os trabalhadores.
Os 5% mais pobres pela ótica da renda domiciliar per capita ganhavam R$ 47,00. Como o IBGE estimou a população total em 205,4 milhões de habitantes em 2016, são 10 milhões de pessoas vivendo assim. A pobreza era ainda mais aguda no Norte e Nordeste. Lá o rendimento domiciliar per capita médio dos 5% mais pobres foi de R$ 38,00 e R$ 33,00, respectivamente.
Desigualdade. Segundo Marcelo Neri, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), a desigualdade aumentou em 2016 e 2017.
Embora os dados do rendimento de todas as fontes divulgados pelo IBGE não sejam comparáveis, cálculos de Neri com a renda do trabalho apontam que o índice de Gini avançou 1,2% em 2016. Nos três primeiros trimestres de 2017, cresceu 1,58% ante igual período de 2016.
“Aumentos no índice de Gini em dois anos seguidos não aconteciam desde 1989”, afirmou Neri, lembrando aquele ano foi marcado pela hiperinflação.
Segundo o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, mesmo que os dados da Pnad Contínua não possam ser comparados com outros anos, há outros indicadores que revelam o aumento da desigualdade na recessão. “É um processo natural em épocas de crise econômica. O aumento do desemprego afeta mais a base da pirâmide”, disse.
“A crise afeta o mercado de trabalho e o trabalho tem na composição da renda um peso importante”, disse Azeredo, do IBGE.

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